Faltam 24 dias para o início do Campeonato da Europa. Ao longo dos anos, várias histórias foram contadas nesta competição e queremos dar-te todo o contexto das várias seleções que vão participar nesta edição da prova. A partir de hoje, daremos a conhecer uma seleção por dia nas nossas redes sociais, e vamos adicionando os conteúdos a esta publicação. Logo, se estiveres a receber isto no mail, só vais ter a Alemanha disponível, mas vai abrindo o nosso Substack ao longo dos próximos dias para estares a par das várias equipas. Bora lá!
Grupo A
Alemanha
O futebol são 11 para 11 e no final ganha a Alemanha. Esta velha máxima que Portugal gosta de cumprir, quer seja com os traumas que temos com os alemães nas competições europeias (exceto a final de Viena em 1987, com o Porto a vencer o Bayern), quer seja com a nossa seleção (exceto com um hat-trick de Conceição no Euro 2000).
Esta famosa frase do futebol faz todo o sentido: os alemães são implacáveis. Desde o Euro 1972, competição em que participaram como Alemanha Ocidental, não falham nenhuma fase final do torneio, tendo vencido essa edição, a de 1980 e a de 1996. Em 72, Gerd Müller e Beckenbauer foram as figuras, sendo o último fundamental também como treinador nos anos 80, contribuindo para a afirmação do futebol alemão. Não venceu nenhum Europeu, mas levou o Mundial de 1990 para casa.
Na pós-reunificação em 1990, a Alemanha ainda levou mais um Europeu para casa em 96, mas já lá vão 28 anos. Oliver Kahn, Ballack, Philip Lahm, Schweinsteiger, Özil, Klöse, e outros tantos tentaram, mas não conseguiram.
Em 2024, é a anfitriã. Teve o fenómeno Bayer Leverkusen na Bundesliga, o Dortmund na final da Champions e um Bayern em reestruturação. O jovem e audaz Naggelsmann confia em Müller, Kroos, Neuer, Rüdiger, Musiala e companhia para levantar o troféu. Após um Mundial 2022 desapontante, eles estão com fome, e o fator casa está com eles.
Escócia
O que sabes sobre a Escócia? Gaitas de foles? O monstro do Loch Ness? Que o Celtic venceu a Taça dos Campeões Europeus em Lisboa em 1967? Enfim, não há de ser muita coisa.
A realidade é que também não há muita história a ser contada em Europeus, apesar de terem ido a 3 Mundiais nos anos 70 e 80, com a magia a ser espalhada por Kenny Dalglish e Denis Law, o único escocês a vencer a Bola de Ouro. Tiveram o azar da era dourada do futebol escocês coincidir com um formato de Europeu onde só 4 equipas jogavam a fase final.
Tiveram de esperar então até aos anos 90, participando no Euro 92 e no 96. No primeiro, calharam no grupo da morte: contra os Países Baixos, campeões em título; a Alemanha, campeã mundial; e a Comunidade dos Estados Independentes, composta pela maioria das repúblicas ex-URSS, desmantelada em 1991 e vencida na final do Euro 88. Já em 1996, foi eliminada na diferença de golos num grupo com Inglaterra, Países Baixos e Suíça. A sorte não queria nada com os escoceses.
Só em 2021, no Euro 2020, é que regressaram a uma fase final. Apesar de terem recebido alguns jogos desta edição plurinacional, a maior história que têm para contar desta competição foi terem conseguido empatar contra os rivais ingleses a zeros.
Com Robertson a liderar as tropas, os escoceses esperam criar tão boas memórias da Alemanha como os adeptos do Celtic têm de Portugal.
Hungria
Ferenc Puskás, o nome mais marcante do futebol húngaro, nunca jogou um Europeu. Tal como a Escócia, seleção que explorámos ontem, foi um pouco vítima do timing em que surgiu a época dourada do futebol no seu país.
A Hungria é uma das potências futebolísticas do séc. XX. Entre 1950 e 1954, a Hungria esteve 18 jogos consecutivos sem perder, tendo a sua sequência interrompida pela Alemanha na final do Mundial de 54. Chegou a ter 1 derrota apenas em 50 jogos. Esta seleção potenciada pelo treinador Gusztav Sebes e com talentos além Puskás, como Sander Kocsis e Nandor Hidegkuti, lançou as bases para a Hungria alcançar fases finais de Europeus, mesmo no formato onde estas eram disputadas só por 4 equipas. Em 1964, acabaram em 3.º; em 1972, acabaram em 4.º.
Foram a imensos Mundiais entre 1934 e 1986, mas tiveram de esperar 30 longos anos até regressarem a uma fase final de uma grande competição. Em 2016, calharam no grupo com os vencedores do torneio e potenciaram um thriller 3-3 contra essa bela seleção. Acabaram por perder contra a Bélgica de Hazard e Lukaku nos oitavos. Desde esse ano, ainda não falharam um Euro. Em 2020, ficaram pelo caminho num grupo com Portugal, França e Alemanha (muito favorável este sorteio, já agora).
Chegam em 2024 numa forma diferente: passaram pela qualificação sem derrotas. Não perdem há 14 jogos, estando a 4 jogos da sequência de Sebes. E quem apanham no seu grupo? A equipa que interrompeu a sua sequência em 54: a Alemanha. Em 2022, para a Liga das Nações, venceram em Leipzig por 1-0. Szoboszlai e companhia querem repetir o feito recente, respeitando o peso do passado.
Suíça
Terra do chocolate, dos relógios e das fugas fiscais. A Suíça é um país muito neutral. Tão neutro, tão neutro, que saiu dos últimos dois Europeus nos penáltis: em 2016, contra a Polónia nos oitavos; em 2024, contra a Espanha nos quartos. Empates em 90 minutos tem sido com eles.
