A Origem do Futebol de Seleções
O futebol de seleções tem já uma longa vida. Os habituais torneios de verão e as aborrecidas paragens nos campeonatos nacionais ajudaram e ajudam a marcar a identidade do desporto-rei.
O futebol é um desporto que, após uns séculos de experiências a humanos chutarem uma bola de formas diferentes, se profissionalizou em terras de Sua Majestade. Em Sheffield, esta era uma modalidade que tinha caraterísticas bastante diferentes daquelas que conhecemos hoje. É normal, já que o primeiro jogo de sempre, embora não haja um grande conhecimento de causa, foi realizado no início da década de 1860. Na altura, segundo algumas fontes, as regras eram bem distintas. Entre outras diferenças relativamente à atualidade, constava a não existência de foras de jogo, o facto de empurrões não serem punidos com falta e de haver 16 jogadores em cada lado. Contudo, após a criação da F.A (The Football Association, entidade que controla o futebol em Inglaterra) em 1863, o desporto-rei começou a aproximar-se da identidade dos dias de hoje.
O primeiro duelo de seleções ocorreu a 30 de novembro de 1872. Disputado no Hamilton Crescent, em Glasgow, o agora campo de críquete reuniu cerca de 4 mil espectadores que pretendiam seguir o embate entre Escócia e Inglaterra. Curiosamente, esse foi um jogo que terminou empatado sem qualquer golo marcado. Em 1884, surgiria o British International Championship, competição que contava com a participação das seleções inglesa, irlandesa, escocesa e galesa. Na primeira edição do torneio, a Escócia foi a grande campeã, vencendo todos os 3 jogos que realizou. Num tempo em que cada vitória valia apenas 2 pontos, a classificação final foi a seguinte: Escócia com 6 pontos; Inglaterra com 4 pontos; Gales com 2 pontos; Irlanda com 0 pontos. De realçar que a competição referida durou exatamente 100 anos, extinguindo-se no ano de 1984.
O primeiro Campeonato do Mundo de futebol foi no Uruguai, em 1930, terminando com a vitória da equipa da casa. Até à sua realização, os Jogos Olímpicos eram a principal competição de futebol de seleções. Aquando da sua inclusão nas Olimpíadas de 1900, em Paris, as seleções de Inglaterra, Escócia, Irlanda e Gales uniram-se, de modo a representar o Reino Unido, e venceram a competição. Contudo, a integração do futebol nesta competição não foi nada fácil, uma vez que os Jogos Olímpicos de Paris contaram com a participação de apenas 3 equipas. Porém, em 1908, com a concretização deste evento em Londres, o futebol dava um passo enormíssimo na sua afirmação, começando a construir o legado dos tempos atuais. Após a criação da FIFA, a entidade basilar do futebol, houve a necessidade de se criar um torneio específico para promover e a autonomizar a modalidade, criando-se o Mundial de seleções. Curiosamente, nenhuma das equipas que disputava o British International Championship participou em qualquer Campeonato do Mundo até 1950.
Portugal entrou em cena mais tarde, disputando o seu primeiro encontro internacional diante da Espanha, a 18 de dezembro de 1921, no campo pelado Martínez Campos, em Madrid. Augusto Sabbo, que, naquele tempo, treinava o Sporting CP, foi o responsável pela convocatória, mas não viria a dirigir a armada portuguesa no duelo ibérico. Tal se deveu à polémica chamada de Francisco Pereira, atleta d’ Os Belenenses. Contestado pelos meios de comunicação social e pela opinião pública, o jogador dos azuis do Restelo renunciou à seleção, seguindo-se Artur José Pereira- seu irmão- e Alberto Rio, que, sendo colegas de equipa de Francisco, ficaram descontentes com as críticas feitas. Após toda essa polémica, Sabbo deixaria o comando técnico de Portugal.
Para a equipa técnica da seleção portuguesa foram chamadas figuras importantes da AF Lisboa, pelo que Carlos Vilar sucederia a Augusto Sabbo enquanto treinador da formação lusa. Por considerarem descarada a influência da capital na constituição da equipa portuguesa, os clubes da AF Porto indignaram-se, acreditando tratar-se de uma questão de centralização. Para além disso, o único jogador de um clube do norte do país a ser convocado foi Artur Augusto. O FC Porto, clube onde Artur atuava, defendia a tese de que o mesmo só tinha sido chamado para o jogo frente à Espanha por ser natural de Lisboa, tentando impedir que o jogador se juntasse aos comandados de Vilar. Todavia, Artur Augusto, confrontando os interesses dos dragões, juntar-se-ia à equipa do país de Camões.
No que à história do jogo em si diz respeito, o primeiro 11 inicial de Portugal teve como protagonistas: Carlos Guimarães (guarda-redes do CIF); Jorge Vieira (Sporting CP); António Pinho (Casa Pia); Artur Augusto (FC Porto); Vítor Gonçalves (SL Benfica); Cândido de Oliveira (capitão da seleção e jogador do Casa Pia); João Francisco Maia (Sporting CP); José Gralha (Casa Pia); António Augusto Lopes (Casa Pia); Aberto Augusto (SL Benfica); Ribeiro do Reis (SL Benfica).
Esta partida terminaria com a vitória da Espanha por 3-1. O primeiro golo de sempre da seleção foi uma grande penalidade convertida por Alberto Augusto, após Artur Augusto, seu irmão, sofrer a falta. Outro momento que ficaria para a história era a titularidade de José Gralha, que permanece até hoje o mais jovem de sempre a representar as cores do nosso país, tendo apenas 16 anos na altura-
Um facto muito curioso desta partida assenta no equipamento utilizado. Ao invés do vermelho e verde presente na nossa bandeira, Portugal entrou em campo com o preto e branco do Casa Pia. Tal se deveu ao facto de os lisboetas serem a equipa campeã nacional, vencendo o primeiro Campeonato de Portugal ante o FC Porto; de haver monárquicos que se recusavam a entrar em campo com as cores da República; e de, para além dos 4 jogadores casapianos nesta seleção, também Ribeiro do Reis e Vítor Gonçalves, apesar de representarem o Benfica, tinham fortes ligações à instituição de Pina Manique, dado que o primeiro havia sido responsável pela introdução da cruz de Cristo no equipamento do Casa Pia e o segundo foi o primeiro presidente do Conselho Fiscal do clube.
Assim, a tradição dos desafios entre países permanece até hoje. O grande impacto que teve no desenvolvimento do futebol jamais poderá ser negado ou ignorado, uma vez que a sua expansão se deveu, acima de tudo, à visibilidade adquirida nos Jogos Olímpicos e, mais tarde, no Campeonato do Mundo de seleções.
Manuel Brito Henriques
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