Chamar os bois pelos nomes
Em Espanha, ser agressor parece não ter mal nenhum. O problema começa quando alguém acusa o agressor de, efetivamente, o ser.
Esta semana não há jornal, nem café. Serve-se chá, já que o assunto, só por si, já dá nervos. Espero que gostem.
No passado verão, Greenwood foi anunciado como reforço do Getafe. Muito barulho se fez em torno deste movimento: o jogador foi acusado de violação e violência doméstica, tendo a vítima publicado imagens relacionadas com as agressões sofridas. Para além disso, foi também posto a circular um áudio em que Greenwood gritava com a namorada por ela não querer fazer sexo com o jogador, ouvindo-se inclusive o inglês dizer “move your f*cking leggs off”.
Por um motivo de respeito e sensibilidade, nem imagens, nem áudio serão colocadas neste texto.
As acusações foram retiradas passado um tempo, no entanto, as imagens já estavam espalhadas, o áudio já tinha sido ouvido e as opiniões já estavam criadas. Daí para a frente surgiu um enorme rebuliço em relação ao processo do jogador inglês. O United iria reabilitá-lo, ignorando completamente o que se passou? Durante algum tempo a situação estava instável: falou-se na continuação no United, na ida para um campeonato periférico até que o Getafe acertou termos com o clube de Manchester e recebeu Greenwood na equipa.
Nem La Liga nem Getafe estiveram preocupados com o facto de um jogador inscrito na sua competição/plantel ter ameaçado a namorada por ela não querer fazer sexo com ele. Ninguém o fez. Ninguém emitiu comunicados dizendo que este tipo de comportamentos era intolerável e que, como tal, quem os pratica/praticou não tem espaço na competição. A preocupação do Getafe nunca foi nesse sentido, ao aceitar um jogador que, alegadamente, agrediu inúmeras vezes a parceira, rebentando-lhe o lábio e deixando-lhe inúmeras marcas negras durante a relação de ambos.
O lado sensível do clube madrileno surge quando, num jogo frente ao Real Madrid, depois de cortar a bola, Bellingham chama um nome a Greenwood. Aqui surge a dúvida: o ex-Dortmund pode ter dito a palavra “rapist” ou a palavra “rubbish” para o alegado agressor. Perante esta ignomínia, esta infâmia tal, o Getafe decidiu ir à liga exigir a punição de Jude. Onde é que já se viu…chamar “violador” a um jogador que, perante ouvir a namorada dizer “eu não quero fazer sexo” grita, furioso: “move your f*cking leggs off”. Que brincadeira de mau gosto, de facto.
Para o Getafe, fica a dica, para o futuro: se queremos que não chamem aos jogadores da nossa equipa nomes tão graves como o que Jude chamou a Greenwood, a melhor ideia, para começar, é contratar jogadores com um carácter que isenta deste tipo de acusações. Evitando linguagem tão polida: para evitar que chamem a um jogador da nossa equipa de “violador”, o melhor é não contratar jogadores que, alegadamente, o sejam.
O “É um café e um jornal” é uma crónica semanal 78. As crónicas “café” são mais curtas, rápidas, possivelmente, mas não necessariamente, sobre algo mais atual. As crónicas “jornal” exploram mais a fundo um qualquer tema. Nem sempre será café, nem sempre será jornal. O objetivo é pedir, pelo menos, um jornal por mês, e nas restantes semanas, servir cafés. Boa leitura.
Pedro Brites