Guia do Futebol Brasileiro: 2024
Os Estaduais chegam ao fim, a Copa do Brasil já começou e faltam dias para o Brasileirão começar. Tudo o que é preciso saber para apanhar o ritmo do futebol brasileiro.
É 12 de Abril! Estamos em semana de aniversário do projeto (que fez 4 anos) e, há exatamente um ano, saía o primeiro texto desta tão querida rubrica sobre o Futebol Brasileiro. Desde lá, foram quase 30 artigos a falar sobre o futebol do outro lado do Atlântico e a fazer essa conexão entre Brasil e Portugal.
E, se há um ano, eu escrevia um texto a explicar-vos como funciona o Sistema de Ligas e Competições do Brasil, hoje teremos algo semelhante: um Guia do Futebol Brasileiro para o ano de 2024.
Já lã vão quatro meses desde o fim da temporada 2023 (lembrando que, no Brasil, a época começa em janeiro e termina em dezembro) — com o Palmeiras de Abel Ferreira campeão do Brasileirão pelo segundo ano consecutivo e o Fluminense de Fernando Diniz campeão da Libertadores pela primeira vez na História —, sendo, então, hora de preparar o terreno para o ano de 2024.
Percebam, contudo, que eu disse que a época começa em janeiro (não em abril). O Campeonato Brasileiro e as etapas principais da temporada podem estar a começar agora, mas o Futebol Brasileiro em si fica muito pouco tempo parado. Desde competições de “pré-temporada”, como a Supercopa do Brasil e os polémicos Estaduais, até a Copa São Paulo de Futebol Júnior (grande competição das camadas jovens), a verdade é que a 2 de janeiro havia já algum futebol para se assistir — menos de um mês após o fim do Brasileirão.
Esta é uma questão que se pode aplicar em diversos países, não só o Brasil: a superlotação do calendário competitivo. Mesmo sem contar a “Copinha” (que é para atletas sub-20), algumas equipas estavam já de regresso aos jogos oficiais na segunda semana de janeiro — o Fluminense, que teve o maior calendário devido a Mundial de Clubes, teve menos de um mês entre as duas temporadas. Isto a contar que, no Brasil, as equipas de topo fazem cerca de 70 (!!) jogos por ano.
Apesar de tudo, isto é uma conversa que pode ficar para outro dia. O que interessa hoje é que sim, o Brasil praticamente não para de ter e ver futebol. São muitas competições, muitos jogos, muitas equipas… É sempre bom fazer uma síntese! Assim, vamos (dentro do possível) por ordem cronológica, fazer um guia para poderem não estar tão à-toa com o nosso querido futebol brasileiro:
“Copinha” / Copa São Paulo de Futebol Júnior
A Copinha, como a própria alcunha ou o “Júnior” podem indicar, é uma competição voltada para as camadas jovens do futebol brasileiro. É organizada pela Federação Paulista de Futebol e joga-se em São Paulo (daí o nome), mas conta com equipas de todo o país.
É a principal “vitrine” para os jovens talentos que buscam ainda o seu lugar na equipa principal. Antony, Gabriel Jesus, Paquetá, Vini Jr e muitos outros nomes hoje conhecidos no futebol mundial disputaram a competição antes de despontarem nos seus respetivos clubes. Assim, os adeptos possuem um grande carinho pela competição, quer pelo facto de ser um “aquecimento” da temporada, quer pela possibilidade de ver possíveis novos craques.
Em 2024, a Copinha realizou-se entre 2 e 25 de janeiro, contando com 128 clubes participantes — divididos em 32 grupos de quatro. Neste período de 24 dias, realizaram-se 255 jogos que presentearam o público com 776 golos (numa média de 3 por encontro!), numa competição verdadeiramente atrativa e interessante de acompanhar.
O Corinthians acabou por sagrar-se o grande campeão (pela 11.ª vez na sua história) em cima do Cruzeiro, numa final que levou mais de 43 mil (!) pessoas ao estádio, e viu alguns dos seus destaques começarem já o processo de integração ao plantel principal, como Leo Maná, Ryan, Breno Bidon e Kayke — autor do golo do título —, jovens que sonham com o seu lugar no futebol.
Campeonatos Estaduais
Ahhhh, os Estaduais! Talvez as competições que mais confusão façam as pessoas que não são do Brasil. Afinal, por que raios os clubes disputam um torneio contra equipas do mesmo Estado se estes tais torneios não possuem nenhuma ligação aos campeonatos nacionais? São competições de pré-temporada?
