Como correu a primeira eliminatória da Liga dos Campeões Feminina?
Benfica e Sporting seguem na disputa por uma vaga entre as 16 melhores equipas da Europa.
11 anos depois da final no Estádio do Restelo, entre Wolfsburgo e Tyresö, a mais importante competição de clubes do futebol feminino europeu regressa a Portugal. No Estádio José Alvalade, vamos poder ver uma final entre algumas das melhores equipas e jogadoras do Mundo. Lisboa está a chamar, vamos ver quem atende primeiro.
Num ano em que podemos ter pela primeira vez dois clubes portugueses a jogar na fase de grupos da UEFA Women’s Champions League, não tivemos outra alternativa senão criar a “Lisboa Chama Por mim”, rubrica que sairá todas as sextas-feiras (sendo este artigo exceção), nas semanas em que houver jogos.
Benfica e Sporting são as equipas a representar Portugal entre as 72 melhores equipas da Europa, tendo já começado a sua participação na atual edição. Lembrando que a UEFA Women’s Champions League conta com duas fases de eliminatórias (na qual participam 60 equipas) a anteceder a fase de grupos (que contará com 16 equipas) e, posteriormente, a fase a eliminar.
Desta forma, vejamos qual o desempenho das duas equipas portuguesas, mas também de equipas como o Arsenal e o Atlético de Madrid, na primeira eliminatória.
Benfica 🔴🦅
Primeiro duelo frente ao Nordsjaelland (3-1)
Foi em Sarajevo que o Benfica e o Nordsjaelland mediram forças na primeira eliminatória de acesso à Liga dos Campeões. A equipa de Filipa Patão foi claramente superior e podia ter feito mais golos, caso a finalização estivesse ao mais alto nível.
Aos 21 minutos, Brunholt defendeu um remate de Anna Gasper e cedeu o canto à equipa encarnada. Lund chegou-se perto da bandeirola e assistiu Martín-Prieto que ganhou nas alturas e adiantou o marcador. O segundo golo surgiu aos 39 minutos depois de Catarina Amado ter descoberto Anna Gasper à entrada da área que, num excelente movimento, assistiu Nycole. O terceiro surgiu pouco depois com Martín-Prieto a receber a bola de Amado e a rematar de forma colocada, sem hipótese para a guarda-redes adversária.
Na segunda parte, o Benfica abrandou o ritmo e teve um jogo mais retraído e com menos critério. Apesar de se terem mantido equilibradas defensivamente, as encarnadas foram cedendo mais espaços no meio-campo e foi dessa forma que Anna Walter, solta de marcação, fez um extraordinário golo. O resto do jogo não tem muita história com jogadas pouco interessantes e sem ligações. Ainda assim, vale a pena destacar a ótima primeira parte do Benfica com remates sem conta e pressão alta que não possibilitou subidas no terreno por parte do Nordsjaelland, bem como uma boa abordagem defensiva sem que a bola entrasse entre a defesa.
Pareceu fácil contra o Sarajevo (4-0)
O SFK 2000 Sarajevo perdeu por 4-0, num jogo onde o Benfica dominou do início ao fim. Apesar de ter sido um adversário mais acessível, o Sarajevo manteve um bloco bastante baixo e optou por tentar travar as investidas encarnadas, sem sucesso.
Mesmo com mudanças no onze inicial já a pensar na Liga BPI, o Benfica continuou com qualidade no plantel e não precisou de muito para adiantar o marcador. Logo aos seis minutos, Martín-Prieto ganhou um duelo aéreo na área adversária e assistiu Catarina Amado para o primeiro da partida. Aos onze minutos, Martín-Prieto fez o gosto ao pé e respondeu com eficácia ao passe de Marie Alidou. Chandra Davidson, a jogar na ala esquerda, recebeu a bola de Nycole e depois de ir para a zona central fez um grande golo aos 25 minutos de jogo.
Na segunda parte, o jogo acalmou e o Sarajevo esteve sempre longe de criar qualquer oportunidade. Houve ainda tempo para o Benfica alargar a vantagem com Alidou a marcar um fantástico golo de fora de área.
Enquanto equipa dominadora, todas as jogadoras estiveram sempre posicionadas no meio-campo adversário e variaram o jogo pelos flancos para conferir profundidade à equipa. Andreia Faria e Beatriz Cameirão foram as responsáveis pela circulação da bola e os motores das encarnadas.
O Benfica está mais perto de chegar à fase de grupos e, apesar de não ter tido a melhor das competitividades, a verdade é que se manteve competente e dominador nos dois jogos.
