Messi descobriu a América, mas não foi o primeiro
Qual é a origem do "Soccer nos States" e quem foram os "Descobridores" que chegaram primeiro à América do Norte
O “mais maior grande” tema destas últimas semanas tem sido a chegada de Messi à MLS (Major League Soccer), mais concretamente ao Inter Miami CF. O impacto foi astronómico e quase imediato, não só nas redes sociais, nos Media tradicionais, mas também na prática, na própria arte que é o Futebol.
Veni, Vidi, Vici é sem dúvida a frase emblemática que se aplica a Messi e ao seu percurso desde a sua chegada à MLS. E é fácil de perceber porquê.
Jogo de estreia - Leagues Cup contra o Cruz Azul - Messi entra aos 54’ de jogo, com um golo de vantagem o Inter Miami estava a ganhar mas, de repente, sofre um golo aos 65´ - o jogo torna-se mais complicado. Quando já ninguém tinha esperança de que o resultado se mostrasse favorável para a cidade de Miami, como que por magia tirada de um conto de fadas, Messi chega-se à frente para bater o livre que iria ser a sua última oportunidade de virar o resultado - era então aos 94´ que o estádio ia abaixo com um livre em arco, daqueles que são mesmo impossíveis de não tirar a camisola de euforia.
Segundo jogo de Messi, este também para a Leagues Cup, desta vez contra o Atlanta United FC. Sem grandes dificuldades durante o jogo, Messi facilmente faz dois golos e uma assistência. Os EUA ficam rendidos com aquela que é a maior aquisição à escala de “BIG jegadores”, como diria Jorge Jesus, desde que Pelé se mudou para os New York Cosmos (NYC) em 1975.
Mas este texto não é sobre a atualidade, nem sobre “estes tempos”, como diria com desdém o meu avô. Este texto serve para se perceber um bocadinho o contexto da nossa definição (visão europeia) do Futebol nos EUA ao longo dos anos.
Como se sabe, o desporto nacional dos EUA nunca foi o Futebol, (ou Soccer, como eles lhe chamam), que enfrentou desde sempre uma enorme concorrência, tanto no coração, como nos gostos da sociedade, muito devido à popularidade de outras modalidades desportivas de criação norte americana que foram surgindo na época, o Basebol ou o Basquetebol, por exemplo. E o nacionalismo norte americano, que falava mais alto, contribuiu para que o Futebol, nos EUA, não ganhasse a dimensão e a popularidade que merecia.
Mesmo assim, em 1921 foi fundada a ASL (American Soccer League), que não cobria todo o país, apenas a parte norte mais industrializada, de onde provinha a maior quantidade de capital, que oferecia a arriscada possibilidade, aos mais aventureiros, de investir num desporto muito recente e sem garantias de retorno desse mesmo capital no futuro.
Infelizmente, mas como seria de esperar, por conta da Great Depression de 1929, muitos clubes declararam falência e isso seria o fim de algumas das ligas de Futebol, amadoras e profissionais, inclusive a ASL.
Com o fim da ASL, o Futebol nos “States” continuou, essencialmente, nas ligas semiprofissionais, o que acabou por limitar o seu desenvolvimento e crescimento como desporto, contribuindo para o crescimento de outras modalidades, que se estavam a estabelecer e a desenvolver bastante nesta época de crise. O Basebol estava cada vez mais consolidado e parecia não sofrer muito em termos económicos, apesar da crise vivida pelo país. O Basquetebol, mesmo só com ligas semiprofissionais, estava cada vez mais presente no dia-a-dia do povo e, aos poucos, o seu desenvolvimento contribuiu para formar uma liga profissional.
Anos mais tarde, a ASL acabou por voltar, mas nada como dantes era: o Futebol já não atraía tantas pessoas como nos primeiros anos das competições. O desporto continuou a ser praticado, mas em menor volume e chegou-se mesmo a pensar que o Futebol iria desaparecer do mapa norte americano, pela falta de interesse da população.
Mas a história iria dar uma grande reviravolta porque em 1950, jogava-se mais um Mundial, desta vez disputado no Brasil, e uma vitória sobre a Inglaterra na fase de grupos mostrou que nem tudo estava perdido. Apesar de não se ter qualificado para as fases finais e de ter ficado em último no grupo, a vitória contra a nação-berço do Futebol foi suficiente para catapultar de novo o desporto no país.

Deu-se então o que se pode chamar um “Boom do Futebol”, pois foi nesse período que o Futebol foi reconhecido como um desporto digno de ser representado na Associação Nacional de Atletas Universitários (NCAA), mostrando um profissionalismo cada vez maior, e sendo aos poucos introduzido como mais um desporto praticado nas universidades em todo o país.