Bem, sim e não. Como expliquei há um ano, o Brasil é um país enorme, o que fez com que se demorasse quase seis décadas para um campeonato estável e de proporção nacional ser formado. Assim, a verdade é que o futebol brasileiro formou-se por meio dos Campeonatos Estaduais, que põe frente a frente equipas do mesmo Estado (Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia, etc.) e que levou de facto à popularização da modalidade e dos seus respetivos clubes, rivalidades e intervenientes no Brasil.
Assim, todos os anos temos os Campeonatos dos 27 Estados1 (que, inclusive, contam também com divisões inferiores!2), que põe frente a frente equipas da Série A até equipas que possam estar fora das quatro divisões nacionais — sendo esta outra magia dos Estaduais: dar a clubes menores e os seus respetivos atletas a hipótese de se provar frente aos grandes e apresentar o seu trabalho para todo o Brasil ver, ganhando visibilidade e até um mercado.
A nível do calendário, é o desempenho nos campeonatos Estaduais que definem as equipas classificadas para a Copa do Brasil e/ou para a Série D do Campeonato Brasileiro, sendo por isto que não podem ser considerados exatamente torneios de pré-temporada.
Em 2024, a grande maioria dos Estaduais começou por volta de 20 janeiro e terminou a 7 de abril. Sendo 27, é sempre difícil falar sobre todos, então segue uma lista com os campeões dos principais estaduais do Brasil:
Bahia: Vitória, Série A (contra o Bahia, Série A)
Ceará: Ceará, Série B (contra o Fortaleza, Série A)
Minas Gerais: Atlético Mineiro, Série A (contra o Cruzeiro, Série A)
Rio de Janeiro: Flamengo, Série A (contra o Nova Iguaçu, Série D!)
Rio Grande do Sul: Grêmio, Série A (contra o Juventude, Série A)
São Paulo: Palmeiras, Série A (contra o Santos, Série B)
Como podem ver, mesmo sendo campeonatos “menos interessantes” para as equipas de topo, estas sempre os encaram com seriedade. Além disso, a verdade é que, numa disputa contra os rivais, o provável é que nenhum clube no Mundo vá querer dar ao outro lado o gostinho da vitória — muito menos a valer um título.
Mesmo assim, os Estaduais sempre guardam surpresas. A maior deste ano foi o Nova Iguaçu, do Rio de Janeiro, que, mesmo sendo da quarta divisão, superou Fluminense, Botafogo e Vasco da Gama (tendo vencido o Vasco na meia-final) e encantou o Brasil ao apresentar um futebol bonito, impor o seu jogo mesmo contra os favoritos e alcançar a final do Campeonato Carioca pela primeira vez na sua história.
São histórias que apenas os Campeonatos Estaduais conseguem proporcionar e que não passam despercebidas nem pelos próprios intervenientes: encerro com este incrível momento entre Tite, o treinador do Flamengo, e o treinador e atletas do Nova Iguaçu.
“O melhor trabalho foi o teu”: Tite entregou a medalha de campeão carioca a Carlos Vitor, treinador do Nova Iguaçu. (Reprodução Twitter/X @fimdejogoaguva)
Supercopa do Brasil
Os Estaduais e a Copinha começaram antes, mas o primeiro troféu a ser disputado no ano foi a Supercopa do Brasil. A seguir o modelo “padrão” das supertaças, a versão brasileira leva a jogo o campeão da taça (Copa do Brasil, à esquerda) e do campeonato (Brasileirão, à direita) do ano anterior.
Assim, em 2024, a Supercopa foi disputada por São Paulo e Palmeiras, rivalidade paulista conhecida por “Choque-Rei” (daí o nome “Supercopa Rei” escrito nos pedestais). Disputada em terreno neutro (normalmente no Estádio Nacional Mané Garrincha, em Brasília), a edição deste ano foi disputada no Mineirão, em Minas Gerais, a 4 de fevereiro.
Apesar de ser um troféu de abertura de temporada, o que acaba sempre por refletir num jogo mais lento e com excesso de erros, a final foi bastante equilibrada e disputada (como o esperado de um Palmeiras-São Paulo). Resultado Final: 0-0, fugindo a regra de finais recheadas de golos como tivemos nas últimas edições de Supercopa.
Os guarda-redes Weverton e Rafael foram os destaques do encontro, mas na disputa por penáltis foi o guardião do São Paulo que brilhou: tendo defendido as cobranças de Murilo e Piquerez, Rafael foi decisivo na vitória por 4-2 para o São Paulo na disputa por grandes penalidades — o primeiro título de Supercopa do “Tricolor Paulista”.
Copa do Brasil
A Copa do Brasil é o segundo troféu nacional mais importante do calendário brasileiro, perdendo apenas para o Brasileirão. É a taça nacional e segue os moldes de outras taças como a FA Cup, Taça de Portugal e Copa del Rey — sempre no formato “mata-mata”, onde o clube derrotado é eliminado da competição.
