Final da UEFA Women's Champions League 2025: Lisboa é o caminho da História
Uma semana após coroar o Sporting campeão nacional, o Estádio José Alvalade será também palco da grande decisão da UEFA Women's Champions League entre Arsenal e Barcelona.
No próximo sábado, 24 de maio, o futebol feminino europeu atinge o seu ponto alto do ano, com a realização da Final da UEFA Women’s Champions League no Estádio José Alvalade, em Lisboa. Num confronto que promete não apenas espetáculo, mas também simbolismo, Arsenal e FC Barcelona disputam o título europeu num palco que representa tanto tradição como renovação. Lisboa torna-se, assim, a capital do futebol feminino, recebendo pela primeira vez esta final no recinto leonino.
A UEFA Women's Champions League, que em 2001 nasceu como UEFA Women's Cup, é hoje o principal palco de consagração do futebol feminino de clubes. O Arsenal foi pioneiro ao vencer a 5ª edição da prova, em 2006/07, mas nunca mais voltou a uma final desde então. Já o Barcelona é presença constante nas últimas fases da competição: esta será a sua quinta final nas últimas seis edições, com títulos em 2021 e 2023.
Se as inglesas são o símbolo da história, as catalãs são o emblema da modernidade, num contraste de perfis que dá à final um sabor especial: tradição contra hegemonia recente; recomeço contra confirmação.
E, num jogo tão simbólico por si só, a escolha da capital portuguesa pela UEFA também é tudo menos aleatória. Lisboa representa, hoje, um polo emergente do futebol feminino, com o crescimento interno da Liga BPI e o aumento do número de praticantes federadas. O palco, José Alvalade, que já recebeu jogos do Euro 2004 e finais de competições europeias masculinas, ganha aqui um significado adicional: abrir as portas a um novo capítulo de afirmação da modalidade.
A época 2024/25
Com seis estreantes na fase de grupos, a edição 2024/25 da Women’s Champions League confirmou a crescente competitividade da modalidade. O nível técnico e tático aumentou, as audiências também, e a UEFA aposta cada vez mais na valorização mediática da competição — culminando, este ano, em mais uma final em estádios grandes e num país onde o futebol feminino está em franca expansão.
O Man City foi, talvez, a grande surpresa, conseguindo o apuramento para a fase final na sua época de estreia (e empatado com o Barcelona em pontos no grupo!). O Real Madrid também começa a “dar a cara” no Futebol Feminino, alcançando os quartos pela primeira vez de sempre — não tendo, por um golo, eliminado as finalistas do Arsenal.
Com o Lyon a superar a marca de 500 golos marcados na prova, a UWCL contou com impressionantes 231 golos marcados até ao momento — uma média de 3.85 golos por jogo ou um golo a cada 23 minutos. Barcelona e Arsenal foram, juntamente ao Bayern, as equipas mais dominantes, liderando estatísticas como golos, posse de bola e precisão de passe da Liga, evidenciando o alto nível que se espera desta grande final.
Arsenal: o renascer europeu das Gunners
Única equipa inglesa a ter vencido esta competição — em 2007 —, o Arsenal chega a esta final com a história do seu lado (é a segunda equipa mais tradicional a nível de presenças e recordes, atrás apenas do Lyon), mas também com o peso das expectativas. Afinal, esteve anos a fio longe dos grandes palcos europeus. A temporada 2024/25 marca, por isso, um renascimento competitivo da formação londrina. Sob o comando de Renée Slegers, as Gunners construíram uma campanha sólida, marcada por um misto de pragmatismo tático e talento individual.
Ultrapassando Rangers e Rosenborg na fase de qualificação, o Arsenal iniciou a fase de grupos com uma pesada derrota frente ao Bayern (2-5), que rapidamente virou motivação: venceram os cinco jogos seguintes, dominaram Juventus e Vålerenga e qualificaram-se como líderes do grupo. Nos quartos-de-final, frente ao Real Madrid, souberam responder a uma primeira mão dececionante (0-2) com uma reviravolta notável em Londres (3-0), em que Alessia Russo brilhou. Na meia-final, voltaram a demonstrar nervos de aço, superando o Lyon com um golo tardio de Frida Maanum e uma exibição defensiva exemplar na segunda mão.
O plantel do Arsenal alia experiência a ambição. Kim Little continua a ser o cérebro no meio-campo, enquanto Stina Blackstenius, Beth Mead e a recém-chegada Mariona Caldentey oferecem soluções ofensivas variadas. Esta final é, para o Arsenal, a possibilidade de recuperar a sua aura europeia e de provar que o investimento no feminino pode render títulos.
Barcelona: entre hegemonia e afirmação total
O FC Barcelona chega à final como campeão em título e equipa a abater. Com duas conquistas nos últimos três anos, as catalãs transformaram-se no símbolo máximo do futebol ofensivo e estruturado na vertente feminina. Sob o comando de Pere Romeu, o Barça procura completar uma época quase perfeita.
O percurso até à final foi praticamente irrepreensível. Líderes da Fase de grupos com apenas 3 golos sofridos, goleadas nos quartos frente ao Wolfsburg (10-2) e nas meias-finais frente ao Chelsea (8-2) e vitórias nos quatro jogos até Alvalade. Com um futebol fluído, coletivo e quase mecânico. A base da seleção espanhola campeã do mundo está toda aqui — Alexia Putellas, Aitana Bonmatí, Patri Guijarro —, contando ainda com nomes como Graham Hansen, Salma Paralluelo ou a versátil Fridolina Rolfö.
Este Barcelona é uma equipa que combina posse e verticalidade, que domina com e sem bola, e que tem profundidade no banco. Frente ao Arsenal, tentará impor o seu estilo — mas terá também de lidar com uma equipa inglesa mais cínica, mais preparada para a transição, e disposta a abdicar da bola para explorar o erro adversário.
A missão é uma só: manter a hegemonia.
Mais do que uma Final
Apesar de só por uma vez ter conseguido pôr uma equipa nas fases finais da UWCL, vale referir que Portugal tem servido, cada vez mais, como cenário para o crescimento da modalidade: O Benfica consolidou a sua presença europeia, o Sporting regressou à ribalta interna e os estádios portugueses tornam-se opções viáveis para grandes finais. A realização do jogo em Lisboa é mais do que um prémio de rotatividade geográfica, é um sinal de aposta estratégica da UEFA no mercado português.
Bilhetes acessíveis, campanhas de divulgação e o apoio institucional da FPF e da Câmara Municipal de Lisboa… Espera-se um bom público em Alvalade — um estádio icónico, carregado de história, agora (finalmente) ao serviço da evolução do futebol feminino europeu.
A final de Lisboa é, em última instância, o espelho da evolução da UEFA Women’s Champions League e do futebol feminino europeu, com o Arsenal de regresso ao lugar onde outrora brilhou e o Barcelona a querer perpetuar o seu domínio. Lisboa acolhe a festa, e Portugal escreve mais uma página no seu envolvimento com o futebol no feminino.
No sábado, o relvado de Alvalade verá muito mais do que um jogo: verá o passado, o presente e o futuro da modalidade a colidirem.
Vemo-nos lá.
Lucas Lemos
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