Derby Della Madonnina: em Modo Champions
Entre os dérbis mais mediáticos da história do futebol, está certamente o Derby della Madonnina, o grande clássico da cidade de Milão que opõe Inter e Milan.
Um embate que faz história desde 1908 e que acaba por dividir não só a cidade, como o país, sendo difícil ficar indiferente à rivalidade entre os rossoneri e os nerazzuri.
Ao recuarmos um bocado atrás no tempo, nos primórdios do séc XX, esta rivalidade era algo que transcendia o futebol em si, estando assente a questão da diferença de classes: o Inter está desde do seu começo ligado à burguesia, e os seus adeptos são apelidados como “Il Biscione” (a grande cobra); Já os rossoneri, por sua vez, tinham um vinculo especial com a classe operária, daí serem conhecidos na cidade de Milão como os “casciavìt”, palavra que no dialeto de Milão significa «chave de fendas», o que explica esta vertente operária do clube.
A Madonnina é uma estátua da Virgem Maria no topo da Catedral de Milão, que dá nome ao grande dérbi da cidade.
Mas se esta rivalidade nutria questões que ultrapassavam o futebol, para além da questão social, a política também foi outro dos fatores que acabou por ter um grande impacto no desenvolvimento dos dois clubes de Milão.
Nos anos vinte, durante o auge do poder fascista, o Inter, por pressão do regime autoritário passou a ser designado como “Ambrosiana” (que derivava de São Ambrosio), e tinha uma breve conotação com o regime de Mussolini; já o Milan, que viu o seu poder ser suprimido passou a ser o símbolo da classe operária. Curiosamente, com o passar dos anos e também com a mudança da presidência do Milan, assistiu-se a uma inversão de papéis, e foi o gigante rossonero que passou a ser aliado das ideias conservadores de direita de Il Cavaliere. O Inter, por outro lado, liderado por Massimo Moratti, passou a estar associado à ideologia de centro-esquerda, que tinha vários apoiantes da alta burguesia socialista, bem como alguns comunistas milaneses. O tempo passa, a história é refeita, as posições à esquerda ou à direita podem oscilar, mas Milan e Inter nunca vão partilhar o mesmo lado da barricada.
Duas caras: Giuseppe Meazza ou San Siro?
Certamente esta ainda é uma dúvida que perdura na mente de alguns adeptos. No entanto, esta aparente confusão de nomear o principal estádio da cidade de Milão pode ser resolvid de uma maneira muito simples: costuma ser atribuído um nome diferente, dependendo de quem é a equipa da casa. Quando é o Milan a jogar em casa, costuma-se dizer que o jogo é no San Siro, ao passo que, quando é o Internazionale o anfitrião, se tem o hábito de falar que o jogo decorre no Giuseppe Meazza. Mas no fundo as duas formas estão, lá no fundo, corretas.
De uma maneira, ou de outra, pode-se dizer que é um dos palcos mais antigos da Europa, com mais de 90 anos de existência. O estádio começou a ser construído em 1925, sendo inaugurado a 19 de Setembro de 1926 com um clássico entre Inter e Milan. Inicialmente, o estádio pertencia apenas ao Milan. Apenas mais tarde, a partir da década de 1940, a Internazionale (que na época atuava na Arena Civica) começou a também a ser anfitriã de partidas no San Siro, chegando a um acordo com o Milan e sendo administrado em conjunto pelos dois clubes. Alguns anos mais tarde, em 1980, o estádio foi rebatizado oficialmente como Giuseppe Meazza em homenagem ao jogador que representou os dois emblemas.
O Bom sabor italiano pela Europa
Nesta edição da Liga dos Campeões as equipas italianas vieram em peso, sendo a Juventus, o único conjunto italiano que não conseguiu passar da fase de grupos. Após o sorteio dos quartos de final, o “mapa” ficou desenhado de forma a que todas as equipas do calcio: Inter, Ac Milan e Nápoles ficassem do mesmo lado da eliminatória. E assim foi, os rossoneri acabaram por eliminar a turma de nápoles e vão defrontar o Inter que depois de dois jogos muito equilibrados com o Benfica, acabou por garantir a presença nas meias-finais.
Ao falarmos de um Inter x Ac Milan na Liga dos Campeões, não nos podemos esquecer da última vez em que o Derby della madonnina brilhou no maior palco europeu. Foi na época 2004/05 nos quartos de final, numa primeira mão em que o Milan levou a melhor sobre o seu eterno rival e venceu por 2-0, com golos de Stam e Shevchenko. No jogo de volta, Shevchenko voltou a marcar pelo Milan, mas ao minuto 70’ a partida foi interrompida. A torcida nerazzuri começou a lançar inúmeras tochas para o relvado, com uma delas a atingir o guarda-redes do Milan, Dida, que acabou por ter que ser substituído. No entanto, o árbitro terminou a partida por falta de segurança e foi nesse momento, com o relvado repleto de tochas e fumo que o fotógrafo Stefano Rellandini's imortalizou o momento entre Materazzi e Rui Costa. (Se quiseres perceber melhor este momento, clica aqui!)
A verdade é que hoje a história volta a ser reescrita – todos os caminhos vão dar a Milão e já não se pensa noutra coisa. Não há, para já, favoritos e como sabemos, as equipas na liga dos campeões vêm com um outro ADN, mas no que diz respeito ao registo mais recente: o Inter desde que empatou frente ao Benfica na 2ª mão dos quartos de final, só tem vitórias. O Milan, por outro lado, empatou duas vezes e pode estar em grandes dificuldades, pois o craque da equipa, Rafael Leão, está em dúvida para o grande dérbi.
Aconteça o que acontecer um cenário histórico irá ficar marcado num dos capítulos mais bonitos da história do futebol.
Ishan Lacmane
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