O Brilho da Estrela Solitária
O Botafogo de Luís Castro segue a surpreender o Brasil com a liderança do campeonato após dez jornadas.
Mais uma semana, mais uma Cavadinha! Hoje, para falar sobre esta que tem sido, talvez, a equipa sensação do Campeonato Brasileiro: o Botafogo. Quando pensamos em futebol brasileiro, hoje em dia, é normal que equipas como Flamengo e Palmeiras sejam as primeiras nas quais pensamos, fruto do grande sucesso recente que estas duas formações têm tido.
Seguidos do Atlético-MG, que gastou imenso dinheiro na tentativa justamente de combater os outros dois, e Fluminense, que montou uma equipa sólida e, sob o comando de Fernando Diniz, encantou o Brasil nos primeiros meses, Flamengo e Palmeiras viam-se, assim, inseridos nesse “quarteto” que, desde janeiro, é cotado como o top-4 do Brasil.
Contudo, se há algo no qual o futebol brasileiro é mestre é a sua imprevisibilidade. Desde os Estaduais, são já várias as surpresas e deceções, quer seja no Campeonato Brasileiro, na Copa do Brasil ou até mesmo nas competições internacionais. E, se há um clube que sabe do que falo, é o Botafogo.
O Botafogo de Futebol de Regatas
O Botafogo, como o Flamengo e o Vasco da Gama, foi fundado, inicialmente, como um clube de Regatas, na década de 1890. Foi apenas na viragem do século que o Futebol se começou a afirmar, tendo sido em 1904 (sim, benfiquistas) que surgiu o Botafogo Football Club — posteriormente Botafogo de Futebol e Regatas.
Com dois títulos do Campeonato Brasileiro (1968 e 1995), um da Copa CONMEBOL1 (1993) e 21 títulos estaduais, o Botafogo é um dos principais clubes do país. O “Fogão” foi indicado pela FIFA ao seleto grupo dos maiores clubes do século XX e detém alguns dos principais recordes do futebol brasileiro, como o maior número de partidas de invencibilidade (52 jogos entre 1977 e 1978) e o recorde de sequência invicta no Campeonato Brasileiro (42, também entre 1977/78). Este sucesso reflete-se também na seleção, sendo o Botafogo a equipa que mais jogadores cedeu à Seleção Brasileira para Campeonatos do Mundo. O clube ainda é o responsável pela maior vitória já registada no futebol brasileiro: um 24–0 sobre o Sport Club Mangueira no Campeonato Carioca de 1909.
Contudo, as suas maiores glórias desportivas vêm das décadas de 1950 e de 1960, considerada a sua era de ouro. Nos últimos anos, o clube do Rio de Janeiro viveu momentos conturbados, com três despromoções à Série B em 19 anos (2002, 2014 e 2020) — tendo agora mais despromoções do que títulos do Brasileirão. Em duas dessas ocasiões, o Botafogo regressou como campeão da segunda divisão no ano a seguir (2015 e 2021), tendo também conseguido o acesso em 2003 e totalizado apenas três anos na “Segundona”.
Botafogo SAF: (S)urpresas e (A)dversidades, mas (F)uturo
Com o retorno à elite do futebol brasileiro em 2022, o Botafogo tornou-se numa Sociedade Anónima de Futebol (de forma geral, semelhante às SAD’s) e passou a ter como acionista o norte-americano John Textor. Em paralelo a desafios como a reestruturação e da busca por quitar dívidas, o “Alvinegro” visou formar uma equipa competitiva.
Dessa mudança veio a contratação de nomes importantes, como o treinador Luís Castro, além de outros nomes conhecidos no futebol português, como: Danilo Barbosa, Gabriel Pires e Marçal, ex-jogadores do Benfica; Carlos Eduardo e Tiquinho Soares, que atuaram pelo Porto; e Lucas Piazon, que defendeu o Rio Ave e pertence atualmente ao Braga, estando emprestado ao Botafogo. De forma geral, Textor reformulou por completo o plantel do clube, com mais de 15 atletas contratados e apenas dois dos jogadores campeões da Série B em 2021 a fazerem ainda parte do projeto.
