O Brasil é um país que, apesar de ter semelhanças com Portugal, possui muitas diferenças - e no vocabulário não seria diferente: um telemóvel lá é celular, autocarro é ônibus… A seguir a lógica, as expressões futebolísticas também não são iguais, com os avançados a tornarem-se atacantes, centrais passam a zagueiros e Panenka, nome que vocês tanto ouviram e viram por aí, torna-se Cavadinha!
Assim surgiu o Cavadinha, espaço do substack do 78 que vem explorar o futebol brasileiro e todas as peculiaridades e acontecimentos deste tema que está cada vez mais presente, fruto da crescente ligação Brasil/Portugal dentro e fora do futebol. Podem esperar então de tudo: Campeonato Brasileiro, Libertadores, Flamengo, Palmeiras, Santos, Pelé, Neymar, Estaduais, Abel Ferreira, Telê Santana… tudo o que quiserem saber sobre o futebol brasileiro e muito mais!
Futebol brasileiro
Mas, sem mais introduções, vamos lá começar. Imagino que não seja surpresa para ninguém que, no Brasil, se joga futebol, até porque estamos falar de um país cinco vezes campeão do mundo. Por outro lado, são poucas as pessoas que, sem ter qualquer ligação com o país-irmão, conhecem o futebol que está por trás do famoso verde e amarelo que marcou a história do Futebol. Por isso, o primeiro tema que vai ser abordado é, talvez, o mais importante de se saber logo de início: o sistema de ligas do futebol brasileiro.
Com o recente fenómeno de treinadores portugueses a trabalhar no “País do Futebol”, fruto dos sucessos de Jorge Jesus, pelo Flamengo, e Abel Ferreira, pelo Palmeiras, o futebol brasileiro tem sido uma realidade cada vez mais presente na comunidade futebolística portuguesa, o que leva ao choque de quem tenta acompanhar um calendário muito maior e complexo do qual estamos habituados em Portugal.
São comuns comentários como “no Brasil inventam milhões de torneios”, “o calendário nem faz pausa para as seleções” ou “as equipas fazem 70 jogos por época”: verdade, verdade e verdade. No Brasil existem muitas competições que em outros países não acontecem, o que consequentemente torna o calendário maior (exemplo disso é o Flamengo, que em 2022 disputou 77 encontros - 22 a mais que o Benfica, que jogou 55 vezes em 2021/22). Com tantas partidas e competições para se disputar em um ano, parar os campeonatos durante os jogos internacionais é quase impossível, concluindo assim o último ponto.
Competições Estaduais
Isso tudo para começarmos a entrar na principal questão: as competições. “Estaduais? Isso é o quê?”, perguntam vocês. Para se perceber então como funciona o futebol do Brasil é também preciso perceber um pouco da sua divisão geográfica e administrativa. O Brasil é dividido em cinco regiões (Norte, Nordeste, Centro Oeste, Sudeste e Sul) que, por sua vez, são divididas em Estados/Unidades Federativas (que são no total 27). A questão aqui é que o Brasil é gigante! Para se ter uma ideia, 20 das 27 Unidades de que estamos a falar são maiores do que Portugal! Estamos a falar de um país tão grande que só na cidade de São Paulo há 12 Milhões de habitantes… não há comparação com a realidade portuguesa.
Sendo então um país tão grande e tão populoso, é de se imaginar que não foi fácil estruturar campeonatos e um sistema que englobasse todo o território, sobretudo em épocas em que o transporte não era tão fácil. Com as primeiras equipas a surgir por volta de 1900, a verdade é que um campeonato nacional de clubes só é oficialmente realizado em 1959, ano da primeira Taça Brasil. Contudo, não haver um campeonato nacional não quer dizer que não se jogava futebol durante essas quase seis décadas. É aí que entram os Estaduais: competições organizadas pelas Federações de Futebol de cada Estado e que contam com a participação das equipas locais. É a partir desses campeonatos que o futebol, as suas equipas, as suas rivalidades e os seus intervenientes começam a se popularizar no Brasil, sendo por isso tão queridos e disputados anualmente até os dias de hoje.
Antes de seguir com o tema, fica uma nota com os nomes de alguns dos campeonatos estaduais e as suas respetivas Unidades Federativas, para não gerar dúvidas: Paulista = São Paulo, Carioca = Rio de Janeiro, Mineiro = Minas Gerais, Gaúcho = Rio Grande do Sul, Paranaense = Paraná, Baiano = Bahia, por aí fora… No fundo, o nome que se dá ao campeonato é o mesmo que se dá à pessoa ou objeto desse mesmo lugar (um campeonato organizado pela Associação de Lisboa seria o Campeonato Lisboeta, por exemplo).
Sistema de Ligas do Brasil
Explicado o que são os Estaduais, vamos então ver como estes inserem-se, anda hoje, no sistema de ligas. Como dito, o Brasil tem essa particularidade de ter duas pirâmides simultâneas no futebol: a nacional e as estaduais. O que foi feito é que, apesar de serem pirâmides independentes, hoje, elas próprias formam uma hierarquia entre si, com as competições estaduais na base e as nacionais no topo da pirâmide. Os participantes da última divisão nacional, por exemplo, são definidos pelos resultados dos Estaduais, assim como os participantes da Copa do Brasil.
Vamos então aos Campeonatos Nacionais. Organizados pela CBF, são quatro as divisões nacionais do Brasil, nomeadas de acordo com o alfabeto: Série A, Série B, Série C e Série D (da Primeira à Quarta divisão, respetivamente). As Séries A, B e C possuem 20 equipas cada, com as duas primeiras a serem disputadas num campeonato de pontos corridos de 2 voltas, como a maioria das ligas mundiais, enquanto a terceira joga-se numa volta de pontos corridos seguida de uma segunda fase, disputada por 2 grupos de quatro, que define os finalistas. A Série D, por sua vez, é disputada por 64 equipas, que se enfrentam numa primeira fase de grupos e depois em eliminatórias.
As promoções e despromoções envolvem os quatro primeiros e quatro últimos de cada divisão (no caso da Série C, são promovidos os finalistas e os segundos lugares da segunda fase; na Série D, promovem-se as quatro equipas nas meias-finais). Os participantes da Série D são definidos pelos resultados dos Campeonatos Estaduais, sendo selecionadas as equipas com melhor desempenho e que não estejam em nenhuma divisão superior. O número de vagas por Estado varia de acordo com a posição do estado no Ranking Nacional de Federações, variando entre quatro e um representantes por Estado.
Toda esta loucura faz com que nenhuma equipa das mais de 600 que existem no Brasil fiquem sem jogar, mas leva a um calendário extremamente ocupado, como já vimos, especialmente para as equipas de topo, que disputam ainda provas internacionais. O Flamengo, por exemplo, (atual campeão da Libertadores) joga, em 2023, o Campeonato Carioca, o Mundial de Clubes, a Recopa Sul-americana, a Supercopa do Brasil, a Libertadores, o Campeonato Brasileiro e a Copa do Brasil, totalizando sete competições, uma realidade incompreensível para quem é de fora do país.
Esta é então um pouco da história por trás do porquê o futebol brasileiro é do jeito que é, mas ainda há muito do que se falar: quais são os maiores campeonatos estaduais, a implementação do campeonato nacional, rivalidades, a Copa do Brasil, os Campeonatos Regionais (sim, também há isso), as provas Continentais, a Seleção Brasileira, os treinadores portugueses no Brasil… se querem saber mais sobre isso tudo e mais, estão no sítio certo!
Bem-vindos ao Cavadinha!
Lucas Lemos
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