Treinadores Portugueses no Brasil
Tudo sobre a “febre portuguesa” que se vive no país do Futebol.
Mais uma Cavadinha! Este é o terceiro texto deste espaço dedicado ao futebol do Brasil, completando um autêntico, se mo permitem dizer, hat-trick de informações, curiosidades e características cruciais para se perceber o que se passa nos relvados do outro lado do Atlântico.
Tendo já falado sobre o Sistema de Ligas do Brasil e do Campeonato Brasileiro em si, passamos então a principal do futebol brasileiro: os seus intervenientes. As 20 equipas que compõem o Brasileirão não são novidade (se for, é porque não viu o último texto… Sem stress, ainda vai a tempo! Carrega aqui e fica a par do Brasileirão 2023), então do que é que se vai falar? Jogadores? Ainda não. Hoje, o tema são as cabeças por trás das equipas: os treinadores — mais especificamente, os treinadores portugueses no Brasil.
Brasil e Portugal, países irmãos
A relação Brasil-Portugal dentro do futebol não é de 1500, mas já vem de algum tempo. Jogadores brasileiros em Portugal são mais do que comuns: dos 1219 atletas canarinhos que atuam fora do país, 231 atuam no futebol português. Isso sem falar em casos de naturalização, como os do Otávio, Matheus Nunes e Pepe, por exemplo, que representam a Seleção das Quinas. Quando falamos de Treinadores brasileiros em Portugal, a história mantém-se, mas não da mesma forma: apesar de serem poucos os treinadores importados do país irmão atualmente, os técnicos brasileiros já foram fonte de inspiração para o futebol português. De Otto Glória a Scolari, os treinadores brasileiros contribuíram para a profissionalização da modalidade no país.
📷CIES Football Observatory
O que se verifica nos dias de hoje e que torna os treinadores a atuar no Brasil um tema tão relevante é a situação inversa: Portugal tem apresentado uma leva de bons treinadores, reconhecidos mundialmente (como Mourinho, Amorim, Conceição, etc.), e o Brasil, assim como muitos outros países, tem recorrido aos treinadores lusitanos para tentar modernizar o seu futebol.
Treinadores portugueses no futebol brasileiro
📷Getty Images
Vamos então aos dados: até aos dias atuais, cerca de 20 treinadores lusos já comandaram emblemas brasileiros, com nove oito sete a atuarem ainda no Brasil (de janeiro até hoje, dois foram já despedidos. É complicado). Com a exceção do Jorge Joreca, do Cândido de Oliveira e do Ernesto Santos, que trabalharam nas décadas de 40 e 50, a opção por comandantes lusos é algo um tanto quanto recente. O próximo nome surgiria em 2011, com Paulo Morgado, mas longe da elite do futebol brasileiro. Entre 2015 e 2016, mais duas apostas: Sérgio Vieira, no Athletico-PR, e Paulo Bento, no Cruzeiro, ambos com passagens breves e que não deixam saudade. Ou seja, entre 1940 e 2016, apenas seis dos 20 portugueses tinham já passado pelo Brasil, número que não pode ser considerado uma “febre”. Então quando é que começa esse interesse acentuado? É em 2019, com o Flamengo, que Jorge Jesus encantou a América do Sul e abriu as portas para a entrada de compatriotas no mercado brasileiro: a partir desse ano, a aposta em treinadores lusos não para, com 13 outros portugueses a trabalhar no Brasil nos últimos três anos (alguns em mais de uma equipa, até).
Mas espera um pouco. 13 nos últimos três anos? E, mesmo nesse pouco tempo, agora só há sete? Sim. Foram seis demitidos? Não, na verdade, foram sete demitidos! Um dos sete treinadores a trabalhar ainda no Brasil é o Paulo Morgado, com mais de 10 anos a explorar o futebol do estado do Amazonas, o que quer dizer que sete dos 13 treinadores contratados de 2020 até hoje já não estão no Brasil. Entramos então num assunto relevante para perceber o porquê disso: caso alguém não saiba, o Brasil é um país onde existe um certo fenómeno: a “dança dos treinadores”, o que quer dizer, de forma simples, que trabalhos a longo prazo são uma realidade raríssima, e alguns dos treinadores portugueses descobriram da pior forma.
