O copo está meio vazio ou meio cheio?
38 anos depois, o Club Sport Marítimo acaba despromovido - será uma nova oportunidade para aproveitar e reconstruir na II Liga, ou o fim de uma era na I Liga com um futuro desolador?
O rebranding do 78 nasceu com o objetivo de reformular um projeto agregador. Perguntou-se “Mas o que agrega exatamente?” nesta (re)introdução ao projeto. A resposta? Estamos presentes até para revolucionar e inovar em vias de filosofia.
Quando um copo está com água a metade, será que está meio cheio ou meio vazio? O velho ditado (ou frase proverbial para os atentos) usa-se para representar pontos de vista otimistas, ou pessimistas - positivos, ou negativos - há séculos.
Para citar Dani Rojas: ‘Football is Life’, e pode-se aplicar a teoria no futebol. Porque quanto mais futebol podemos incluir no nosso dia, melhor, não? (Um abraço para os apreciadores de ‘Ted Lasso’)
‘É mão na bola, ou bola na mão?’
A resposta? Mudanças de regra para (re)definir e esclarecer (confundir) ao povo.
E especificamente, o futebol Português - por exemplo, o número ‘7’ é marca de craque, ou o abismo dos jogadores amaldiçoados de verde e branco.
Inicia-se cada jornada com uma curiosidade pertinente - será que o Estádio José Alvalade está meio cheio ou vazio? (Resposta óbvia em pleno 2023)
Neste desfecho da época emocionante de 2022/23, o número ‘38’ pode significar uma grande conquista, ou o fim de uma era marcante no campeonato português.
Para os adeptos verde-rubros da Madeira, não é o copo que está neste momento vazio - o vazio realmente se sente no coração após este desfecho cruel.
A loteria dos penáltis após bolas ao ferro e até um golo anulado apenas por 2 centímetros. No copo (clube) maritimista, viu-se uma exibição acima da média de jogadores a darem a vida pela manutenção - mas este ‘copo’ usa-se há semanas e meses, e esteve sempre a derramar demasiados golos sofridos, partidas inconsistentes e jogadores sem a condição física desejada.
No copo meio cheio ou vazio, é comum referir a água, muitos preferem Sagres ou Super Bock (que igualmente dividem opiniões) - na Madeira, o copo que enchia-se com Coral para festejar, já é para esquecer e entorpecer a dor.
É importante relembrar que, apesar da sua impopularidade, o Club Sport Marítimo é um grande clube para a realidade das ilhas insulares e o futebol português.
Os vencedores do antigo Campeonato de Portugal em 1925/26 tornaram o clube Madeirense como um dos poucos capazes de combater a hegemonia dos 'três grandes’. Mais de 40 presenças na primeira divisão seguiram desde o fim do período de exclusão aos clubes insulares dos campeonatos portugueses (até na Taça de Portugal houve uma ronda qualificativa para os clubes das ilhas apenas). Duas presenças na final da Taça de Portugal e na Taça da Liga, nove presenças em competições europeias fizeram do Marítimo ‘O Maior das Ilhas’, e de acordo com a Federação Internacional de História e Estatísticas do Futebol (IFFHS), o quinto melhor clube português do século XXI.
Um clube com séculos de história apenas na pequena ilha da Madeira (com quase cinquenta títulos) tornou-se (contra todas as expectativas) um marco do futebol português, uma figura principal, por bem ou por mal.
Uns preferem ficar na cultura desportiva do país, outros sabem valorizar uma média extraordinária de 8.5k espetadores, durante a pior época dos últimos 40 anos, por exemplo.
Foca-se nas deslocações difíceis dos continentais (uma ou duas por época, por clube), mas não dos insulares (16 ou 17). Imagina-se o impacto, especialmente no futebol moderno, com demasiados jogos (para clubes de menor dimensão) nas épocas alongadas (para não discutir o impacto financeiro, nem o encaixe financeiro dos setores visitantes.
Apenas cinco clubes replicam os mesmos números consistentemente, e são indiscutivelmente os maiores do país em 2023.
O copo da Liga BWIN Portugal fica mais cheio com a contribuição do Club Sport Marítimo com um projeto à altura do clube. Fica vazio sem a contribuição das ilhas insulares, pela primeira vez em quase 40 anos.
E o Marítimo representa a sua região como poucos - A Região Autónoma da Madeira utilizou durante anos o clube como veículo para carregar narrativas e objetivos políticos, na luta pela autonomia e liberdade do país continental - criando este simbolismo ligando o clube à ilha.
Uma curiosidade - o infame Alberto João Jardim (antigo presidente do Governo Regional da Madeira) puxou para a fusão dos gigantes Madeirenses (incluindo Nacional e União da Madeira) criando uma super-equipa governamental - algo imediatamente rejeite com fervor, em assembleia geral, pelos sócios do Marítimo) acabando com o Alberto João nas comemorações dos 100 anos de história do Nacional da Madeira.