Foram a uns impressionantes 12 Mundiais, mas só se estrearam na fase final de Europeus em 1996. Houve sempre algumas figuras de destaques, como Stéphane Chapuisat nos anos 90, e Alexander Frei nos anos 2000, ambos avançados que passaram bons anos no Dortmund. Já fizeram por 3 vezes quartos de final de Mundiais (1934, 38 e 54), mas acho justo dizer que nunca encontraram tanta regularidade internacional como agora. Foram aos últimos 5 Campeonatos do Mundo, chegando aos oitavos de final em 4 deles, e também aos últimos 2 Europeus, chegando em ambos à fase a eliminar.
Em 2024, será a sexta grande competição consecutiva. Na última, eliminaram a França, com uma exibição de outro mundo do guarda-redes Sommer. Neste verão, terão pela frente a anfitriã Alemanha. Mas podem sonhar. Têm Xhaka, mega motivado após a época de sonho do Bayer; Akanji, vencedor da Premier League; e Shaquiri, a maior figura suíça dos últimos anos.
Fiquem ainda com este bónus: Haris Seferovic é, a par de Hakan Yakin, o segundo melhor marcador do país em Europeus, com 3 golos cada. O primeiro é o experiente e já mencionado Xherdan Shaquiri, com 4.
Grupo B
Espanha
Quem nunca, a meio do seu dia, pôs-se a pensar naquele Portugal x Espanha em que fomos eliminados nas meias-finais do Euro 2012? Estivemos quase lá, mas foram os espanhóis que levaram a melhor e venceram os italianos por 4-0 na final em Kiev. Este foi o último europeu que conquistaram. Desde então, as duas equipas que eliminaram em 2012 levantaram a taça (Portugal em 2016 e Itália em 2021).
A primeira vez que nuestros hermanos sorriram na Europa foi há 60 anos, em 1964, numa edição da qual foram anfitriões. Disputaram a final no Santiago Bernabéu frente à União Soviética de Lev Yashin. Este era um duelo que, mais do que desportivo, era político. Num jogo empatado 1-1, o cabeceamento de Marcelino a 6 minutos do fim deu a vitória à seleção espanhola, que só viria a repetir o feito anos mais tarde.
Desde então, só voltaram para disputar o Euro de 1980. Jogaram em todos os Europeus da década de 80 - chegando à final de 1984 - e quase todos da década de 90, falhando apenas o de 1992. A partir daí, nunca mais ficaram de fora.
Em 2008, com Luis Aragonés ao comando e uma geração de ouro como poucas houve, La Roja voltou a sonhar mais alto. Frente a uma super Alemanha, El Niño, assistido por Xavi, marcou o golo da vitória e deu o título há tanto ambicionado. Começava a ser escrita uma página de ouro na história do futebol espanhol. A 2008, seguiu-se o Mundial de 2010 e o bicampeonato europeu em 2012.
Eliminados dramaticamente por Itália nas meias-finais de 2021, Luis Enrique contou com um jovem Pedri que se destacou pelo seu talento e irreverência, chegando mesmo a ser considerado o melhor jovem daquele torneio – uma prenda que, mais tarde, percebeu-se vir envenenada.
Croácia
A Jugoslávia era uma boa seleção. Nunca ganhou nem um Mundial, nem um Europeu, mas foi por duas vezes finalista do último, em 1960 e 1968. Tendo esta base e tradição futebolística, seria natural que as seleções que apareceram após o seu desmantelamento surgissem também fortes. Uma delas a da Croácia.
A primeira grande surpresa internacional provocada por esta seleção foi entre 1996 e 1998. No Euro 96, uns quartos de final (mas levaram 3 de Portugal, lidem). No Mundial 98, umas meias-finais. Um país recém-criado a impor-se assim no panorama das competições de futebol? Como? Explicam muita coisa os golos de Davor Suker, avançado que passou pelo Real Madrid. Asanovic, Boban e Jarni espalharam magia também. O padrão de toalha de piquenique ia ganhando cada vez mais respeito do que isso.
Seguiram-se uns anos 2000 mais serenos, que ainda assim deram espaço a uns quartos de final no Euro 2008, onde venceram a Alemanha por 2-1. Já se iam vendo alguns nomes como Rakitic e Modric a ganhar o seu espaço. O último é mesmo o expoente máximo do futebol croata, e o culminar da sua carreira coincidiu com o culminar do futebol do país.
Em 2018, Modric ganha a bola de ouro, após levar a Croácia à final do Mundial. Numa final de Mundial? A Croácia? Portugal nunca foi a nenhuma por exemplo. Foi a loucura. Lovren, Kovacic, Perisic, Mandzukic, e tantos outros. Uma enorme seleção que ganhou 3-0 à Argentina de Messi. Em 2022, fez outras impressionantes meias-finais, eliminando o Brasil em penáltis, para a seguir a Argentina se vingar.
Contudo, em Europeus falta dar o salto. Os quartos de final já mencionados continuam a ser os seus melhores desempenhos na competição. Mesmo com esta enorme geração, não passou dos oitavos nem no Euro 2016 (obrigado, Quaresma), nem no Euro 2020, onde a Espanha também se vingou da derrota de 2016. A malta gosta mesmo de dar o tal prato que se serve frio à Croácia.
Chega a 2024 com alguns resquícios desta geração e com alguns nomes menos experientes ainda, como Gvardiol e Stanisic. Porém, talento não falta, e vem aos quadrados.
