A invasão da AI
Encontrar o equilíbrio certo entre a tecnologia e a tradição é um desafio constante para o mundo do Futebol
Um tema que tem sido bastante falado ao longo deste ano de 2023 e que vai dar que falar durante muitos mais anos, porque cada vez mais esta nova tecnologia vai ser usada e abusada, é a IA (Inteligência Artificial) ou AI (Artificial Intelligence), para quem for mais internacional e gostar dos termos em inglês.
Todos sabemos que a conhecida AI tem vindo, gradualmente, a entrar no dia-a-dia da população mundial, seja no âmbito do trabalho profissional ou universitário, seja na indústria da música, ou até no desporto. E é exatamente neste último, mais especificamente no Futebol, que esta tecnologia tem vindo a ganhar peso. Começou como uma mera ferramenta que auxiliava os clubes nalguns testes físicos, para passar depois a ser imprescindível dentro das quatro linhas, quando em 2016 foi aprovada a sua utilização pela Internacional Football Association Board (IFAB), órgão que determina as regras do “beautiful game”.
Atualmente já não se pode negar as evidencias. A AI está (e vai continuar) a dominar todas as áreas da vida quotidiana, assim como quase todas as áreas do Futebol profissional.
Algumas destas áreas são, por exemplo:
Análise do desempenho dos jogadores, onde os algorítmos de AI processam grandes quantidades de dados sobre jogos, sessões de treino e muito mais, fornecendo informações valiosas aos treinadores e analistas. Esta abordagem ajuda estes profissionais a avaliar os pontos fortes e fracos dos seus jogadores, a acompanhar a sua condição física e a sugerir estratégias para uma melhoria mais consistente da sua performance. Este software consegue ainda monitorizar os dados físicos dos jogadores e detetar sinais precoces de fadiga ou potenciais lesões.
Análise técnico-tática, onde os sistemas de AI podem decompor os jogos ao pormenor de modo a fornecer informações técnicas e táticas, que anteriormente eram impossíveis de obter. Agora, os treinadores utilizam a AI para identificar os padrões de jogo dos adversários, conceber estratégias que consigam contornar as táticas do adversário e otimizar o desempenho da sua própria equipa.
Aperfeiçoamento das sessões de treino, onde os exercícios se estão a tornar cada vez mais sofisticados com a utilização de simulações geradas por AI para criar cenários de jogo específicos para os jogadores praticarem e para os ajudar a se adaptarem a situações de jogo reais.
Previsão do desempenho das equipas, onde a AI consegue prever o resultado de futuros jogos, com base em dados de jogos anteriores, estatísticas dos jogadores e muitos outros factores. Estas previsões são utilizadas pelos adeptos, pelos Media, principalmente, e pelas casas de apostas, acrescentando uma camada extra de entusiasmo e ânsia pelos jogos que aí vêm.
Mais recentemente, pudemos ver mais uma intervenção da AI no Futebol internacional, quando esta tecnologia se veio aliar ao scouting de jovens jogadores pelo mundo fora. Hoje, os dirigentes e/ou olheiros dos grandes clubes europeus já não precisam de se deslocar à cidade ou zona onde o atleta joga, para verificar o valor e a qualidade desse mesmo atleta, nem de confiar em olhos alheios.
Por exemplo, atualmente, cada jogo ou treino das 25 principais academias de alguns clubes em África são “vigiados” por uma espécie de “Big Brother”. Eyeball, um sistema já utilizado por AC.Milan, Sporting, Benfica, entre outros, conta com uma câmera de alta resolução elevada suficientemente alto, relativamente ao relvado, para obter ângulos de 180 graus que permitam uma boa performance por parte da AI, de modo a conseguir ler, interpretar e armazenar, numa base de dados, todas as ações e estatísticas de jovens promissores. Agora, os olheiros dos maiores clubes europeus podem observar, analisar e escolher que jogador acham que lhes será mais valioso e que trará mais valor para o clube, isto tudo sem sair do seu confortável escritório, sem precisar de gastar nem tempo, nem dinheiro em viagens.
Claro que estas plataformas vêm facilitar (e muito) o trabalho dos olheiros ou scouters profissionais, que antes se tinham que deslocar fisicamente para os locais onde os jogadores ou as equipas de juniores estariam a jogar. Mas vamos ter sempre a outra face da moeda: Será que estas plataformas são assim tão accurate ao ponto de conseguirem ver todos os atributos de um jogador?
Porque como sabemos, por muito desenvolvida que seja qualquer destas plataformas, há uma coisa que a AI (Artificial Intelligence) nunca, ou muito dificilmente, vai conseguir reproduzir - a sensibilidade de um olheiro que, estando fisicamente presente num campo, olha para um miúdo a jogar e consegue ver o seu verdadeiro potencial, prever quase toda a sua carreira e, de facto, identificar-se pessoalmente com o jogador, no caso de querer ter alguma abordagem para uma possível futura contratação.
Encontrar o equilíbrio certo entre a tecnologia e a tradição é um desafio constante para o mundo do Futebol.
Uma coisa é certa, a AI, por muito boa reputação que tenha ganho pelo seu desempenho e qualidade de performance perfeitas, NUNCA, mas mesmo NUNCA vai conseguir substituir os nossos jogadores. O seu talento imperfeito, a beleza de cada pormenor que, por mais arriscado que seja, é natural, é imprevisto, é humano. E, no final do dia, é isso que nós amamos no Futebol.
Mas num Universo alternativo, talvez possa acontecer…
Afonso de Oliveira e Silva
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