Sporting 🟢🦁
Entre experiência e irreverência
Cinco anos depois, o Sporting estava de regresso à elite do futebol feminino. As leoas estrearam-se na prova, e o seu adversário prometeu ser tarefa complicada. Vindas da Alemanha, fria como o tempo que se fez sentir na Islândia, o Eintracht Frankfurt chegava de um respeitado terceiro lugar na Bundesliga feminina na temporada passada, e com uma equipa que prometia dar dores de cabeça à equipa de Mariana Cabral.
Num jogo onde a treinadora portuguesa apostou no 4-3-3, com Cláudia Neto no miolo ao invés de Jacinta Gala (no habitual 4-4-2), a equipa portuguesa entrou com mais vontade no jogo, e após uma recuperação de Telma Encarnação, Cláudia Neto, uma das jogadoras mais experientes da equipa, coloca a turma lusa em vantagem. Em momento algum do jogo a equipa portuguesa foi inferiorizada pela frente alemã. Num jogo com oportunidades parte a parte, as leoas souberam sofrer nos momentos que tinham de sofrer, e apesar das algumas oportunidades falhadas, souberam matar o jogo no momento certo. “Lá atrás”, a já habituada ao frio Andrea Norheim (norueguesa) assinou a melhor exibição com a camisola verde e branca, limpando quase tudo. Na frente, Brittany impunha-se fisicamente e Telma desequilibrou. Já numa altura desesperada do jogo, onde a turma alemã contava com a guarda-redes avançada, Ana Borges recuperou a bola após bola parada, e correu todo o campo para fechar o jogo. 2-0 convincente, e a moral elevada para o próximo jogo.
Seguia-se o Breidablik, equipa da casa, atual primeiro classificado da liga islandesa de futebol feminino. Mariana Cabral mexeu na equipa, apostou numa equipa mais orientada para o ataque, e lançou Jacinta Gala e Andreia Bravo por Diana Silva e Brenda Pérez. A turma leonina entrou com as intenções claras, e logo à passagem do quarto minuto, Cláudia Neto ofereceu a Telma Encarnação o golo, e o placar mexia muito cedo na Islândia. Após o golo, e até ao intervalo, foi um show de futebol verde e branco. Raphino podia ter aumentado o resultado por duas vezes, e Telma esteve perto do bis. A segunda parte mostrou um Breidablik cada vez mais desgastado, e um Sporting com muita qualidade no banco para manter os níveis físicos elevados (Brenda, Fátima Pinto, Diana Silva, Ana Capeta e Beatriz Fonseca). Não foi com surpresa que a capitã Ana Borges descobriu novamente Telma Encarnação para o 0-2 final. Excelente movimento de ruptura da avançada madeirense, que fintou ainda a guardiã adversária.
Com este par de resultados, o Sporting está agora mais perto de chegar à fase final da Champions League. No seu caminho está o Real Madrid, segundo classificado da Liga Espanhola, apenas atrás do "super" Barcelona. A tarefa não será de todo fácil para as comandadas de Mariana Cabral, mas o Sporting já provou que tem argumentos para lutar pela passagem. Será um verdadeiro "David contra Golias".
Arsenal 🛑💣
O Arsenal é das maiores equipas do Futebol Feminino, com quase 40 anos de história e mais de 60 títulos conquistados, e as Gunners fizeram questão de o demonstrar: numa chave com Atlético de Madrid, Rosenborg e Rangers, a equipa inglesa fez dois grandes jogos e garantiu o apuramento sem muitas dificuldades.
A goleada na estreia frente ao Rangers (6-0)
No encontro que marcava a estreia do Arsenal a nível competitivo na época 2024/25, a equipa londrina não deu nenhuma hipótese às líderes do campeonato escocês. Com apenas um remate concedido (e desenquadrado) e cerca de 84% (!) da posse de bola, o Arsenal dominou por completo o duelo do início a fim, apesar de que chegava ao intervalo a ganhar por apenas 1-0, com Caitlin Foord a inaugurar o marcador após cruzamento da estreante Mariona Caldentey.
A resistência defensiva do Rangers, contudo, não aguentou mais 45 minutos de jogo: com Foord em evidência, as Gunners encontraram dois golos-relâmpago entre os minutos 59’ e 60’, com a avançada australiana a fazer o 2-0 e, logo em seguida, Alessia Russo fazer o terceiro; ainda antes dos 70’, Foord conseguiria o hat-trick, havendo anda tempo para Little fazer o 5-0 de penálti e, as 90’, Caitlin Foord balançar as redes pela quarta vez, fechando o encontro num estrondoso 6-0.
Um golo bastou para vencer o Rosenborg e garantir o apuramento (1-0)
A excelente vitória sobre os Rangers deixava o Arsenal com grandes expetativas para o encontro frente ao Rosenborg, com o “desenho” do jogo a ser bastante semelhante ao que fizeram frente às escocesas — mais de 60% da posse e 31 tentativas de golo (contra apenas quatro das suecas. Desta vez, contudo, as Gunners não conseguiram balançar as redes da mesma forma.