Itália
“Fratelli d´Italia, L´Itália s´è desta”. E acordou mesmo. Associamos Itália às pizzas, aos gelados, a Pavarotti, à máfia representada no Padrinho de Coppola, à mão fechada a abanar veementemente quando os italianos estão chocados com alguma coisa. Mas Itália também é Baggio, Sacchi, Giuseppe Meazza, Paolo Rossi, Cannavaro, Pirlo, Ancelotti. É tanto, tanto futebol.
O primeiro Mundial foi em 1934, numa competição organizada pela própria Itália e que ficou para a história como o Mundial de Mussolini, devido à influência do regime fascista no desenrolar do torneio. Em 1938 veio outro. Depois em 1982. E o último em 2006, final que deixou Materazzi com marcas da careca de Zidane (não insultem a irmã do francês).
Mas queremos é falar de Europeus e são dois títulos que tem a Itália. Em 1968, chegou à sua primeira fase final, e foi tiro e queda, mas com alguma sorte: vence a União Soviética na meia-final graças à moeda ao ar e a Jugoslávia numa segunda mão de uma final, devido num empate após prolongamento na primeira. Dino Zoff à baliza e Luigi Riva na frente: a Itália tinha a sua primeira taça.
Se a sorte parlou italiano nesta edição, demorou até parlar outra vez. Após esta vitória e até 1996, foi apenas a 3 edições. Desde esse ano, não falhou nenhum Europeu, mas perdeu duas finais, em 2000 e 2012. Uma equipa fantástica com Del Piero, Maldini, e Nesta, e outra com Buffon, De Rossi e um super Balotelli: nenhuma foi campeã.
Porém, em 2021, surgiu a Itália mais dominante que se viu num Europeu. Se, na edição de 2016, Conte já tinha deixado alguma água na boca com boas exibições, apesar da derrota em penáltis com a Alemanha, Inzaghi não vacilou, e repetiu o feito de 53 atrás. Donnarumma, Spinazzola, Barella, Chiesa e companhia protagonizaram grandes exibições e vergaram a Inglaterra em casa. “It´s coming home” transformou-se em “It´s coming Rome”.
São os campeões em título. Não os descartem para este ano.
Albânia
Tenho de escrever um texto sobre a Albânia? O que raio sei eu sobre a Albânia? Onde é que sequer fica a Albânia? Bem, temos alguma uma foto de um jogador deles com um bebé? Top, vai ser a capa do post. Para dar engagement à coisa.
Esta seleção só foi ao Euro 2016, e que belo Europeu para se ir. Apesar de terem saído nos grupos, caíram de pé. Abriram o torneio com uma derrota frente à Suíça, onde sofreram um golo madrugador de Schär. Seguiu-se um jogaço contra a França, onde num Vélodrome com 63 000 adeptos, aguentaram o empate até aos 90 minutos. Griezmann e Payet não gostaram da brincadeira, e resolveram o jogo na compensação. Despediram-se com uma vitória sobre a Roménia por 1-0, onde Sadiku fez o único golo marcado pela Albânia em Europeus.
Se vocês estiverem a pensar “Ah, mas fazer 3 pontos não é uma boa prestação num Europeu”. Mais ou menos. Na primeira vez que foram a uma fase final, fizeram tantos pontos nos grupos como o campeão. Portugal passa como um dos melhores terceiros lugares por ter 0 na diferença de golos, enquanto que a Albânia teve -2.
E craques conhecidos nessa equipa? Como podem imaginar, não abundam em mediatismo. O guarda-redes Berisha, na altura na Lazio, fez os 3 jogos e está pré-convocado para o Euro 2024. O lateral Hysaj era um dos destaques, por jogar no Nápoles, e ainda é figura da seleção. Taulant Xhaka jogou contra o irmão Granit no jogo contra a Suíça, numa boa história para jornais.
Chegam a este Euro com mais jogadores em ligas de peso. Strakosha do Brentford, Simoni do Frankfurt, Djimsiti da Atalanta, Broja do Fulham. Teriam tudo para fazer um Euro respeitável, se não fosse calharem no grupo com a Espanha, com a Croácia e com a Itália. Acho que o grande prémio para a Albânia é a presença, mas no futebol tudo pode acontecer.
Grupo C
Dinamarca
A Dinamarca tem das histórias mais fantásticas de todas as edições do Europeu, mas vamos por ordem cronológica.
Estrearam-se em fases finais em 1964, acabando no 4.º lugar numa edição só com 4 equipas. Regressaram apenas em 1984, logo com umas impressionantes semifinais, onde pelo caminho eliminaram a Espanha e a Jugoslávia. Frank Arnesen tinha a mira apontada e Michael Laudrup, da Lazio e com 19 anos, já causava alguns estragos. Saíram na fase de grupos no Euro 1988 e as desilusões não pararam em 1992, quando nem se sequer se qualificaram para a fase final. Porém, foram campeões da Europa nesse ano. Confuso? Prometo que faz sentido.
A Dinamarca ficou 1 ponto atrás da Jugoslávia na qualificação, acabando em 2.º do grupo e não se apurando para a fase final com 8 equipas. Porém, a Jugoslávia vivia uma situação de enorme tensão política nos anos 80, que culminaram no despontar de uma guerra civil na década de 90, onde várias nações dentro do país procuravam formar Estados próprios (Croácia, Bósnia e Herzegovina, etc.). Perante este panorama político, a UEFA optou por excluir a Jugoslávia do Euro 92. Quem beneficiou com isto? O 2.º lugar do grupo da qualificação.
Receberam o convite para participar na prova a 2 semanas do início da mesma. Michael Laudrup estava com expectativas tão baixas para a prestação do país do torneio que nem aceitou ser convocado, mantendo-se de férias. Sobraram estrelas como o irmão Brian Laudrup, Peter Schmeichel, Henrik Larsen, Flemming Povlsen, Lars Olsen. Ainda assim, as previsões não eram espetaculares.
Nasceu então uma das maiores histórias de underdogs do século XX. Num grupo com França, Inglaterra e Suécia, passaram os dois países nórdicos. Empataram com a Inglaterra de Lineker, perderam com a Suécia de Martin Dahlin, ganharam à turma de Cantona. Nas semifinais, nos penáltis, a trupe holandesa de Bergkamp, Gullit e Van Basten ficou pelo caminho. Na final, vergaram a Alemanha de Klinsmann e Völler. Fenomenal.
Os anos seguintes também tiveram sumo, mas foram logicamente menos espetaculares. Em 2004, fazem quartos de final em Portugal, com Jon Dahl Tomasson e companhia. No último Euro, fazem meias-finais, com Kjaer, Maehle e Damsgaard a liderarem as tropas. Houve o susto de Eriksen, mas tudo acabou bem, com o mesmo a regressar inclusive para o Euro 2024. Há muito talento na Dinamarca.
Eslovénia
Além de ser um dos destinos preferidos para fazer Erasmus, a Eslovénia não tem muito para contar em campeonatos da Europa. Desde a sua criação em 1960, apenas participaram em duas edições, tendo sido a primeira há 24 anos.
Em 2000 - Europeu cujo desfecho ainda custa aceitar para muitos portugueses - ficaram no grupo C juntamente com Espanha, Jugoslávia e Noruega. Acabaram por ficar em último com 2 empates e 1 derrota. O empate frente à Jugoslávia tornou-se um dos jogos mais emocionantes, com Mihajlović (vencedor da Taça das Taças com a Lazio) a ser expulso na 2.ª parte. Com 10 jogadores e a perder por 3-0, as suas hipóteses eram reduzidas. Surpreendentemente, deram a volta ao resultado em 6 minutos, com Milosevic, melhor marcador com 5 golos, a bisar.
Por esta altura, Zlakto Zahovic, ex-Vitória SC, FC Porto, SL Benfica e referência maior do futebol esloveno, ainda representava o seu país. Foi com a ajuda do médio que a Eslovénia se qualificou para disputar o Euro 2000 e o Mundial 2002, sendo, até hoje, o seu melhor marcador - 35 golos em 80 jogos.
Os ídolos agora são outros. Jan Oblak surge como a figura principal desta seleção. O capitão e guardião entre os postes é um dos melhores na sua posição há largos anos, trazendo consigo uma boa dose de experiência, crucial para equilibrar a coisas dentro e fora das quatro linhas.
Impossível seria falar da Eslovénia e não mencionar também Benjamin Šeško, um fora de série. O avançado do Leipzig foi peça fundamental para o sucesso da equipa na fase de qualificação e poderá fazer toda a diferença em junho.
Sérvia
O que dizer de um país que já esteve presente em 3 Mundiais (2010, 2018 e 2022) - apesar de nunca ter passado da fase de grupos - mas que só agora se estreia num Europeu?
É verdade, o Euro 2024 vai ser uma novidade para a Sérvia. Passaram com distinção na fase de qualificação num grupo com Hungria, Montenegro, Lituânia e Bulgária, fazendo 14 pontos e ficando em 2.º lugar, logo atrás dos húngaros.
No Campeonato do Mundo de 2022, as coisas não correram tão bem. Frente ao Brasil, Suíça e Camarões, conseguiram apenas 1 ponto, fruto de um 3-3 contra os camaroneses. Num jogo onde começaram por perder, deram a volta no espaço de 2 minutos, mas logo apareceram Aboubakar e Choupo-Moting para estragar os sonhos da seleção sérvia.
Quanto aos jogadores com que podem contar, surgem à cabeça Vlahovic (Juventus), Pavlovic (Red Bull Salzburg), Mitrovic (Al Hilal), Andrija Zivkovic (campeão da liga grega com o PAOK), Dusan Tadic (capitão da seleção, 3 vezes campeão da Eredivisie e atualmente no Fenerbahçe) e Milenkovic (finalista da Conference League com a Fiorentina). Podem não ter os nomes mais entusiasmantes, à primeira vista, para disputar esta competição, mas a ida ao Euro 2024 é já um feito suficientemente assinalável na história do futebol nacional.
Inglaterra
Alguém devia escrever uma tese de mestrado sobre a quantidade de pessoas que adoram a Premier League e não sentem um pingo de simpatia pela seleção inglesa.
A história de Inglaterra no Euro é um tanto dramática, diria até que é perfeita para se contar durante o chá das 17h: nunca venceram qualquer edição da competição, perderam mais do que uma vez nos penáltis e, em 2004, não conseguiram ganhar a uma equipa cujo guarda-redes nem luvas estava a usar.
Por incrível que pareça, a geração de John Terry, Ashley Cole, David Beckham, Steven Gerrard, Paul Scholes, Frank Lampard, Michael Owen e Wayne Rooney não levantou um único troféu pela seleção. Mas parece que é regra todos os países terem uma geração de ouro que deixa a pairar muitos “e se…” no ar.
A sua primeira participação em Europeus foi em 1968. Apesar de eliminados pela Jugoslávia nas meias-finais, garantiram o 3.º lugar depois de vencer a União Soviética por 2-0. Regressaram à competição em 1980 e, a partir daí, só falharam presença em 1984 e 2008. Em 2008, não conseguiram qualificar-se após uma derrota frente à Croácia, em Wembley.
