Tardou, mas apareceu.
Embora a janela de transferências tenha terminado há quase um mês, só ontem Rui Costa decidiu dar uma entrevista sobre a mesma.
Embora a janela de transferências tenha terminado há quase um mês, só ontem Rui Costa decidiu dar uma entrevista sobre a mesma, falando das entradas, saídas e dos valores envolvidos – bem como da questão Bruno Lage. Algo vaga, com algumas frases feitas e sem explicações importantes, este é mais um momento que vai demonstrado o ciclo não tão positivo que se vive na Luz. Sejam bem-vindos ao primeiro É um café e o jornal da época.
“Não podemos cortar as asas…”
Frase dita mais que uma vez e que fui utilizada para justificar os mais diversos negócios. João Neves e a proposta irrecusável. Neres e a sua vontade de mudar de ares. Morato e a sua saída para Inglaterra…enfim, todos mantiveram as suas asas e voaram para longe. Num mercado difícil (existência do Euro e valores de vendas mais baixos), como caracterizou Rui Costa, em que Sporting manteve os seus principais ativos, reforçando-se onde era necessário e Porto, com todas as dificuldades envolvidas, conseguiu adicionar ativos interessantes ao seu plantel e tratar de diversos dossiês (grande parte sem comissões envolvidas, provando que os clubes desta dimensão não têm de ter sempre 10% de comissão alocada a empresários, contrariamente ao que disse Rui Costa), o Benfica acaba por sair como sendo o “grande” mais frágil. A venda de João Neves por um valor baixo – tendo em conta todo o valor do jogador – a saída de Neres, um dos maiores desequilibradores do Benfica, em deterimento da manutenção de Di Maria no plantel, a forma como se vende Marcos Leonardo, claramente mostrando que o plano desportivo é secundário…muitas coisas ficaram por explicar num momento em que, para muitos, o caminho até 2025 ainda parece longo e tortuoso.
“Há muito referenciado…”
Se várias vendas foram difíceis de explicar, as chegadas não foram diferentes. Depois de, numa iniciativa curiosa do Benfica, o reforço turco, Akturkoglu, ter referido que o seu negócio se tratou num dia, o presidente do Benfica afirmou que o turco estava referenciado há muito tempo e que o negócio só se proporcionou tão tarde devido a leis de imigração, não assumindo que o jogador (até agora, um dos melhores reforços do campeonato, o melhor do Benfica) foi uma situação de recurso. Da mesma forma que Kaboré foi uma situação de recurso – tão de recurso que, ao fim de 45 minutos a jogar, foi suplantado por um central, da mesma forma que a venda de Marcos Leonardo é um recurso à não saída de Arthur Cabral. Em relação a Pavlidis, de facto aparenta ser um bom jogador e a falta de “serviço” dificultou o seu trabalho, mas longe de ser uma aposta falhada, pelo menos por agora. A questão Renato também é digna de nota. “Com a saída do João Neves, havia a necessidade também de colmatar essa saída e houve esta oportunidade de perder um jogador da casa, mas trazer um outro jogador da casa para dentro” é uma forma interessante de abordar a questão. Ignorando os perfis totalmente distintos de ambos os jogadores, ignorar que Renato tem sido um lesionado crónico (em clubes de topo na Europa, com o melhor acompanhamento médico possível) e achar “ser da casa” é sinónimo de ser uma boa contratação é uma justificação sofrível para a contratação de um jogador conhecido pela assiduidade nos departamentos médicos dos últimos clubes por onde passou –já fez até a 1ª visita ao da Luz.
“Este plantel podia até ter sido construído por Bruno Lage”
Para terminar, falar da questão que trouxe alguma incredulidade quando aconteceu. O despedimento de Schmidt acontecer a momentos do final do mercado e atacar-se a época desportiva com um treinador que não foi uma peça na construção do plantel é bizarro. Se não havia confiança no treinador, não se avançava com ele para a época. Havendo, não era uma entrada menos conseguida que colocaria essa confiança em causa. E, perante todo este rebuliço de início de época, ainda fingir que há algum norte nas decisões tomadas, pode ser insultuoso para os benfiquistas que se vêm inundados de um chorrilho de justificações pouco plausíveis. O plantel foi feito à imagem de um treinador. Com a saída desse treinador (no qual já ninguém acreditava desde o final da época passada) precisou-se de tomar uma decisão de recurso (lá está, os recursos outra vez). Essa decisão passou por um treinador que não tem um bom trabalho desde a primeira época no Wolves e que vem depois de ter saído de uma forma bastante anti climática também – a forma como se tenta reconciliar com a massa adepta é uma evidência disso. Este é o pano de fundo de um início de época desastroso. Um mau mercado, más decisões desportivas e a perceção, uma vez mais, que este modelo desportivo e financeiro é inviável – comprar muito e vender ainda mais leva a situações como as de Neves e Marcos Leonardo, em oposição do que acontece do outro lado da 2ª circular. 2025 vai ser um ano duro para os benfiquistas, mas assistir a esta situação enquanto imparcial será uma experiência curiosa.
Obrigado e até daqui a 15 dias.
O “É um café e um jornal” é uma crónica assídua do 78. As crónicas “café” são mais curtas, rápidas, possivelmente, mas não necessariamente, sobre algo mais atual. As crónicas “jornal” exploram mais a fundo um qualquer tema. Nem sempre será café, nem sempre será jornal. O objetivo é pedir, pelo menos, um jornal por de tempos a tempos, e nas restantes ocasiões, servir cafés. Boa leitura.
Pedro Brites