Dessa “dança”, surge uma teoria minha a que gosto de chamar “teoria dos 20”. Basicamente, quando um treinador é contratado por uma equipa brasileira, há uma grande possibilidade de ser despedido sem completar ao menos 20 jogos pelo clube. Acham que estou a exagerar? E se eu disser que oito treinadores portugueses, quase metade de todos que já trabalharam no Brasil, passaram por isso? Vamos lá ver então: Sérgio Vieira foi dispensado do Athletico-PR após dois (dois!) jogos; Cândido de Oliveira (apesar de circunstâncias diferentes) cumpriu 6 jogos no Flamengo; Augusto Inácio esteve 7 jogos ao serviço do Avaí; Paulo Bento saiu do Cruzeiro após 15 confrontos, assim como Jesualdo Ferreira, no Santos, e Sá Pinto no Vasco; António Oliveira comandou o Coritiba em 17 ocasiões e Vítor Pereira, após ano positivo no Corinthians, foi despedido do Flamengo após 18 jogos. Oito treinadores que, juntos, não chegam a 100 jogos e território brasileiro.
📷Getty Images
Sucessos
Mas se toda a gente é despedida tão facilmente, quem é que conseguiu ter sucesso no Brasil? Definir sucesso no futebol é um pouco complicado, porque depende sempre da equipa e dos objetivos da mesma. Jorge Jesus e Abel Ferreira são considerados os dois grandes sucessos portugueses no Brasil, tendo conquistado múltiplos títulos pelo Flamengo e Palmeiras, respetivamente, mas Luís Castro, que assumiu um Botafogo em reestruturação, recém-promovido da Série B, conseguiu manter a equipa do Rio de Janeiro na elite do futebol brasileiro e, apesar de estar num momento delicado nesse início de época, não pode deixar de ser referido como um relativo sucesso após alcançar um ano de trabalho no “Fogão”, algo raro no Brasil.
Além disso, existem casos de quem tenha tido sucesso numa equipa, mas não em outra, como foi o caso de Vítor Pereira, que após um ano em que levou o Corinthians às meias-finais da Libertadores e à final da Copa do Brasil, mas, ao dar o “salto” para o Flamengo, não foi feliz. António Oliveira, apesar de não ter tido um sucesso inquestionável, conseguiu bons trabalhos no Athletico-PR (levou a formação paranaense às meias da Taça Sul-Americana e da Copa do Brasil, mas pediu demissão por questões pessoais) e no Cuiabá (evitando a despromoção da equipa do Mato-Grosso), o que não aconteceu no Coritiba.
Então quem é que é o grande nome português do futebol brasileiro? Jorge Jesus foi o primeiro, fez história e tem a sua volta desejada constantemente pelos adeptos do Flamengo. Mas e o Abel? Veio ao Palmeiras depois do JJ ter rumado ao Benfica, mas também dominou a América desde então. Será que ultrapassou os feitos de Jesus? Ou o que o “mister” fez pelo Flamengo é inalcançável? Os dados estão aí, a escolha é sua:
Portugueses no Brasil em 2023
📷Getty Images (colagem feita por mim)
Até ao dia 10/4 desse ano, eram nove os treinadores portugueses a atuar no Brasil. Em questão de duas semanas, Vítor Pereira e António Oliveira foram despedidos do Flamengo e do Coritiba, respetivamente, levando o número para sete. Dos sete, seis comandam equipas da Série A, sendo Paulo Morgado (Operário-AM) a exceção. Morgado é, também, o treinador que está há mais tempo no país, 12 anos, tendo passado por dez emblemas diferentes. Abel Ferreira, com quase três anos de casa, e Luís Castro, que em março completou um ano no Botafogo, também já levam um certo tempo no Brasil. Mesmo assim, há ainda quatro portugueses que se estão a estrear nos relvados do país do futebol: Ivo Vieira (Cuiabá), Pedro Caixinha (Red Bull Bragantino), Pepa (Cruzeiro) e Renato Paiva (Bahia). Podem ter começado há pouco, mas já tiveram trabalho (alguns, inclusive, escaparam à infame “teoria dos 20”). Veja a síntese:
Os treinadores portugueses são uma realidade cada vez mais comum no futebol brasileiro. O que fica é a esperança de que os sete a atuar no Brasil consigam (continuar) um bom trabalho, honrando ainda mais a escola portuguesa e contribuindo para o desenvolvimento futebolístico do Brasil, assim como outrora fizeram os treinadores brasileiros em Portugal.
Lucas Lemos
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