O que esperar do Brasil?
Dorival Júnior anunciou a sua primeira lista de convocados para a seleção brasileira. Com Wendell, do Porto, e muitas “surpresas”, as dúvidas sobre o futuro da Canarinho não param de surgir.
Tivemos a primeira convocatória do Brasil em 2024 e, assim, temos também o primeiro Cavadinha do ano. O Brasil é sempre um bom tópico a ser debatido e, quando se trata da primeira lista de um novo treinador, sobretudo uma tão surpreendente, não seria diferente.
Com várias novidades para se analisar, Dorival Júnior anunciou os jogadores que irão representar a Canarinho nos amigáveis frente à Inglaterra e Espanha neste mês de março, e a lista deixou alguns dos adeptos receosos com a qualidade dos atletas selecionados, questionando-se se será este o futuro do Brasil.
Afinal, a Seleção Brasileira é a maior campeã da história. Com um histórico invejável de títulos e também estrelas mundiais ao longo dos anos, com Pelé, Nilton Santos, Zico, Taffarel, Ronaldo “Fenómeno”, Roberto Carlos, Ronaldinho, Romário, Kaká e, por último, Neymar, nomes que encantaram e marcaram milhões de adeptos ao redor do Mundo e criaram uma mística ao redor da “Amarelinha”.
Todos queriam “ser” o Brasil.
Contudo, o tempo passa, e as coisas mudam. O Futebol mudou. Novas gerações vêm e o “nome” não basta para o Brasil continuar como “O” Brasil. Num futebol que é, hoje, altamente competitivo, já não existem propriamente melhores e piores: existem os que trabalham melhor o seu desenvolvimento, e os que não o fazem ou fizeram. Para ser o melhor, é preciso um trabalho bem-feito, que alimente o potencial de cada atleta e que desenvolva grandes jogadores nas mais diversas posições e funções do jogo.
Será que o Brasil fez esse “trabalho de casa”?
O sentimento, ano após ano, é que não. Não é que o Brasil tenha deixado de produzir jogadores de alto nível, muito pelo contrário: vemos jovens entusiasmantes como Endrick, Vini Jr e Rodrygo, que têm um futuro enorme pela frente, mas conseguem ser já um “realidade”. A falta de talento não é o problema; o problema é como este talento está a ser trabalhado.
A cada ano que passa, a Seleção Brasileira começa a apresentar carências claras em certas posições, como a dos defesas laterais e a dos médios criativos, que parecem ser “ignoradas” e sobrepostas pela busca incessante de um “novo Neymar” ou “novo Pelé”, que leva a uma supervalorização de extremos e avançados e um consequente “desequilíbrio” na formação de novos atletas. Mas essa questão em si, do problema da formação do futebol brasileiro, pode ficar para outro dia.
O que importa por agora é mesmo ter esta noção de que o Brasil é já não é “O” Brasil. É uma ótima seleção, mas só isso. É apenas mais uma dentre as várias boas seleções que existem no Mundo, e, se quiser um dia recuperar o seu “status”, há muito trabalho pela frente.
Exemplos claros disso são, sempre, as convocatórias da Seleção. Já não estamos naquela época em que quando as pessoas viam os convocados do Brasil e “sentiam medo”, impressionados por tamanha qualidade. Mas será que a situação está assim tão mal? Vamos, então, ao que interessa, que é analisar a primeira lista de Dorival Júnior sob o comando do Brasil.
A Seleção Brasileira de 2024
Partindo agora para uma análise mais concreta dos 26 atletas chamados por Dorival, não podemos esquecer que se tratam de dois amigáveis, ainda mais os dois primeiros jogos de um novo treinador ao serviço da seleção. Logo, se há altura certa para inovar e testar novos jogadores, é esta. Não há melhor contexto para isso.
Com uma Copa América a ser disputada no meio do ano, é essencial analisar diferentes jogadores para decidir quem irá representar o Brasil quando a “coisa for séria”, e o novo treinador optou por manter o “ciclo de renovação” iniciado por Fernando Diniz. Nesse sentido, Dorival Júnior não se poupou.
