Menos de dez meses após anunciar a saída do comando técnico do Liverpool, Jürgen Klopp estará de volta ao mundo do futebol, em Janeiro de 2025, para ser o próximo diretor geral do futebol do grupo Red Bull. Após nove temporadas como treinador principal do histórico inglês, Klopp associa-se agora à marca austríaca, para ocupar uma posição menos “exigente”, tal como pretendia, como o próprio afirmou.
É oficial. Florian Plettenberg, jornalista da Sky, e posteriormente a empresa Red Bull anunciaram que a partir do primeiro dia do próximo ano, será o novo diretor geral do futebol do grupo Red Bull, onde estão inseridas as filiais de Salzburgo, Leipzig, Nova Iorque e Bragantino, num cargo semelhante ao que teve Ralf Rangnick.
No entanto, apesar da ligação próxima do grupo com o Liverpool (Pep Lijnders, ex-adjunto de Klopp é o treinador do RB Salzburg), a relação entre os adeptos alemães e o técnico pode ter caído a pique. Na Alemanha, o futebol é verdadeiramente dos adeptos. Basta observar os jogos da segunda divisão, sempre com estádios lotados, para perceber que a paixão pelo desporto-rei é levada ao extremo — no melhor sentido da palavra. Por isso mesmo, foi criada a chamada ‘50+1 rule’, onde é definido por lei que o clube deve deter mais de 50% do clube, evitando assim investidores estrangeiros. Lei essa que, em 2009, foi explorada pelo grupo Red Bull. Através de brechas na ‘50+1 rule’, o grupo austríaco conseguiu comprar o SSV Markranstadt, renomeá-lo de Rassen Ballsport Leipzig (o nome Red Bull não foi permitido) e injetar milhões de euros, conseguindo em menos de quinze anos uma ascensão astronómica até aos lugares cimeiros do futebol europeu. Todo este processo, e a incapacidade da Federação Alemã de tomar medidas, dado que tudo foi feito nas entrelinhas do regulamento, levou a que o RB Leipzig — e consequentemente, o grupo Red Bull — passasse a ser alvo de ódio por parte dos adeptos alemães. Ora, esta passagem de Jürgen Klopp é por isso, vista como uma “traição” aos valores que o antigo treinador do Borussia Dortmund possuía. Sendo uma das personagens mais bem acarinhadas do futebol alemão e mundial e um símbolo do amor pelo futebol como desporto (até pelas posições que sempre defendeu enquanto treinador) é sem dúvida um revés na sua imagem ver Klopp transferir-se para o rival de todo um país futebolístico. Esta é também uma clara tentativa do grupo Red Bull em aumentar a sua popularidade, trazendo para o seu lado uma força tão positiva no futebol.
No entanto, a nível profissional, esta acaba por ser uma mudança algo esperada e até positiva para o ex-Liverpool. Jürgen Klopp anunciou, no final de Janeiro deste ano, que iria abandonar o comando técnico do Liverpool, entre outros motivos, pelo cansaço que se fazia sentir em si. Posto isto, era expectável que uma paragem fosse ocorrer, permitindo ao técnico carregar baterias, e possivelmente ingressar num novo projeto, longe de Inglaterra, onde jurou não treinar outro clube que não fosse os “Reds”. Posto isto, é com alguma naturalidade que vemos a mudança de Klopp, assumindo-a como algo positivo. Longe das decisões de maior calibre, dos momentos de grandes tensões, e de todos os holofotes e pressões, Klopp acaba por encontrar “o seu cantinho” no grupo Red Bull, onde certamente irá ter um grande impacto, estando perto da sua família, e gerando um grande valor para a empresa/clubes associados.
É por isso que, desportivamente, o grande vencedor desta mudança é o grupo Red Bull. Depois de Ralf Rangnick, um revolucionário e pioneiro numa nova geração de treinadores (onde está incluído, por exemplo, Roger Schmidt), chega uma nova era, a era de Klopp. Beneficiam imensamente pelo conhecimento futebolístico e experiência que o alemão traz consigo, agregando ainda uma vasta rede de conhecimento e influência para o futebol mundial. Klopp será o principal conselheiro de todas as equipas do grupo em temas como as filosofias do clube, formas de jogar, modelos de contratações, perfis de jogadores, e até treinadores.
Jürgen tem tudo o que precisam, e, ao mesmo tempo, o técnico mantém as portas da seleção alemã abertas, tendo este sempre sido o seu sonho, assumir o técnico da “Mannschaft”. É que no seu contrato existe uma alínea que permite ao técnico abandonar o seu lugar caso exista uma vaga para treinar a seleção alemã, atualmente ocupada por Julian Nagelsmann.
O novo passo de Jürgen Klopp pode acabar de inúmeras formas. Apenas o futuro nos dirá qual delas acaba por se realizar. O que é certo é que este é um passo de gigante para o grupo Red Bull no mundo do futebol, um passo atrás na imagem de Klopp, e uma miragem no futuro, com olhos na seleção alemã. É a nova era de Klopp.
João Pinto
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