Até hoje, a melhor prestação dos Three Lions foi no Euro 2020. Primeiros do seu grupo com 7 pontos, não tiveram o caminho dificultado até à final. Eliminaram a Alemanha e umas surpreendentes Ucrânia e Dinamarca. Na final, encontraram a Itália. Todos sabemos como a história terminou - esta em particular deu vida à expressão “a História repete-se”. Afastados do Euro ‘96 pela Alemanha com Southgate a falhar um penálti decisivo, em 2021 foi a vez de um jovem Saka, com o peso do Mundo aos seus ombros, ver o seu remate defendido por Donnarumma.
Será desta que se cumprirá o “football is coming home”?
Grupo D
Países Baixos
Se há seleção que nunca podemos descartar é a seleção dos Países Baixos.
A sua primeira participação foi no final dos anos 70, quando Cruyff revolucionava o desporto rei. Desde então, só falharam o apuramento em 1984. Apesar de terem perdido o voo direção Paris para o Europeu em França, lá arranjaram forma de compensar o país 4 anos mais tarde.
Em 1988, o modelo do campeonato da Europa era outro. 8 seleções divididas em 2 grupos disputavam a fase de grupos, onde se apuravam 4 equipas. Logo, seguiam-se as meias-finais e a final. Terminaram em 2.º lugar com 4 pontos num grupo onde constavam União Soviética, República da Irlanda e Inglaterra. Eliminaram a Alemanha Federal com Ronaldo Koeman e Marco van Basten a assumirem protagonismo. Reencontraram os soviéticos na final e dominaram desde início, vingando de forma épica aquele 0-1 na fase de grupos. A época brilhante de van Basten valeu-lhe a Bola de Ouro, que no ano anterior havia sido de Ruud Gullit.
Desde então, uma espécie de maldição tem assolado a Laranja Mecânica (sim, continuamos a falar de futebol e não do filme de Stanley Kubrick). Por três vezes voltaram a estar muito perto de chegar a uma final, mas foram eliminados nas meias-finais pela Dinamarca (1992), Itália (2000) e Portugal (2004). Na última edição deste campeonato, foram afastados antes disso, numa derrota contra a Chéquia nos oitavos.
Chegam a 2024 em perfeita sintonia entre passado, presente e futuro. Se, por um lado, existe van Dijk e Depay, também existe de Ligt, de Jong, Aké, Dumfries, Gakpo, Frimpong, Xavi Simons e Timber.
França
Estão a dizer-me que o Thierry Henry, antes de ser comentador, foi jogador da seleção francesa? Formidable!
Marcaram presença na edição de estreia (1960), regressando apenas em 1984. Foi nesse ano, enquanto anfitriões, que levantaram a taça pela primeira vez. Acabaram em primeiro num grupo com Dinamarca, Bélgica e Jugoslávia e encontraram Portugal nas meias-finais. Depois de Rui Jordão levar a partida para prolongamento, Michel Platini marcou o golo da vitória aos 119 minutos, carimbando a passagem à final. No Parc des Princes venceram Espanha por 2-0, um jogo onde Platini assumiu novamente um importante papel de liderança. O campeão italiano e da Taça das Taças pela Juventus marcou 9 dos 14 golos dos franceses em toda a competição.
O segundo momento de glória para os Bleus chegou nos anos 2000. Segundos num grupo com Países Baixos, Chéquia e Dinamarca, eliminaram Espanha nos quartos e Portugal (outra vez) nas meias. Contra a Itália de Maldini, Nesta, Cannavaro, Totti e Del Piero, a França de Vieira, Deschamps, Zidane e Henry venceu a final com um golo de ouro de David Trezeguet.
Apesar de terem sido felizes em campeonatos do Mundo, nunca mais a vida sorriu-lhes na Europa. Desde 2004 perderam sempre em fases a eliminar diante das seleções grega, espanhola, portuguesa (obrigada, Éder) e suíça.
Chegam a 2024 como um dos favoritos e não é difícil perceber porquê. Com Mbappé como cabeça de cartaz, ainda se dão ao luxo de contar com Griezmann, Saliba, Koundé, Tchouaméni, Camavinga e Dembelé.
O objetivo para este ano? Sem dúvida, ramenez la coupe à la maison.
Polónia
Hoje é o dia da Polónia, país do ponta-de-lança que devia ter ganho a Bola de Ouro em 2020 mas teve o azar de ter um pico de forma em plena pandemia.
Os polacos estrearam-se no Euro 2008. As coisas correram tão bem que terminaram em último lugar do grupo com 1 ponto, conseguido num empate com a Áustria. Apesar de se terem adiantado no marcador, um penálti assinalado a favor dos austríacos, e convertido por Ivica Vastic aos 90 minutos, impediu-os de sair de Viena com 3 pontos.
2012 não seria muito melhor. Num Europeu com Ucrânia e Polónia como anfitriões, não tiveram quaisquer hipóteses e foram novamente últimos do grupo, cenário que repetiu-se em 2021. Por isso, sem sombra de dúvidas que a melhor prestação desta seleção foi em solo francês. No célebre ano de 2016, acabaram empatados com 7 pontos com a Alemanha campeã do Mundo. O segundo lugar no grupo valeu-lhes um encontro com a Suíça nos oitavos-de-final, jogo que venceram nos penáltis. Nos quartos, as coisas voltaram a ser decididas nos penáltis, só que, desta vez, a favor do adversário - Portugal. Lewandowski não perdeu tempo a colocar a Polónia a vencer, mas não contou com um Renato Sanches endiabrado e decisivo. Se o “Anda bater, tu bates bem” existe, devemos-lhe em parte.
Este ano, aterram na Alemanha com Lewandowski, Szczesny, Zielinski e Urbanski.
Áustria
Nos anos 70, Billy Joel escreveu “When will you realize, Vienna waits for you?”. Este verso ganha uma dimensão diferente se pensarmos que a Áustria, cuja capital é Viena, esperou até 2008 para organizar e disputar o seu primeiro campeonato da Europa.