O copo do Marítimo está cheio de uma rica história, de adversidades, de grandeza apesar da disparidade entre ilha e continente. Estiveram certamente de copo cheio durante décadas.
Basta avaliar o que resta do copo meio cheio neste copo meio vazio.
Um José Gomes corajoso aceitou o desafio de regressar e escapar o inevitável, e falhou. Deu para afeiçoar uma equipa anteriormente coletivamente desconectada, sem melhorias para compensar pelo início de época desastrosa (Sete derrotas em sete jogos com 22 golos sofridos - pior registo na história do clube). O rumor de Paulo Alves promete - protagonista da época maravilhosa do Moreirense - um ex-verde-rubro já com dois títulos de II Liga.
Infelicidade maritimista nunca será por falta de potencial para descobrir dentro do clube - e já viu-se que existe bastante espaço para evoluir e crescer.
Uma equipa com muito talento individual pode-se desfazer, ou seja, reconstruir.
Viu-se um André Vidigal mais eficaz (melhor marcador da equipa) e o mais consistente desde a sua chegada aos leões do Almirante Reis. Aproveitou-se o Bruno Xadas, com facilidade brutal no passe. Moisés Mosquera, que começou no Campeonato de Portugal e acabou por acrescentar na defesa de José Gomes, monstruoso com o seu poder físico e leitura do jogo. Val Soares conseguiu equilibrar um meio-campo sem balanço e permeável, Paulinho igualmente na defesa, um dos poucos elementos para beneficiar o jogo coletivo. Marcelo Carné salvou.
Muitas contratações saíram ao lado e acrescentaram muito pouco (Jesús ‘Chucho’ Ramirez, Percy Liza, Gonçalo Cardoso, Miguel Silva, Brayan Riascos, Rafael Brito) enquanto outros, no mínimo, foram inconstantes (Geny Catamo, João Afonso, Réné Santos). Muitos, naturalmente, estarão à porta da saída.
Apesar dos jogadores, os Leões da Madeira caíram devido às guerras que geram internamente. Passaram mais de 20 anos com poder máximo ao líder autocrático Carlos Pereira - Rui Fontes, como (ante)sucessor com objetivo de “descentralização nas decisões, responsabilidade, profissionalismo, inovação e modernização", chegou com uma tarefa naturalmente dificultada.
Obras incompletas, um relvado digno para plantar batatas (semilhas, para os madeirenses), e projetos e plantéis abandonados. Não se pode construir sem reconstruir com a ausência da base para sucesso - evitar o inevitável nem é sempre possível, e o Marítimo bem levou com os avisos necessários, 'flertando' com a despromoção como o Jorge Jesus com as trabalhadoras numa conferência de imprensa.
Entre SAD e clube? Zero harmonia. Houve rumores de meses sem reuniões, e uma tomada de posse ocorreu apenas no fim de 2022 - a dificultar os processos de renovação em setores negligenciados. Admitido pelo próprio presidente, houve transferências negociadas pelo presidente, canceladas pela SAD. Preparação de época de luxo nunca seria possível.
Os patrimónios do clube? Longe da realidade exposta aos sócios e adeptos do clube. Um clube português raramente sobrevive tranquilamente, desprotegidos com a realidade de muitas SADs, instável perante a entrada de financiadores e investimentos externos. A queda de divisão com perdas no valor dos direitos televisivos (a boia essencial) pode resultar em afundamento.
Académica de Coimbra, Vitória FC, Beira-Mar, CD Aves, o próprio Estrela da Amadora, e é importante referenciar - União da Madeira, e atualmente, o Nacional da Madeira. Demasiados são os exemplos da volatilidade financeira que desfazem plantéis inicialmente promissores e entidades históricas.
Os interesses do clube precisam de ser protegidos pelos defensores do clube, não os interessados nos benefícios do clube.
Entretanto, finalmente a estrutura está definida - com Tiago Lenho (diretor desportivo) ao comando, e um projeto interessante para executar (com Milton Mendes, Vasco Seabra, e até José Gomes, mostrou sinais de vida de forma intermitente).
Formar um projeto digno de consertar a reputação do Club Sport Marítimo.
“Regressar de imediato ao nosso lugar não é só desígnio: é obrigação.” - Comunicado da direção dos verde-rubros.
Será possível, olhando para o copo meio cheio.
Kevin Fernandes
As últimas do projeto:
Os Panenka: Champions e Melhores da Época 22/23 c/ Óscar Botelho
Modo Carreira: Futuro e Gestão de Expectativas.
Spaces 78: Caso Vinicius e o Fairplay.
Letra e Vírgula:
Damas de Ferro:
Cavadinha: