Alex Morgan: a última dança de uma lenda
Foram 16 anos com a bola nos pés e tornou-se numa das melhores de sempre, mas a sua importância para o futebol no feminino é inigualável.
Aos 35 anos, Alex Morgan decidiu colocar um ponto final na sua carreira e despediu-se com a camisola 13 do San Diego Wave FC, depois de ter publicado um vídeo nas redes sociais a anunciar a sua retirada. Só pelos EUA, foram 223 jogos e 123 golos e junta um palmarés invejável com dezenas e dezenas de títulos, entre troféus coletivos e distinções individuais. Passou por vários clubes, como o Portland Thorns FC, Orlando Pride, Seattle Sounders, Lyon ou Tottenham e foi campeã em alguns deles, deixando sempre a sua marca enquanto ponta de lança. Habilidosa com a bola, rápida nos seus movimentos e uma atacante como poucas no futebol no feminino. Foi sempre uma mais valia em qualquer sítio por onde passou e deixou sempre claro que é uma das melhores finalizadoras dos últimos anos.
É certo que se fossem enumeradas todas as conquistas de Morgan qualquer um ficaria impressionado, mas o mais extraordinário é tudo aquilo que impactou fora das quatro linhas.
É difícil explicar a importância de Alex Morgan, mas talvez o facto de ter sido o primeiro modelo e exemplo para muitos no que ao futebol feminino diz respeito, possa simbolizar toda a sua eternidade para a modalidade.
Foi uma das melhores de sempre e uma das mais reconhecidas entre todos e nunca teve receio de que as suas ações tornassem o seu futebol secundário, uma vez que aquilo que realmente importava era a luta por um futebol mais justo para as mulheres.
Em 2016, fez parte do grupo das cinco jogadoras internacionais que assinaram um protesto enviado à Equal Employment Opportunity Commission, que viria a ser a base da acusação de discriminação de género feita pelas jogadoras norte-americanas à Federação de Futebol dos EUA. É de realçar que durante esse processo judicial, as jogadoras representaram o seu país e venceram o Campeonato do Mundo. Em 2022, a federação aceitou igualar os prémios de jogo dados às duas seleções, feminina e masculina.
Foram várias as bandeiras que levantou, em nome dos valores que sempre defendeu, como a luta contra o racismo em que se juntou a Megan Rapinoe e, juntas, ajoelharam-se durante o hino nacional dos EUA em protesto contra a violência policial no país. Sempre se mostrou ao lado dos direitos LGBTQI+ e, em 2023, não se inibiu de se pronunciar e criticar um rumor de que a FIFA estaria a negociar um patrocínio com a Arábia Saudita para um torneio, tendo em conta que os direitos das mulheres não são assegurados e a homossexualidade é ilegal no país.
Nos últimos tempos, tinha vindo a perder espaço na seleção americana, principalmente depois da chegada de Emma Hayes, e decidiu que não devia arrastar mais o fim da sua carreira, ainda para mais depois de estar novamente grávida. Essa foi também uma das suas reivindicações depois de a jogadora Sara Björk Gunnarsdóttir ter tido o seu salário suspenso enquanto estava grávida, o que motivou apoio e indignação por parte da ponta de lança americana, depois de a própria ter sido mãe, pela primeira vez, em 2020.
É curioso percebermos que Alex Morgan conseguiu sempre navegar entre o mediatismo das suas causas e o impacto do seu jogo quando tantas vezes assistimos a jogadores, no masculino, a esconderem-se de alguns assuntos até superficiais.
Foi, de longe, a jogadora que conseguiu atingir a maior popularidade e se hoje existe um espaço mediático muito maior para o futebol feminino foi porque Morgan, e outras, foram driblando as mentes mais conservadoras e marcando golos no desenvolvimento da modalidade.
Com o estádio cheio e chuteiras na mão, os relvados despediram-se de uma das melhores de sempre e é impossível que alguma vez o seu legado seja esquecido.
Mafalda Ferreira Costa
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