A estreia em palcos europeus não correu de feição. Num grupo com Croácia, Alemanha e Polónia, terminaram em 3.º com 1 ponto, conseguido frente aos polacos depois de um penálti assinalado aos 90 minutos.
Regressaram 8 anos depois, em 2016, para jogar a fase de grupos. Contra a Hungria, uma impressionante Islândia e o Portugal do “pouco importa, pouco importa se jogamos bem ou mal”, acabaram em último com 1 ponto, fruto de um empate contra a seleção das quinas (quem diria, não é?).
Em 2021, superaram-se e chegaram aos oitavos-de-final em Wembley. Infelizmente, tiveram o azar de Itália cruzar-se no seu caminho. Apesar de terem levado a partida para prolongamento, não conseguiram fazer face aos golos de Chiesa e Matteo Pessina. Sasa Kalajdzic começou aquilo que podia ser a reviravolta dos austríacos, mas não foi suficiente.
Para 2024 não há Alaba, mas há Stefan Posch, Sabitzer, Laimer e Arnautovic. Conseguirão fazer melhor do que na última edição do Euro?
Grupo E
Ucrânia
Shevchenko foi o único jogador ucraniano a vencer uma Bola de Ouro, em 2004, num ano em que o admin acha que devia ter ganho o Deco. Dois anos depois, estreiam-se em grandes competições, participando no Mundial da Alemanha, e com este avançado a liderar as tropas. Ele e Voronin eram as grandes bandeiras da seleção que atingiu uns quartos de final, sendo vergada pela Itália nessa fase.
Tiveram de esperar até 2012 para se estrearem num Europeu, mas não falham nenhuma fase final desde aí. Nessa edição, foram anfitriões. Shevchenko ainda estava aí para as curvas, e o seu bis deu para vencer a Suécia de Ibrahimovic. Em 2016, o caso foi mais grave: também foram eliminados nos grupos, mas sem qualquer ponto ou golo marcado.
No Euro 2020, fizeram a sua melhor prestação, com uns quartos de final. Yaremchuk, Yarmolenko, Malinovskyi, Zinchenko e Shaparenko eram as estrelas. Porém, tal como no Mundial de 2006, também se vergaram a um gigante por uma goleada por 4-0, desta vez, contra a Inglaterra.
Em 2024, não contam com um homem que participou em todas as grandes competições da Ucrânia, de 2006 a 2021: Andriy Pyatov. A primeira com 22 anos, a última com 37 anos. Uma instituição da seleção, que fez um jogaço à baliza na vitória por 2-1 contra Portugal em 2019, a contar para a qualificação do Euro 2020.
Eslováquia
“Eslováquia? A capital é Liubliana né?” Não, burro. É Bratislava. Liubliana é na Eslovénia.
A Eslováquia tem uma história muito única em Campeonatos da Europa. Enquanto Checoslováquia, país antecessor, venceram o Euro 76, batendo a Alemanha nos penáltis. Neste desempate em grandes penalidades, Antonin Panenka decidiu bater a bola lentamente em balão e ao meio da baliza, enganando o guarda-redes Sepp Meier. Nascia assim um momento lendário dos Europeus, que dá nome ao melhor podcast do 78 (não contem à Matilde e ao Pedro).
Já enquanto país independente, a Eslováquia chegou ao seu primeiro Mundial em 2010. Alcançaram uns honrosos oitavos de final, perdendo com os Países Baixos nessa fase, mas o grupo deles tinha sido bué estranho. Entre Paraguai, Eslováquia, Nova Zelândia e Itália, quem acabou o grupo em último foram os italianos? Passaram então os eslovacos em segundo e a turma de Cardozo e Roque Santa Cruz em primeiro.
Em 2016, qualificaram-se para o seu primeiro Europeu como país independente, usando uma boa base da equipa do Mundial da África do Sul. Skrtel, Kucka e Hamsik são nomes incontornáveis desta seleção. Em solo francês, foram até aos oitavos mais uma vez, perdendo para a Alemanha de Müller, Özil e companhia. Nos grupos, ainda arrancaram um empate a zeros frente à Inglaterra.
No Euro 2020, fizeram 3 pontos, mas não conseguiram acabar no lote dos melhores terceiros lugares, como tinham conseguido com os 4 pontos de 2016. A equipa com Skriniar, Dúbravka e Bozeník ainda venceu a polónia, mas foi só.
Em 2024, mantém uma boa base de talento e um grupo acessível. Talvez façam uma gracinha. Ah, e o Kucka vai participar na sua quarta grande competição, tendo ido a todas as fases finais em que a Eslováquia participou.
Não se esqueçam: estudem geografia.
Bélgica
Curtem de batatas fritas? E de waffles? Os belgas gostam bastante. Sabem do que é que ninguém do mundo do futebol gostou sem ser eles? Como raio é que eles tiveram 4 anos seguidos em primeiro no ranking de seleções da FIFA? Eles ganharam o quê para lá ficar tanto tempo? Enfim, obrigado, Roberto Martínez.
A Bélgica desde cedo participou nas grandes competições de seleções, estando presente inclusive no primeiro Mundial, em 1930. E com “desde cedo participou”, eu quero dizer “desde cedo era saco de pancada”. Só a partir dos anos 80 é que começou a chegar a fases a eliminar de Mundiais, perdendo apenas para a Argentina de Maradona nas meias-finais do Mundial 86, por exemplo.
“Mas em 1972, na sua primeira participação no Euro e como anfitriã, acabou em terceiro lugar”. Pá, ok. Competiam 4 equipas, mas tudo bem. Mais mérito tiveram quando chegaram à final em 1980, vencendo um grupo com Inglaterra, Espanha e Itália. Vandereycken, Gerets e Renquin foram os maiores destaques.