Com cinco atletas que nunca haviam sido convocados (Rafael, Beraldo, Murilo, Pablo Maia e Savinho) e outros dez atletas que não constaram na última paragem de seleções. Os únicos que vestiram a amarelinha em novembro e voltam a figurar entre os convocados são Ederson, Gabriel Magalhães, Marquinhos, André, Bruno Guimarães, Douglas Luiz, Endrick, Raphinha, Vini Jr e Rodrygo — apenas 11 dos 26.
Vale referir, também, que atletas como Alisson, Éder Militão, Gabriel Jesus, Neymar, Thiago Silva e Vanderson, que poderiam ser opções válidas para a seleção, encontram-se lesionados ou a voltar de lesão, o que abre ainda mais espaço para novos nomes.
Assim, a análise da lista na totalidade dificulta considerar a real força da seleção do Brasil, visto que há todo um contexto por detrás que, sendo outro, talvez nos levasse a ter uma lista bastante diferente.
Contudo, mesmo sendo um contexto que possibilita bastante o teste de atletas, há nomes que se enquadram no cenário de ser um jovem com potencial interessante para a seleção e outros que não, assumindo um perfil de um jogador que dificilmente renderá algo concreto para a seleção e que se calhar esteja a ocupar um lugar que poderia ser melhor aproveitado.
Assim, concluo com uma análise individual de cada selecionado. Para não me alongar, falando especificamente da situação cada atleta, irei apenas classificar cada nome numa escala que vai de “Tem de estar na Seleção” a “O seu lugar poderia ser melhor aproveitado por outro atleta”.
Legenda:
🟢 Tem de estar na Seleção
🟡 É uma boa aposta
🟠 Opção válida
🔴 O seu lugar poderia ser melhor aproveitado por outro atleta
🟢: Ederson; Gabriel; Bruno Guimarães, Casemiro, Douglas Luiz e Paquetá; Martinelli, Rodrygo e Vini Jr.
🟡: Bento; Beraldo e Yan Couto; André, Andreas Pereira, João Gomes e Pablo Maia; Endrick e Savinho.
🟠: Danilo e Marquinhos; Raphinha e Richarlison.
🔴: Rafael; Ayrton Lucas, Murilo e Wendell.
De forma geral, penso que apenas esses quatro atletas poderiam dar lugar a alguém mais qualificado ou com uma margem de progressão maior, apesar de não serem, de todo, maus jogadores.
O Bremer, da Juventus, poderia figurar entre os selecionados — ou então, considerando o Bremer uma “certeza” e querendo uma “aposta”, o Murilo, do Nottingham Forest, era também uma excelente opção para o lugar do Murilo do Palmeiras ou até mesmo para o lugar do Marquinhos, por exemplo. Vale também referir nomes como Samuel Lino, Carlos Augusto ou até mesmo Lucas Piton, que estão em bom momento e são jovens, que poderiam estar no lugar do Wendell ou do Ayrton Lucas.
Apesar disso, está claro que o Dorival está a apostar na juventude para dar um “novo ar” ao Brasil que se vê em “crise” desde a eliminação para a Croácia no Mundial de 2022, com uma lista que possui uma média de idade de xx anos. Poderia ter apostado em ainda mais jovens, como alguns dos referidos acima e muitos outros, mas faz também sentido querer “mesclar” este talento jovem com vozes mais experientes do plantel, como Casemiro, Marquinhos, Danilo e companhia.
O Brasil hoje é um Brasil diferente, em processo de reconstrução após mais um insucesso, que precisa de paciência (e também coragem para atingir) a sua melhor forma. É preciso testar, alterar, mudar, até encontrar o melhor grupo e o melhor espírito para voltar a levar esta camisola tão pesada de volta ao topo. É ver se será desta, com mais novidades do que nunca, que o Brasil entrará oficialmente na transformação de que tanto precisa.
Lucas Lemos
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