Apesar deste futuro que parecia luminoso no que toca o aumento da popularidade do Futebol nos EUA, o “Soccer” enfrentava obstáculos para cativar o público que assistia essencialmente a outros desportos já consolidados no âmbito nacional. As ligas, na década de 1960 e início dos anos 70, tinham dificuldades em manter os clubes associados, uma vez que os contratos televisivos, devido a uma percentagem de assistência baixa nos estádios e ao desinteresse do público televisivo, eram cada vez mais ínfimos, o que fazia deste desporto uma área pouco rentável. Poucos clubes disputavam a competição e não se sabia qual seria o cenário da temporada seguinte.
Neste cenário, o Futebol era visto como um desporto secundário, porém, com um grande potencial de crescimento, uma vez que podia atingir um público internacional que já acompanhava a modalidade desportiva nos seus países.
Mas, tal como tinha acontecido em 1950, deu-se mais uma reviravolta neste cenário e esta, bastante inesperada. Foi o New York Cosmos (NYC), uma equipe recém-chegada à liga profissional, que protagonizou a maior mudança no Futebol dos EUA. Numa grande aposta para o Futebol local, a contratação de um jogador de renome poderia transformar o desporto no país. Mas o NY Cosmos foi ainda mais longe, não contratou apenas um jogador de renome, mas sim o melhor jogador da época. Apelidado como “The King”, o jogador brasileiro Pelé aceitou um salário astronómico para aquele tempo, pendurou a camisola do Santos FC. e decidiu aceitar um novo desafio que teve a sua oficialização a 10 de junho de 1975
Começava nesse dia uma grande revolução.
O jogo de estreia do “Rei” deu-se a 15 de junho de 1975 contra os Dallas Tornado, e Pelé, que não estava na sua melhor condição física, conseguiu mobilizar adeptos suficientes para bater um recorde de assistência para esse jogo. Com transmissão para 30 países e com 300 jornalistas a cobrir o grande espetáculo que era ver o PELÉ a jogar, a TV americana, CBS, registou um número de 10 milhões de expectadores nessa hora e meia, o que foi claramente um recorde de audiências para jogos de Futebol na época. Durante os três anos de contrato que tinha, Pelé ajudou o NY Cosmos a conquistar o título da liga em 1977, ano em que pendurou as chuteiras, deixando os EUA com um sentimento de missão cumprida.
O ano de 1988 foi de ótimas notícias para o “Soccer” nos EUA, que seria escolhido para receber a edição de 1994 do Mundial (desta vez de Futebol).
O evento mais mediático do Mundo seria organizado pelos Estados Unidos da América e não havia outra opção senão aproveitar esta oportunidade para investir e desenvolver o Futebol a nível nacional e local, de modo a garantir, de uma vez por todas, a presença mais vincada deste desporto no país.
E de facto isso foi acontecendo e o “Soccer” parecia finalmente estar a ganhar popularidade nos EUA, porque em 1996 os EUA viam finalmente a sua “Primeira Liga” ser criada, a MLS (Major League Soccer).
Um porto onde iriam atracar muitos barcos cheios com alguns dos maiores tesouros vindos da Europa, que vendo que iriam ser abandonados, lançavam-se numa nova aventura, onde vinham dar à Costa Leste dos “States” para lhes ser dado o valor (devido) e celebrado o prestígio (merecido).
O ano de 2007 marcou o Futebol local e transportou a MLS para outro patamar a nível mundial. Chegava da Europa um dos maiores e conhecidos tesouros europeus. O astro inglês David Beckham vinha para ficar no Los Angeles Galaxy, (LA Galaxy para quem preferir). Este acontecimento teve um impacto enorme na MLS e ajudou a liga a ser reconhecida internacionalmente. Para se ter uma noção da dimensão que esta contratação teve, na sua estreia, David Beckham conseguiu atrair tanto público que quebrou o recorde de audiências na TV com mais de 1,5 M de espectadores num jogo da MLS.
Mais tarde iria-se tornar presidente no clube de que já falámos (Inter Miami CF.), e seria importantíssimo para o processo de contratação de Messi.
A partir deste ano (2007) e com novos e volumosos investimentos no futebol local all across the country, outros astros do Futebol europeu foram atraídos para jogar na MLS. Lendas como Pirlo, Gerard, Lampard, David Villa, Kaká, Thierry Henry, entre tantos outros.
Tantos outros como Messi, que decerto irá trazer tanto notoriedade, como prestígio ao “Soccer”.
“So as a football fan, enjoy the show.” Zinedine Zidane
Afonso de Oliveira e Silva
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