LCA, o terror do futebol feminino
Lesões no ligamento cruzado anterior (LCA) é uma das mais temidas, mas mais frequentes, no futebol feminino. A discrepância entre estes casos no futebol feminino e masculino continua a ser um mistério
O ligamento cruzado anterior (LCA) é uma banda que liga o fémur à tíbia, estabilizando o joelho e sendo fundamental no movimento do indivíduo. A lesão neste ligamento não é rara, principalmente no futebol feminino. Para além disso, é uma das que conduz a um maior período de paragem. Por norma, associa-se a problemas nos meniscos, nos ligamentos ou na cartilagem.
Há várias formas de contrair esta lesão, seja por contacto direto- traumatismos-, seja por contacto indireto (mudanças de direção, quedas e entorses). No entanto, é por contacto indireto que se assiste a uma discrepância avassaladora na probabilidade de ocorrer uma adversidade desta estirpe em mulheres e em homens. As atletas femininas têm 6 vezes mais propensão de terem uma lesão no LCA do que os masculinos. Há algumas explicações para que tal aconteça, ainda que este seja um tema que escasseia de justificações explícitas. O treino de força, por exemplo, é uma das recomendações na prevenção desta lesão. Contudo, essa prática é, por norma, mais intensa e regular no planeamento de treinos de futebol masculino do que no feminino. Outras das causas parecem assentar no facto de as jogadoras terem maior propensão a possuir ligamentos mais reduzidos e a um aumento da fadiga na zona do joelho, devido a questões biológicas. Aliás, durante o ciclo menstrual, as senhoras estão particularmente vulneráveis a problemas nos LCA, já que há recetores de hormonas nesses mesmos ligamentos. De modo a precaver a incidência desta lesão, além do já referido reforço do treino de força muscular, é sugerido investir mais tempo em exercícios de agilidade, equilíbrio, mobilidade, corrida com mudança de direção, treinos neuromusculares, agachamentos e prática de várias técnicas de saltos. Os alongamentos também não devem ser esquecidos.
Para se ter uma maior noção do quão demoníaca é esta questão no seio do futebol feminino, nos últimos 6 meses, o Arsenal FC, um dos grandes clubes do futebol inglês e europeu, somou 4 baixas devido à problemática referida ao longo deste texto. Leah Williamson, Beth Mead, Vivianne Miedema e Laura Wienroither, algumas das principais protagonistas das londrinas, não puderam mais dar o seu contributo à equipa, desfalcando a mesma numa altura decisiva da época. Tudo indica que falharão, também, o Campeonato do Mundo 2023, que se realiza entre 20 de julho e 20 de agosto, na Austrália e Nova Zelândia. Já no ano passado, Alexia Putellas, atualmente, melhor jogadora do mundo, e Marta, uma das melhores futebolistas da história do jogo, tiveram, precisamente, a mesma lesão, e viram-se impedidas de disputar o Euro 2022 e a Copa América 2022, respetivamente. Naturalmente, o número de vítimas desta problemática é, no mínimo, misteriosa. O pouco esclarecimento sobre uma das lesões que mais desfalca as equipas femininas conduziu a uma indignação geral, não escondida por parte de Leah Williamson. A capitã da seleção inglesa admitiu achar “importante que, coletivamente, façamos mais para pesquisar sobre o LCA. Tem sido muito comum no futebol feminino”. A ideia de (des)igualdade de género está, mais uma vez, posta em causa, já que a atleta dos vermelhos de Londres acredita que “se isto acontecesse com tanta frequência no futebol masculino, muito mais teria sido feito”. Por essa razão, em Inglaterra, surgiu um movimento de apelo ao maior escrutínio das razões que conduzem ao desenvolvimento de lesões no LCA.
Este é, então, um tema sensível entre as futebolistas. O sentimento de injustiça em relação aos homens é, também neste caso, bem visível. De facto, parece estranho que um problema que afeta tantas atletas tenha tão pouco sumo para ser espremido. Será que se, efetivamente, houvesse maior ocorrência deste fenómeno entre os futebolistas masculinos, teríamos acesso a mais informação? A resposta pode não ser clara, mas é essencial que se procure saber o que fazer mais na prevenção deste dano, em como tratá-lo num período mais curto e nas razões que conduzem a um número tão superior no futebol feminino em comparação ao masculino.
Algumas jogadoras que irão, ao que tudo indica, falhar o Mundial devido a esta lesão:
· Vivianne Miedema, Arsenal FC e Países Baixos;
· Leah Williamson, Arsenal FC e Inglaterra;
· Janine Beckie, Portland Thorns FC e Canadá;
· Katie Rood, Heart of Midlothian WFC e Nova Zelândia;
· Beth Mead, Arsenal FC e Inglaterra;
Algumas jogadoras em dúvida para o Mundial devido a esta lesão:
· Christen Press, Angel City FC e Estados Unidos da América;
· Catarina Macário, Lyon FC e Estados Unidos da América;
· Marie-Antoinette Katoto, Paris Saint-Germain e França.
Manuel Brito Henriques
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