Com o mesmo onze do primeiro encontro, o Arsenal encostou o Rosenborg atrás desde o início, com o golo inaugural a parecer uma questão de tempo. Após cruzamento de Foord, a guarda-redes Rulyte falha em afastar a bola com os punhos, com a bola a sobrar livre em cima da linha; a defesa central Harviken ainda afasta como pôde, mas ainda na pequena área. Caiu aos pés de Frida Maanum, que teve a fácil missão de fazer o 1-0 ao empurrar a bola para dentro ainda antes dos 20 minutos.
A segunda parte, contudo, tornou-se frustante para o Arsenal, que se viu incapaz de ampliar o marcador mesmo com amplo domínio do jogo. Resultado Final 1-0, com a baliza imaculada e o apuramento para a segunda fase garantido após dois encontros de altíssimo nível apresentados pelo lado vermelho de Londres.
Atlético de Madrid 🅰🐻
Malditos penáltis…
Pior do que a morte ou bater com o dedo mindinho no canto de um móvel, só mesmo perder nos penáltis - foi isso que aconteceu ao Atlético de Madrid no primeiro jogo da Ronda 1 da UWCL frente ao Rosenborg (Noruega).
Ao comando do novo treinador, Víctor Martín, o objetivo era o de voltar a marcar presença na competição milionária, algo que tem escapado às colchoneras desde a temporada 2020/2021. Do outro lado, o Rosenborg queria vingar os resultados do ano anterior, em que ficou às portas da passada edição da Liga dos Campeões após a derrota com o Real Madrid na Ronda 2. Este era um duelo onde qualquer erro cometido poderia ser fatal e o conjunto rojiblanco acabou por provar do próprio veneno.
Lideradas entre postes pela experiente Lola Gallardo, as espanholas foram ficando progressivamente mais confortáveis no terreno de jogo, especialmente depois do golo de cabeça de Fiamma Iannuzzi aos 20 minutos. Jogadoras como Ajibade exploraram o flanco direito para atacar em profundidade, mas faltou alguma presença na grande área para colocar a bola dentro das redes. Ao mesmo tempo, a turma de Víctor Martín acabou por falhar várias oportunidades de golo, destacando-se a de Gio Queiroz que, aos 63 minutos e numa situação de 1x1 com Rulyte (guarda-redes do Rosenborg), chutou sem força com o pé esquerdo, acabando o remate por ir parar às mãos da jovem guarda-redes. A vantagem continuava a ser pouca e era importante resolver o jogo o quanto antes. Tatiana Pinto entrou aos 79 minutos para ser a super sub. Contudo, naquele que estava a ser um dia não, acabou por desperdiçar uma bola de Luany nos últimos minutos de jogo. Pouco tempo depois, as norueguesas aproveitaram uma falta cometida pela portuguesa para, dentro da pequena área, cruzarem e Rebeck Holum anotar o golo do empate.
Agora, era preciso vencer no prolongamento. Seguiram-se 30 minutos de muita tensão, onde Rulyte foi essencial a travar todo e qualquer ataque das madrilenas. Aos 105 minutos, surgiu o golo do Rosenborg. Depois de defender a bola, Gallardo acabou por deixá-la escapar entre as mãos e, sem hesitar, Sorum beneficiou do erro e colocou a sua equipa em vantagem no marcador. Foi Lauren, nova contratação, quem vestiu a capa de heroína para fazer o 2-2 aos 119 minutos.
Seguiram-se os dolorosos penáltis. As emoções estavam ao rubro e foi a turma de Trondheim quem, mantendo o sangue frio, levou a melhor (2-3 nas grandes penalidades):
Rosenborg
E. Sorum ✔️
B. Marcussen ❌
H. Dahl ✔️
M. Harviken ✔️
Atlético de Madrid
R. Otermin ❌
S. Jensen ✔️
G. García ✔️
Tatiana Pinto ❌
A. Medina ❌
A derrota neste jogo significou, uma vez mais, a eliminação precoce do Atleti da UWCL. Servirá este jogo como lição para o resto da temporada?
Após o sorteio, ficou definido que o Benfica defronta o Hammarby (Suécia) e o Sporting o Real Madrid. Ambas as equipas portuguesas jogam em casa a 18/19 de setembro, ficando o jogo fora marcado para 25/26 de setembro.
Uma coisa é certa: vais poder ler sobre os quatro jogos no “Lisboa Chama Por Mim”.
João Pinto, Lucas Lemos, Mafalda Ferreira Costa e Matilde Pinhol
As últimas do projeto: