A Premier League é palco de grandes rivalidades, quer seja entre clubes, jogadores ou treinadores. Vem-nos logo à cabeça as dinastias de Alex Ferguson e Arséne Wenger, que marcaram uma geração no Man United e no Arsenal, e cujo legado foi reconhecido esta semana, com a adição dos dois à Hall of Fame da liga inglesa. Apesar de algumas picardias de tempos a tempos, até era uma rivalidade moderada. Depois chegou Mourinho, que com o seu jeito disruptivo, não poupava ninguém. Chamou gordo a Rafa Benítez, disse que Wenger era um “especialista em falhar”, por aí fora. Em Espanha, os bate-bocas nas conferências de imprensa entre ele e Guardiola eram entretenimento puro, que em Portugal chegou a ter a sua versão da Wish, com Jorge Jesus e Rui Vitória.
Após a reforma de Sir Alex, uma queda abrupta do Arsenal de Wenger e alguma intermitência de Mourinho na Premier, abriu-se espaço para uma nova dinastia: Guardiola e Klopp. Guardiola chegou ao Manchester City em 2016 com o objetivo de criar uma hegemonia interna e vencer a Champions. Já Klopp tinha de trazer competitividade a um clube muito irregular na altura, e fazer com que os Reds vencessem a sua primeira Premier League. Ambos já se tinham encontrado na Bundesliga, enquanto treinadores de Bayern e Dortmund, porém encontraram em Inglaterra um palco com mais recursos e mediatismo para mostrarem as suas qualidades.
O choque de estilos foi claro no início. O futebol heavy metal do Liverpool, baseado nas suas transições ofensivas letais, chocava de frente com a orquestra sinfónica de Guardiola, cujo objetivo era pautar os tempos do jogo e nunca perder o seu controlo. Esse choque foi-se esbatendo, pois tanto o Liverpool aprimorou o sua organização ofensiva, como o Man City se tornou mais hábil nos contra-ataques. Ambas as equipas se tornaram mais completas e mais flexíveis. Melhoraram-se mutuamente e foram-nos habituando a campeonatos sempre à volta dos 100 pontos. Se o Man City sempre foi mais feliz no campeonato (tendo até por duas vezes disputado o mesmo até à última jornada contra o Liverpool), na Champions a equipa de Klopp transformava-se, exceto contra o carrasco Real Madrid.
Conquistaram títulos, evoluíram o desporto e trouxeram espetáculo. Porém, nunca tiveram uma zanga. Um desrespeito. Um bate-boca. Aliás, até insistiam em entrar em brincadeiras e a elogiar o trabalho um do outro. Isto é lamentável. Como é que se consegue ser competitivo sem odiar o rival? Sem promover a cultura de vencer a qualquer custo? Para muitos não cabe na cabeça, mas a abertura (ou falta dela) de um treinador ou de um clube nada tem que ver com sucesso desportivo. Não é por Mourinho gostar de apostar nos mind games que é um vencedor nato, bem como não é por serem amigos fora de campo que Guardiola e Klopp não se desafiam constantemente um ao outro. Ainda hoje, numa época terrível para o Liverpool, os Reds discutiram o jogo contra os Citizens, até Álvarez aparecer no jogo, decidido a disputar uma vaga no onze titular contra o todo-poderoso Erling Haaland. Acho que o facto de personagens tão carismáticas e vencedoras quanto eles se darem bem só demonstra o quão podemos beneficiar de rivais se darem bem.
Para mim, a abertura é algo bom. Um treinador explicar o seu modelo de jogo é bom. Um jogador poder participar numa conversa de um projeto independente é bom. Os adeptos terem acesso a isto é bom. Potencia-se o gosto pelo desporto e mais do que tudo um ambiente saudável. E garanto que não afeta o rendimento desportivo de uma equipa. Perguntem às quatro Premier League´s de Guardiola e à Premier League e à Champions de Klopp.
João Blanco
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