Bayer 04 Leverkusen: Um Clube com Remédio
À beira do Rio Reno, na Alemanha, bom remédio é remédio amargo, no entanto, amarga é também a história do Bayer Leverkusen.Um clube que pode ser considerado um caso único no cenário do futebol alemão.
Se formos falar do Leverkusen nos dias de hoje, está claro que é um dos conjuntos mais temidos da Alemanha, um sério candidato aos lugares europeus e uma pedra no sapato para vários clubes da Bundesliga. Contudo, para surpresa de muitos adeptos pelo mundo fora, na longa história centenária do Bayer Leverkusen, o clube só conquistou dois troféus: o que dá azo a esta inusitada e desconforme ligação entre a grandeza do clube e o seu palmarés.
O Laboratório tem quatro linhas
1897 foi o ano em que um laboratório farmacêutico alemão conseguiu, após anos e anos de tentativas, desenvolver e comercializar o ácido acetilsalicílico, que passou a ser reconhecido como Aspirina em 1899 – um passo pioneiro para a indústria farmacêutica, que até então se resumia a pequenas experiências a partir de ingredientes e produtos recolhidos diretamente da natureza.
Esta empresa que no futuro se tornaria numa das melhores indústrias farmacêuticas do mundo era a Bayer, que rapidamente se difundiu contratando diversos trabalhadores. No início do ano de 1903, Wilhelm Hauschild, trabalhador do laboratório Bayer, escreveu uma carta à direção da Friedrich Bayer, procurando apoio e investimento para a fundação de um clube desportivo na empresa. Em novembro do mesmo ano, uma nova carta, desta vez assinada por 170 colegas voltava a apelar à Friedrich Bayer para abrir uma modalidade que proporcionasse um ambiente desportivo e de lazer na empresa. Assim sendo, os diretores mostraram abertura e concretizaram o desejado, fazendo com que após alguns meses, a 1 de julho de 1904, nascesse o Turn-und Spielverein Bayer 04 Leverkusen.
Mesmo após toda a burocracia estar realizada, seria preciso esperar cerca de três anos para estar tudo quase finalizado no departamento de futebol. Apesar da boa vontade inicial, rapidamente o ambiente ruiu quando surgiram divergências entre os atletas das diferentes secções do clube, nomeadamente entre os praticantes de ginástica, que era a modalidade mais desenvolvida do clube, e os apoiantes de outras modalidades que foram ganhando forças à medida que a empresa e o clube cresciam – esta desavença acabou por desaguar numa rotura no ano de 1928. Foi nesta altura que diversos jogadores de futebol juntamente com atletas de andebol, boxe e atletismo, saíram do clube, fundando o Sportvereinigung Bayer 04 Leverkusen; ainda foram a tempo de manter as cores tradicionais do clube (vermelho e preto), o que fez com que os ginastas mantivessem o nome original do clube, mas com uma mudança de cores para azul e amarelo.
Troféus também curam
Se não contarmos com os troféus conquistados nas divisões e nas competições de menor calibre, entre o ano de grande tumulto (1928) e o primeiro troféu conquistado, há um intervalo de 60 longos anos, anos esses que pautaram o desenvolvimento e o crescimento do Bayer Leverkusen até se tornar numa das grandes potências germânicas.
No período em que a realidade era passada nos escalões inferiores, a legião comandada por Adolf Hitler já estava no poder, o que dificultou a reestruturação do clube e das competições desportivas (1933). O Bayer manteve-se na 2ª divisão regional até ao fim da II Guerra Mundial, e apenas no fim do conflito é que pôde competir na Oberliga (campeonato regional). É nesta competição que o Bayer enfrenta adversários que já demonstravam grande coesão, como o Schalke, o Dortmund e o Colonia – os Werkself (Os Onze da Fábrica) não conseguiram a qualificação para a fase final, e o apuramento para a Bundesliga não foi possível. Após várias tentativas, o Bayer esteve sempre longe da subida de divisão e em 1973 caiu para a o terceiro escalão, mas o regresso seria imediato logo no ano seguinte para a então renomeada Bundesliga 2. Foi preciso esperar até à época de 1979/80 para o Bayer estrear-se na Bundesliga, tornando-se numa equipa consolidada e ocupando sempre a primeira metade da tabela – alguns anos depois, em 1984, os dois clubes que estavam separados desde 1928, voltaram a reunir-se num só, dando origem à atual denominação: TSV Bayer 04 Leverkusen eV.
Feitas as pazes, agora era necessário elevar o nível, no relvado o sucesso chegava com a contratação de Erich Ribbeck, treinador que conduziu o Leverkusen às competições europeias pela primeira vez, após ter conseguidoo 6º lugar em 1985/86. Duas épocas depois, o Bayer chegava aos quartos-de-final da taça UEFA para defrontar o Barcelona. Em casa dos “fármacos” o jogo ficou a zeros, mas foi no Camp Nou que a plateia gelou quando o todo-poderoso Barcelona perdeu frente ao conjunto liderado por Ribbeck. Nas meias-finais houve um confronto teutónico e o WerderBremen ficou pelo caminho (1x0 e 0x0), o Bayer seguia para a final a todo o gás. Final essa com duas mãos que seria digna de um roteiro de um filme – frente ao Espanyol, que jogava em casa, o conjunto espanhol ofereceu 3 balas aos negro-rubro. Uma ferida que seria difícil de sarar, mas a sorte estava do lado dos “fármacos”, após uma primeira parte do segundo jogo pouco acesa, o verdadeiro milagre no Ulrich-Haberland chegava no segundo tempo com três golos do Bayer Leverkusen. Tudo empatado e com uma pontaria pouco afinada, o jogo teve de ser decidido nas grandes penalidades – a sorte sorriu aos Alemães que com bom remédio conseguiram conquistar o primeiro grande troféu do clube.
Novas estrelas, Novo Troféu
No ano de 1988, o departamento de recrutamento foi revolucionado após Rainer Calmund tornar-se num dos dirigentes do clube. Em 1990 com a reunificação da alemanhã, Calmund foi certeiro nas suas decisões e conseguiu a contratação de jogadores promissores que representavam clubes do outro lado do Muro. Juntamente com estas novas joias como Ulf Kirsten, Jan Melzig e Adreas Thom, o Bayer assegurava a chegada dos brasileiros Jorginho e Paulo Sérgio, não esquecendo os veteranos do clube alemão. Com uma reestruturação ao nível do plantel, o Leverkusen tornou-se num dos fortes candidatos ao título. As estrelas e os bons resultados cimentaram a reputação do clube, atraindo cada vez mais adeptos – o ano de 1993, ficou marcado na memória dos WerlkSelf, após baterem o Herta BSC II de Berlim na final da Taça da Alemanha, garantido a primeira grande conquista a nível nacional.
Tudo indicava que daqui para a frente o Bayer Leverkusen marcasse a diferença nas competições nacionais e internacionais, sendo também um dos candidatos a vencer a Bundesliga. A verdade é que estes foram os únicos dois troféus conquistados até hoje, no entanto os “fármacos” têm mantido consistência com uma aposta sustentável na formação e um compromisso com a comunidade do clube.
Ishan Lacmane
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