E só deu Benfica, outra vez
Supertaça, Taça da Liga, Liga BPI e Taça de Portugal. Parece muito, mas foi o que conquistaram as jogadoras do Sport Lisboa e Benfica, na temporada de 2023-2024.
De facto, é muito, ainda para mais se nos lembrarmos que, esta época, fizeram história na Champions League. Na fase de grupos defrontaram o FC Rosengard, Eintracht Frankfurt e FC Barcelona e terminaram no segundo lugar do grupo, com duas vitórias, três empates e uma derrota, o que permitiu uma histórica ida aos quartos-de-final. Neste patamar, nunca antes alcançado por nenhuma equipa portuguesa, não conseguiram superar o Lyon que se prepara para enfrentar mais uma final europeia.
Por um lado, na Europa, mostraram que o futebol feminino português, apesar de ainda pouco expressivo, não pode ser desvalorizado. Por outro lado, a nível nacional é caso para dizer que ganharam tudo o que havia para ganhar, e mais se houvesse.
Na Supertaça, as encarnadas venceram o desempate por grandes penalidades frente ao Sporting. Voltaram a ganhar, frente ao rival, mais um título, desta vez a Taça da Liga, onde venceram pela margem mínima. Na prova Rainha, diante do Racing Power ganharam por 4-1, e apesar de não se terem apresentado no seu melhor nível, conseguiram impor o seu futebol e levantar a taça pela segunda vez.
Quanto à Liga BPI, esta época não foi tão demolidora quando comparada com as anteriores, acredito que terem feito mais 13 jogos que o rival direto tenha tido influência nas exibições. Ainda assim, creio que existiram algumas más gestões de equipa e que, por vezes, era necessário outra frescura no plano de jogo das encarnadas. Caso não haja essa mudança e evolução, acredito que a hegemonia pode ser perdida num futuro não tão longínquo.
Golo de Jéssica Silva, com assistência de Nycole Raysla, frente ao FC Barcelona, numa ótima jogada de contra-ataque.
É difícil encontrar adjetivos para caracterizar estas jogadoras ou eleger qual tenha sido a mais importante para o plantel. Por um lado, Kika Nazareth foi eleita a melhor marcadora e jogadora do campeonato e é inegável toda a sua influência, dentro e fora de campo. Como se a sua qualidade e todas as exibições de encher o olho não fossem suficientes para atrair as atenções dos gigantes europeus, dos 37 jogos que fez, marcou 25 golos e fez 8 assistências. No entanto, diria que existem outras jogadoras que foram o motor da equipa, nesta época.
Lúcia Alves, foi, para mim, o grande destaque da temporada 23/24. Para quem acompanhou esta época, penso que talvez não haja muito a dizer. Foram 43 jogos, 11 golos e 17 assistências, no entanto, acredito que os números não façam jus à importância que esta jogadora teve para o SL Benfica. É polivalente e consegue sempre ter boas exibições, quer seja na seleção ou no clube, assistindo à esquerda e à direita, sem nunca dar um lance por perdido. Diria que está melhor do que nunca e tem-se apresentado a um nível que, até então, não tínhamos visto, de tal forma que considero ser uma das melhores jogadoras portuguesas da atualidade.
Andreia Faria foi uma autêntica bomba de oxigénio no meio campo. Depois da ausência de Pauleta, a jovem da formação das encarnadas teve uma evolução categórica e pareceu ser capaz de liderar uma equipa, apesar dos seus 24 anos. Destaca-se por conseguir jogar de uma forma simples e fazer a diferença no ritmo de jogo, podendo, por vezes, passar despercebida nessa simplicidade.
Carole Costa, a capitã que é muito mais do que uma central que dá segurança à equipa. Esta época, mais do que tudo o resto, foi decisiva e nunca falhou quando foi chamada para decidir jogos. Lena Pauels, para muitos, decidiu títulos e permitiu que os resultados se mantivessem seguros quando a equipa não conseguia ser competente do ponto de vista defensivo.
Apesar de terem existido jogadoras que se destacaram, a verdade é que o SL Benfica provou, mais um ano, que o coletivo conseguiu sempre compensar eventuais falhas que tenham acontecido em alguns dos setores.
Lúcia Alves fez o 3-1 para o Benfica, com assistência de Kika Nazareth na conquista da Taça de Portugal
Em jeito de balanço de mais uma época, diria que é mais do que óbvio que, quando feito, o investimento colhe os seus frutos. É certo que ainda há muito que fazer para que a Liga BPI seja competitiva, até porque precisa de caminhar para a profissionalização, contudo, e principalmente com a campanha que o SL Benfica fez na Liga dos Campeões, está mais do que provado que se forem dadas condições, a evolução pode ser gigante.
Para além disso, considero que o crescimento de popularidade tem sido evidente e os adeptos têm correspondido com o apoio cada vez maior aos seus clubes. No entanto, é preciso que se tomem decisões que vão mais além do que tem sido feito e que, por exemplo, num jogo onde se decide o título, e depois de uma temporada exímia, se opte por dar o palco merecido a estas jogadoras e não o centro de treinos do Seixal.
Mafalda Ferreira Costa
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