Seguiu-se um período até 2016 onde só foram a duas fases finais do Euro: 1984 e 2000 (como anfitriões). Em ambos os casos, saíram nos grupos.
Na década de 2010, surge a geração de ouro da Bélgica. Nos Euros 2016 e 2020, chegou aos quartos de final. No Mundial 2018, chegou às meias-finais. Courtois, Alderweireld, Vertonghen, Kompany, Witsel, Nainggolan, De Bruyne, Hazard, Mertens, Lukaku. Muita fruta neste anos.
No Mundial 2022, a coisa não correu tão bem, pois desde aí que a Bélgica sofre num período de necessária renovação. A maioria das antigas referências já não dá garantias. Para além disso, perderam o selecionador que tinham há anos para Portugal (tomem e embrulhem). O que esperar deles? Vamos ver.
É bom que os candidatos ao Parlamento Europeu saibam isto de cor e salteado.
Roménia
“É Bucareste ou Budapeste?” Não! Não vou usar uma fraca piada sobre regiões geográficas com nomes parecidos outra vez. Chegou a Eslováquia. Basta! Seguimos para a Roménia, conhecida pelo Hagi e por terem entrado na UE em 2007.
Estrearam-se na edição inaugural do Mundial, chegando aos oitavos de final em 1934 e 38. Na década de 90, também tiveram um excelente período: oitavos em 1990 e 1998, quartos de final em 1994. A estrela da companhia? Hagi, claro. Havia outros como Popescu, Dumitrescu e Ilie. Porém, a magia era de Hagi. Um autêntico mago.
Em Europeus, fizeram a estreia em 1984, logo num grupo com Espanha, Alemanha e Portugal. Ganhámos nos grupos com um golo do Nené (inchem). A melhor prestação em Campeonatos da Europa surgiu em 2000, ao acabarem em segundo num grupo com Portugal, Inglaterra e Alemanha. Ganhámos outra vez (inchem), mas fomos mesmo a única derrota da Roménia no grupo. Venceram a Inglaterra de Owen e Shearer e empataram com a Alemanha de Mathaus e Kahn. A Itália de Totti e Inzaghi é que não perdoou nos quartos, eliminando os romenos. Claro que ainda havia Hagi neste lote.
Em 2008 e 2016, ficaram pelos grupos. Porém, a sorte pode mudar em 2024. Um grupo mais ou menos acessível com Bélgica, Eslováquia e Ucrânia pode levar a surpresas. E não se esqueçam de que ainda existe Hagi. É o Hagi filho, mas conta na mesma.
Grupo F
Chéquia
Sim, a República Checa prefere que se chame ao país Chéquia. Porquê? Basicamente quando, na década de 90, a Checoslováquia se separou em Estados diferentes, não surgiu nenhum nome curto (para se internacionalizar) que não tivesse alguma bagagem negativa. A denominação República Checa popularizou-se, mas os checos querem corrigir isso atualmente. Portugal também se chama oficialmente “A República Portuguesa”, mas ninguém lhe chama isso.
Passando para a bola, já falámos um pouco sobre a Checoslováquia no texto da Eslováquia. Foram vencedores do mítico Europeu de Panenka e foram a 8 Mundiais em 15 possíveis, entre 1930 e 1994, chegando a duas finais, em 1934 e 1962. Eram uma forte seleção no século passado.
Desde 1996 que a Chéquia não falha nenhum Europeu, e chegou à final logo nessa primeira participação como país independente. Venceu a Itália de Maldini e Zola, Portugal de João Vieira Pinto e Figo, e a França de Zidane e Desailly, nos penáltis. Vergou-se na final frente à Alemanha, apenas no golo de ouro. Poborský e Nedved jogaram muito nesse verão.
Têm mantido uma regularidade irregular nas prestações em grandes finais: fazem uma grande campanha ano sim, ano não; saem nos grupos, ano sim, ano não. Em 2000, foram eliminados nos grupos. Em 2004, chegaram às meias-finais, já contando com nomes mais jovens como Rosicky e Petr Cech. Em 2008, grupos outra vez. Em 2012, quartos de final, sendo eliminados pela cabeça de Ronaldo. Em 2016, grupos outra vez. Em 2020, quartos novamente, e ainda deu para Patrik Schick marcar o golo do torneio, frente à Escócia.
Em 2024, por esta ordem de ideias, seria ano de desgraça, mas um grupo com Portugal. Turquia e Geórgia dá-lhes margem para mostrarem o seu talento. De qualquer forma, a Chéquia já fez jus ao seu nome.
Geórgia
Todo e qualquer país tem um peso cultural e social gigante, resultando num enorme conjunto de referências históricas significativas. Dito isto, pá, é duro falar sobre a Geórgia. Presenças em Mundiais? Zero. Presenças em Europeus? Esta é a primeira. A malta lá prefere o rugby. Portanto, não há muita matéria-prima para aqui.
Podemos aprofundar um pouco a história da nação antecessora, a União Soviética, em Campeonatos da Europa. Foi nada mais nada menos do que a primeira seleção a vencer o Europeu, em 1960. Em 1964, foi finalista derrotada, tal como em 1972. Em 1968, acabou em quarto. Entre 72 e 84, não apareceu em nenhum Europeu, mas em 1988, na sua última aparição enquanto URSS, foi outra vez à final para a perder. Yashin, Ivanov e Belanov foram alguns jogadores que marcaram este período.
Para a Geórgia, a história é o presente. Na convocatória para o Euro 2024, há 8 jogadores a jogar nas top 5 ligas europeias. Kvaratskhelia traz um talento que nunca se viu numa Geórgia independente. Mikautadze uma frieza na finalização. Mamardashvili dá segurança na baliza.
Não têm grandes expectativas para este torneio, porque o verdadeiro prémio foi terem chegado à fase final, após baterem a Grécia no play-off. Contudo, não os descartem de fazerem uma gracinha.
Turquia
Agora sabia bem um kebab não era? E agora que usei uma referência à Turquia vão ser só comentários a dizer “Come to Fenerbache” neste post. Viva Mourinho, já agora.
A seleção turca deve dois particulares bons momentos: nos anos 50 e nos anos 2000. Em 1950, qualificou-se para o Mundial, mas acabou por não viajar para o Brasil por motivos económicos. Em 1954, jogou o Mundial, mas saiu na fase de grupos. Em 1958, recusou-se a participar na zona de qualificação africana e asiática. Após estes eventos, só em 1996 é que voltou a uma grande competição, estreando-se em Europeus e saindo na fase de grupos.
Entramos na década de 2000 e, na viragem do século, a Turquia também virou a página. Em 2000, na Bélgica e nos Países Baixos, chegaram aos quartos de final. Não era uma equipa espetacular, mas era sólida, e lançou as bases para o futuro. Foram eliminados com um bis de Nuno Gomes. Em 2002, no Mundial da Coreia e do Japão, acabaram em terceiro, e são até hoje uma das maiores equipas surpresa da história das grandes competições. Só perderam duas vezes na campanha e para o mesmo adversário, o campeão Brasil, uma vez nos grupos e outra nas meias-finais. Mansiz, Davala, Belozoglu e tantos outros ficaram na memória de um país. Em 2008, após não jogarem nem o Euro 2004, nem o Mundial 2006, chegaram às meias-finais, onde só perderam com a Alemanha. Senturk era o matador e Arda Turan já ia espalhando magia, aos 21 anos.
Em 2016 e 2021, saíram na fase de grupos, mesmo sendo apontados por muitos como a equipa favorita do torneio, antes da competição começar. Em 2024, o cenário é semelhante. Já não há Burak Yilmaz, mas há Arda Güler, Kökçü, Çalhanoglu e outros. Será que chega para uma boa campanha?
Portugal
Portugal. A seleção que, num espaço de apenas 3 minutos na tua cabeça, tanto pode ganhar o Euro como perder com a Geórgia. E que belo isso é. Por onde começar na história futebolística do nosso querido país?
Podíamos dissecar aqui a nossa estreia em grandes competições, com o enorme terceiro lugar de Eusébio e companhia no Mundial 66, mas vamos focar-nos no nosso histórico em Europeus. Mesmo para os mais pessimistas, o cenário é de esperança: Portugal costuma sempre contar com boas prestações em Campeonatos da Europa. Na sua estreia, em 1984, as fintas de Chalana e os golos de Jordão encantaram um país. Num grupo com Alemanha, Espanha e Roménia, passámos em segundo, atrás de nuestros hermanos. Nas meias-finais, defrontámos a anfritriã França, e vencíamos aos 98´do prolongamento. Maldita a hora em que não puseram golo de ouro nessa edição. Aos 114´, Domergue completou o bis; aos 119´, Platini traumatizava um país que completava uma década em liberdade.
Regressámos a Campeonatos da Europa em 1996 e, desde aí, nunca mais falhámos nenhuma fase final. O Euro 2000 é claramente dos mais marcantes para toda uma geração. Alguns dizem até ter custado mais do que o Euro 2004. Uma seleção com Baía, Fernando Couto, Luís Figo, Rui Costa, Paulo Sousa, João Vieira Pinto e Nuno Gomes. Tanta qualidade. Tudo isto para perder para quem? Claro. Para a França. Ainda não te perdoámos, Abel Xavier. Zidane fez de Platini e lá se foram os nossos sonhos.
O Euro 2004 vou-me abster de comentar. Até para mim, que tinha apenas 11 meses de vida na altura, custa. Abram o Youtube e descubram a história. Não comam iogurtes Grego.
Em 2012, tivemos uma agradável surpresa. Acho que à cabeça ninguém esperaria uma campanha tão competitiva da nossa seleção, mas os ingredientes estavam lá. Ronaldo, Nani, Moutinho, Pepe, Bruno Alves, Patrício. Todos no pico de carreira. E CR7 foi claramente o homem mais. O jogo contra os Países Baixos é dos melhores da sua carreira. Contra a Chéquia, a vitória saiu da sua cabeça. Tínhamos mesmo de apanhar pela frente a melhor seleção da história, que, ainda assim, só nos eliminou em penáltis. Injustiça.
Chegamos a 2016, onde 23 lusitanos sonharam em conjunto para chegarem a casa só no dia 11 de julho. De empate em empate, jogando bem ou mal, fomos amealhando momentos históricos. O golo de Quaresma à Croácia, os penáltis contra a Polónia, as arrancadas do Renato e o salto do capitão contra Gales. Na final, após a lesão de Ronaldo, todos tememos o pior. Éder vestiu a capa de herói, eternizando para sempre o momento da sua entrada em campo, ao minuto 78. Portugal era campeão da Europa.
Se em 2016 nos deu a nossa melhor prestação em Europeus, em 2021, Fernando Santos deu-nos a pior, quando nos despedimos nos oitavos de final. Roberto Martínez gerou algumas expectativas com uma qualificação só com vitórias e com o muito talento presente na nossa seleção. Só nos resta apoiar. Força, Portugal!
Falta 1 dia para o torneio. Conheceste todas as seleções, uma por dia, com o 78.
João Blanco e Matilde Pinhol.