Chelsea x PSG - Na monarquia do Mundial de Clubes, só pode haver um rei
Este domingo, no MetLife Stadium, discute-se a final do Mundial de Clubes, entre o Chelsea e o Paris Saint-Germain. Apertem os cintos e não percam.
Até ao dia de hoje, Chelsea e PSG enfrentaram-se 6 vezes. Duas vitórias para cada lado e dois empates. Nove golos marcados por cada uma das equipas, o que comprova um equilíbrio enorme no “head to head” entre os dois clubes. Entre estes duelos, muita história foi escrita e muitos momentos icónicos ficaram guardados. Em 2014, o golo de Demba Ba, em Stamford Bridge, aos 87 minutos, completou a remontada na eliminatória e deu ao Chelsea a passagem às meias-finais da Liga dos Campeões. Desse golo, fica o festejo eufórico de José Mourinho, como se de uma criança se tratasse. Curiosamente, esta é a primeira final de qualquer competição Europeia que vai ser disputada entre estes dois emblemas.
Quanto ao percurso até à Final, o Chelsea passou o grupo em segundo lugar, depois de uma derrota diante do Flamengo. Desde aí, eliminou Benfica, Palmeiras e Fluminense para chegar ao jogo decisivo. O PSG, inserido no grupo de Atlético Madrid, Botafogo e Seattle Sounders, viu os brasileiros vencerem-no por 1-0, mas, ainda assim, assegurou a passagem em primeiro lugar. Depois, 4-0 no Inter Miami de Messi, Alba, Busquets e companhia, com Dembélé a reencontrar muitos ex-companheiros de equipa. Seguiu-se uma vitória por 2-0 contra o Bayern de Munique e, nas meias-finais, uma aula de como se joga futebol, nada mais, nada menos, que contra o Real Madrid. Futebol champanhe, banho técnico-tático e de realidade, o que culminou num resultado de 4-0 a favor dos parisienses.
A temporada da turma de Luis Enrique tem sido brutal. Para lá dos títulos — Ligue 1, Liga dos Campeões e Taça de França, o futebol jogado é de uma qualidade supranormal. Desde a venda de Mbappé que a equipa melhorou bastante e conseguiu demonstrar que o excesso de estrelas nem sempre é significado de sucesso. Não há como destacar alguém, mas as épocas de Dembélé, Vitinha, João Neves, Nuno Mendes e Donnarumma ficam para a história — sem esquecer Doué, o herói da Liga dos Campeões e, provavelmente, o Golden Boy deste ano.
Em termos táticos, vai ser um desafio para Enzo Maresca. Vitinha baixa para construir, Nuno Mendes aparece muitas vezes como médio interior a criar o desequilíbrio, Dembélé está um senhor avançado — a tabelar, a vir buscar jogo, a marcar, a assistir — e João Neves soma exibições de gala umas atrás das outras. É importante dar o devido destaque à evolução de Willian Pacho, que não vai jogar a final por questões disciplinares. Fabián Ruiz é um médio bastante subvalorizado, com uma grande chegada à área adversária.
Do lado do Chelsea, a estratégia para “parar” este Paris Saint-Germain pode passar por ter Moisés Caicedo como autêntico “cão de guarda” de Nuno Mendes e dos seus movimentos interiores. Enzo Fernández, com uma pressão ajustada, pode tentar condicionar Vitinha, mas a frente de ataque dos franceses será, sem sombra de dúvidas, uma autêntica dor de cabeça para os centrais londrinos — as bolas na velocidade do trio atacante, a irreverência de Doué e Kvaratskhelia e a largura de Hakimi causam problemas a qualquer setor defensivo. A juntar a isto, todos se conhecem muito bem (quase que jogam de olhos fechados), Donnarumma dá uma segurança incrível e, de facto, devemos sentir-nos privilegiados por podermos assistir a uma equipa destas, com um treinador que percebe tudo do jogo, dos momentos, das decisões — é espetacular.
A nível ofensivo, a chegada de João Pedro trouxe capacidade técnica e golo (bisou na meia-final) e, apesar de Cole Palmer não estar ao nível que nos habitou, é sempre uma arma dos blues. Sem Pacho do outro lado, penso que pode ser interessante utilizar a velocidade de Liam Delap (sempre importante na pressão, também). Pedro Neto (ainda que a passar uma fase menos boa a nível mental, certamente) pode dar alegria e outro sabor ao ataque do Chelsea.
Veremos como Maresca encara o desafio e como prepara a equipa para um duelo bastante difícil frente a uma máquina muito bem oleada por Luis Enrique. Espero um jogo aberto, com golos, com muitas individualidades em evidência e com um Chelsea mais na expectativa, sempre a tentar condicionar o ponto mais forte do PSG que, na minha opinião, surge quando consegue ter Nuno Mendes em zonas interiores e até a visar a baliza. Neste momento, não consigo encontrar pontos fracos evidentes na equipa dos franceses, mas um dia menos bom da turma de Paris pode dar esperança aos ingleses.
Para concluir, penso que se o Paris Saint-Germain ganhar esta final, fica na história pela época que fez. Pelas individualidades, pela bonita homenagem à filha de Luis Enrique, pela contribuição de todos e por ter 2/3 jogadores que, para mim, merecem estar na conversa sobre a Bola de Ouro — Vitinha, Dembélé e Nuno Mendes.
Um mundial de clubes que vai contra os ideais de muita gente, pela sobrecarga de jogos a que alguns jogadores são sujeitos, pelas lesões, pelo calor e por várias outras razões. Ainda assim, deu para ver bons jogos, espetáculo de parte e parte, revelações incríveis e algumas surpresas. Espero que o último jogo da temporada (ou o primeiro da nova temporada) corresponda às expectativas. No fundo, esperamos todos, porque mais que ver futebol, interessa muito o espetáculo e a forma como cada interveniente nos faz vibrar com o desporto rei.
Manel Direitinho
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