Em nível de resultados, o Botafogo teve um começo instável. Em 2022, apesar de uma época um tanto dececionante, o “Fogão” chegou ainda à última rodada com possibilidade de obter uma das vagas para a Copa Libertadores, o que acabou por não acontecer após a derrota por 3 a 0 para o Athletico-PR. O clube classificou-se, assim, para a Copa Sul-Americana.
2023: do fundo ao topo
Com o final de época frustrante, o Botafogo começou o ano com bastante pressão e, após um péssimo começo de época, viu-se eliminado precocemente do Campeonato Carioca, o que, somado com uma má eliminatória na Copa do Brasil, enfureceu os adeptos, que começaram a protestar contra John Textor e também Luís Castro.

O ambiente conturbado pôs em causa não só o futuro do clube em 2023, mas até qual a real utilidade das SAF’s no futebol brasileiro, visto que o modelo ainda é recente no futebol brasileiro — com Bahia, Cruzeiro, Cuiabá, RB Bragantino e Vasco como únicas outras Sociedades Anónimas no Brasileirão — e, de forma geral, ainda não deu provas dadas.
Contudo, mesmo nesse ambiente de alta pressão, o Botafogo manteve Luis Castro sob o comando da equipa e não fez muitas mais contratações, mantendo o trabalho que desiludiu no Carioca. O que para muitos era um erro gravíssimo e que levaria o clube a ter mais uma época frustrante passou a ser, na verdade, um exemplo do quão imediatista o futebol pode ser no Brasil. Com a manutenção do projeto mesmo num momento conturbado, o Botafogo começou o Campeonato Brasileiro com tudo o que tinha para oferecer, sendo o atual líder do campeonato.
Com a melhor defesa (sete golos sofridos) e terceiro melhor ataque (18 golos marcados) do Brasileirão até agora, o Botafogo é o líder da prova, com 24 pontos — três a mais que o Palmeiras. Como mandante, seis vitórias em seis jogos e apenas um golo concedido contra os 12 que anotou, a ser, com sobras, a melhor equipa do país quando joga em casa. Com um aproveitamento de 80%, o Botafogo vê as suas probabilidades, seguindo os cálculos do Departamento de Matemática da Universidade Federal de Minas Gerais, chegarem a 33% de hipóteses de título ainda na décima jornada, valor que se junta aos 85% de chance de classificação para a Libertadores e aos 0.18% de hipóteses de despromoção e choca o futebol brasileiro.
Os 24 pontos dos 30 disputados representam a terceira maior pontuação de um clube na história do Brasileirão por pontos corridos após dez rodadas disputadas, quinta melhor campanha, ficando atrás dos 26 pontos conseguidos por Palmeiras (2019) e duas vezes pelo Corinthians (2011 e 2017) e também dos 25 pontos do Atlético-MG em 2012. Duas dessas quatro campanhas resultarem em título — as do Corinthians —, o que alimenta ainda mais o sonho da estrela solitária.
O grande destaque do Botafogo é o avançado Tiquinho Soares, avançado ex-Vitória SC e FC Porto, o líder nos marcadores do Brasileirão: leva oito golos, três a mais do que Hulk (Atlético Mineiro) e Roger Guedes (Corinthians), que marcaram cinco vezes. Tiquinho leva também três assistências, tendo, assim, participação direta em 11 dos 18 golos marcados pelo líder até agora. No total da época, são 19 golos e 6 assistências em 28 jogos disputados.
Conhecido por “Estrela Solitária”, presente no seu emblema, e por “Glorioso”, o Botafogo tem superado todas as expetativas e feito valer as suas alcunhas, conseguindo sair com glórias mesmo após o preocupante começo de época e, agora, brilhando da mesma forma que a Estrela D’Alva, inspiração do símbolo do clube, brilha e encanta, ainda hoje, o céu na enseada de Botafogo, no Rio de Janeiro.
Lucas Lemos
As últimas do projeto:
Os Panenka: Benfica. Destaques da Liga. Cultura Futebolística (c/ Aires Gouveia).
Modo Carreira: Futuro e Gestão de Expectativas.
Spaces 78: Caso Vinicius e o Fairplay.
Letra e vírgula:
Damas de Ferro:
Cavadinha:
Competição disputada de 1992 a 1999. Foi uma competição de segundo ou terceiro nível sul-americano, comparada com a Copa da UEFA e considerada precursora da Copa Sul-Americana.