De Lamine a Cubarsí, La Masia vive!
Vindos de um descalabro financeiro, ainda a recuperar, os catalães apostaram na sua maior virtude, a prata da casa!
Tal como a moda e a história, o futebol em si, é cíclico. E, quando olhamos para o ciclo anterior e constatamos sucesso, o intuito passa por segui-lo novamente. Não pelo motivo que desejaria, o FC Barcelona tem vindo a fazer exatamente isso. La Masia está viva, e Xavi Hernández que o diga.
Decorria o ano de 2008 quando Josep Guardiola i Sala, de apenas 38 anos, assumiu a equipa principal do FC Barcelona. Ex-médio do clube, nascido a apenas cinquenta quilómetros da cidade, e com toda a formação feita na academia do clube, a La Masia, Pep Guardiola era o homem perfeito para o projeto do clube. Quatro anos e 14 títulos depois, a escolha confirmou-se. Chegou como uma aposta da direção, e saiu consolidado como uma lenda do clube.
Mas porquê esta introdução a Pep Guardiola quando em nada está ligado ao atual projeto do clube, ou até mesmo aos jogadores referidos no título do texto? Pois bem, a explicação é fácil. A bandeira de Guardiola era a formação. A junção de jogadores como Andrés Iniesta, Xavi Hernández, Lionel Messi e Carles Puyol, todos formados na academia do clube, foi a base para todo o sucesso conquistado pelo clube. E sim, é certo que estes jogadores haviam sido lançados por Frank Rijkaard, antigo treinador do clube, no entanto, a filosofia trazida por Guardiola ajudou não só na manutenção desta aposta na formação, mas tornou-a no projeto do clube, que, curiosamente, se começou a perder após a saída do mesmo.
Thiago Alcântara, Marc Bartra, Sergi Roberto, Oriol Romeu, Gerard Deulofeu, Rafinha Alcântara, Martín Montoya, Sergio Busquets, Gerard Piqué e Bojan Krkic. Sabem o que têm em comum? Todos foram lançados por Pep Guardiola. E é aqui que entra um nome atrás mencionado, e que nos traz de volta ao presente. Apresento-vos 2023/24 e Xavi Hernández, outrora médio centro e parte do melhor trio que alguma vez jogou futebol (Xavi, Iniesta e Messi), atualmente treinador do FC Barcelona.
Teoricamente, a ideia era simples. Fazer melhor que o antecessor, e evitar que o clube entrasse em falência. Mas…falência? O FC Barcelona? Sim. Como referido antes, a aposta na formação foi-se perdendo com a saída de Pep Guardiola (não de todo, mas aos poucos). A abordagem começou a ser outra, contratar jogadores de alto nível, e procurar resultados no imediato, ao invés de potenciar o futuro. Isto levou a grandes investimentos realizados em diversos jogadores que, pura e simplesmente, foram uma desilusão. A situação financeira dos “blaugrana” foi piorando quando, ao longo dos anos, o clube aumentava os salários dos jogadores por respeito ao que tinham dado ao clube, e não pelo que poderiam vir a dar, explicando de forma algo simplificada. O exemplo disto foi quando Samuel Umtiti, atualmente no Lille, de França, recebia um cheque mensal maior que Virgil Van Dijk, o melhor defesa central do mundo (ou lá perto) nesses anos pré-pandemia.
A pandemia, os altos salários, os valores elevados nas contratações e o baixo rendimento levaram à queda do gigante catalão. Lionel Messi deixou o clube, tal como a sua geração de ouro. O dinheiro era pouco e jogadores como Adama Traoré, Luuk de Jong e Martin Braithwaite eram a nova realidade do clube. Nos últimos quatro anos, quando se deu esta agravante financeira do clube, o FC Barcelona apenas conquistou uma La Liga, uma Taça do Rei e uma Supertaça, chegando a “cair” para a Liga Europa.
No entanto, o título da época passada trouxe os gigantes catalães de volta à Champions League, de volta ao dinheiro “milionário”, e a várias parcerias com patrocinadores. Os salários foram renegociados e alguns jogadores que deixaram o clube levaram a que o nó da gravata se soltasse um pouco. A missão de Xavi para esta época foi a de manter os níveis de qualidade apresentados na época anterior e potenciar a formação, enquanto o clube se reerguia financeiramente.
Eis que, após uma introdução algo extensa, chegamos ao ponto principal do texto. Marc Casadó, Marc Guiu, Héctor Fort, Gavi, Pau Cubarsí, Fermín Lopéz, Lamine Yamal e Aléx Baldé. Juntando Sergi Roberto e Oriol Romeu (lançados por Guardiola), o FC Barcelona conta com 10 jogadores (de 26 que jogaram esta época e se mantêm no clube) que são formados na La Masia. Este é um número impressionante, quando comparado com os rivais de Madrid, por exemplo, que contam apenas com cinco (Atlético Madrid) e seis (Real Madrid) jogadores nos seus plantéis que fazem parte da formação.
Este é o título de Xavi esta temporada. A La Liga parece já distante, com a Taça do Rei entregue ao Athletic, com o Real Madrid a vencer a Supertaça Espanhola e a Champions League a cair ontem, frente ao Paris SG.
A valorização, o crescimento, e a maturação destes jovens jogadores (na sua grande maioria) é o novo projeto do Barcelona. Um regresso ao passado, para assegurar um futuro.
Lamine Yamal é o maior destaque, sem dúvida. Com 17 anos, é atualmente titular do FC Barcelona e da Seleção Espanhola, onde já conta com seis internacionalizações e dois golos. Pelo clube da Catalunha, já completou 42 jogos esta época, com dez contribuições para golo. É o futuro do clube. Rápido, com um nível de explosão acima da média, é um jogador com todo o potencial do mundo. Sem medo de ter a bola nos pés, seja em transição, muitas vezes forçando o 1v1, uma característica muito forte no seu jogo, ou mesmo em construção, onde se nota que não tem medo ter a posse do esférico. Conta ainda com uma facilidade imensa para rematar à baliza e no cruzamento. Peca ainda na tomada de decisão, algo que é normal para um jovem da sua idade.
Em seguida, olhamos para o novo “menino de ouro” da Catalunha, Pau Cubarsí. Com 17 anos já celebrados este ano, o jovem central apareceu no início de janeiro na equipa principal, devido a lesões e à frequente falta de soluções de Xavi no plantel, e, a partir daí, nunca mais parou. Desde a sua estreia pela equipa principal, só falhou apenas um jogo e, juntamente com Koundé e Araújo, é peça fundamental no miolo da defesa de Xavi Hernández. Com exibições de luxo frente a jogadores como Morata, Oshimen e até Mbappé, o jovem destaca-se, acima de tudo, pela maturidade que dispõe, parecendo que já joga a este nível há anos. Cubarsí é o central moderno. Combina força e habilidade técnica, sendo muito atlético, poderoso e rápido, juntando a estas características o posicionamento sem bola, e principalmente o à vontade que sente com o esférico no pé.
Pablo Gavi e Alejandro Baldé dispensam apresentações. Apesar de bastante novos (Gavi com 19 anos e Baldé com 20), já vinham a ser apostas passadas de Xavi, e são de tremenda importância nesta equipa do Barcelona. Esta, no entanto, não tem sido a melhor época para ambos. Baldé está de fora por lesão desde o início do ano, e Gavi encontra-se sem jogar desde novembro, pelo mesmo motivo. Habitualmente são titulares indiscutíveis,
Com sete golos na presente temporada, olhamos a outro estreante, diretamente da “cantera” blaugrana, Fermín López. Com 20 anos, o médio tem jogado de forma regular, muitas vezes a partir do banco, contando já com 1500 minutos jogados (cerca de 17 jogos completos). Muito ágil com bola nos pés, com velocidade para cavalgar metros com o esférico, mesmo não sendo dominante fisicamente, Fermín conta já com uma técnica invejável, sendo muito eficiente em espaços curtos, e no último passe para golo.
Marc Casadó, Marc Guiu e Héctor Fort são os últimos nomes da lista dos jogadores da La Masia no plantel principal. Com 20, 18 e 17 anos, respetivamente, são todos vistos como futuras opções de primeira equipa, especialmente Fort e Guiu. Juntos, já contam com 19 jogos realizados esta época, com destaque para os golos do avançado Marc Guiu na Champions League (frente ao Royal Antwerp) e para o golo da vitória do Barcelona frente ao Athletic Bilbao. Alternando entre a equipa B e a equipa principal dos catalães, são, sem dúvida, três jogadores a ter na mira para a próxima temporada.
Entre todos, são mais de 10000 minutos jogados, 20 golos marcados, e 10 assistências. Contribuição direta em 30 golos do Barcelona. Muitos destes craques ainda precisam de evoluir muito, é um facto, no entanto, apesar da saída de Xavi no final da temporada, este é um projeto que não dá para ignorar. La Masia vive!
João Pinto
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