Com 92 equipas participantes, sendo 80 classificadas pelo desempenho estadual e 12 atribuídas pela CBF — o Campeão da Copa do Brasil do ano anterior, os 6 primeiros classificados do Brasileirão, o Campeão da Série B, o Campeão da Copa do Nordeste3 e o Campeão da Copa Verde4; são também atribuídas duas vagas em caso de uma equipa brasileira ser campeã da Libertadores ou da Sul-Americana5.
A prova é disputada em 7 fases, com as 80 equipas classificadas via estadual a disputarem entre si a Primeira e a Segunda Fase, restando 20 equipas que se juntarão as 12 classificadas via CBF e disputarão a Terceira Fase, com 32 equipas. Seguem-se “Oitavos(as)”, “Quartos(as)”, as “Semis/Meias” e a Final.
A edição deste ano encontra-se já na Terceira Fase (ainda com o sorteio por realizar), mas já tivemos surpresas nas duas primeiras fases: América-MG e Coritiba (da Série B) foram eliminados, respetivamente, por Maringá e Águia de Marabá (da Série D), e, talvez o mais surpreendente, o Cruzeiro foi eliminado pelo Sousa, também da Série D.
Assim, as 32 equipas que compõem a Terceira Fase são:
Série A (19): ❌o Cruzeiro é o único eliminado❌
Série B (8): Amazonas, Botafogo-SP, Brusque, Ceará, CRB, Goiás, Operário-PR, Sport
Série C (2): Sampaio Corrêa, Ypiranga
Série D (3): Águia de Marabá, América-RN, Sousa
“Brasileirão” / Campeonato Brasileiro
Mais um ao, mais uma edição do Brasileirão! Após, no ano passado, ter contextualizado um pouco a história da competição no artigo sobre o Brasileirão 2023, agora é hora de atualizar um pouco as informações.
As quatro equipas de 2023 a descer para a Série B 2024 foram o América-MG, Coritiba e Goiás — as três equipas recordistas em descensos na competição, com 7 —, para além do Santos, que chocou o Mundo ao “cair” pela 1ª vez na sua história. Assim, Flamengo e São Paulo são os únicos clubes brasileiros a jamais terem disputado uma divisão inferior. As quatro equipas que vieram, por sua vez, da Série B 2023 para a Série A 2024 são o Vitória (Campeão), Juventude, Criciúma e Atlético-GO (2º a 4º, respetivamente), sendo todas equipas que já disputaram anteriormente a elite do futebol Brasileiro.
O Palmeiras é o atual Bicampeão (2022 e 2023), contando com 12 títulos no total, quatro a mais do que Santos e Flamengo (segundos na lista de maiores campeões nacionais). Contudo, na história do Campeonato Brasileiro apenas em duas ocasiões um clube conseguiu ir além do Bicampeonato — Santos (pentacampeão entre 1961 e 1965) e São Paulo (Tricampeão entre 2006 e 2008) —, pelo que conseguir um terceiro título consecutivo ser a uma missão dificílima para o “Verdão” de Abel Ferreira.
Para sumarizar melhor a situação de cada equipa do atual Brasileirão, segue o seguinte esquema:
🏆- Palmeiras;
🅱- Atlético-GO, Criciúma, Juventude e Vitória;
🌎- Atlético-MG, Botafogo, Flamengo, Fluminense, Grêmio, Palmeiras e São Paulo;
🌐- Athletico-PR, Corinthians, Cruzeiro, Cuiabá, Fortaleza, Inter e RB Bragantino;
🟢- Todos exceto o Cruzeiro.
🏆- Atual Campeão; 🅱- Série B 2023; 🌎- Libertadores; 🌐- Sul-Americana; 🟢- Copa do Brasil
O Brasileirão começa a 13 e 14 de abril e conta com 38 jornadas, tendo a última jornada prevista para 8 de dezembro.
Lucas Lemos
As últimas do projeto:
Casta de 78
Os Panenka
A Mão de Deus
Letra e Vírgula:
É um Café e o Jornal:
Cavadinha:
O Brasil possui 26 Estados e uma Unidade Federativa (Brasília), tendo unificado como 27 Estados para simplificar.
23 Estados possuem 2ª divisão; 11 possuem 3ª e 2 possuem 4ª. O Rio de Janeiro é o único que conta até com 5ª divisão.
Campeonato Regional entre equipas dos Estados da Região Nordeste do Brasil.
Campeonato Regional entre equipas dos Estados das Regiões Norte e Centro-Oeste do Brasil.
Se nenhuma equipa conquistar algum dos dois troféus, as vagas passam para as restantes equipas do Brasileirão, começando pelo 7.º colocado.