O Poder das Estrelas
O amor que temos pelos nossos clubes é incomparável, mas a capacidade que certos jogadores têm de potencializar essa energia dos adeptos é um autêntico poder. No Brasil, o que não falta são exemplos.
Domingo, o Coritiba confirmou a contratação do Slimani. Sim, o Slimani, avançado que passou por Sporting, Leicester, Newcastle, Mónaco, Lyon e outros grandes clubes — além de ser um dos maiores jogadores da história da seleção da Argélia —, assinou pela equipa que ocupa atualmente a 19.ª colocação do campeonato brasileiro.
E esta notícia fez-me pensar no quão atrativo o Brasileirão se tem tornado nos últimos anos para não só atrair grandes jogadores, mas atrair grandes nomes para as suas equipas menos reconhecidas. É normal jogadores brasileiros regressarem para o Brasil quando mais veteranos, mas o fluxo tem ultimamente sido tanto que deixa qualquer um estupefacto de ver quantos grandes nomes há no campeonato.
Assim, comecei a pensar também no quão impactante isto pode ser para o futebol brasileiro, que, apesar de ser uma ótima “montra” de craques, costuma perdê-los ainda jovens para a Europa e fica com uma qualidade (apesar de que ainda boa) bem inferior ao que poderia ser. No impacto que essas estrelas podem ter não só em relação a elevar o nível competitivo da liga, mas também o seu nível comercial e financeiro. Afinal, grandes jogadores não são só promovidos pelos clubes, como também conseguem promover a camisola que vestem.
Eu ainda me lembro, por exemplo, de quando e do porquê comecei a gostar de futebol. Era 2010; um miúdo de 6 anos olhava para o ecrã e via 11 homens, trajados com as cores do seu país (para o representar), a enfrentar outros 11 com a mesma missão, naquilo que era o Campeonato do Mundo. Não me lembro muito dos jogos em si, sendo muito do que sei sobre o que aconteceu naquela prova fruto do meu interesse em voltar a ver sobre isso quando mais velho. Porém, lembro-me da alegria, da emoção, da festa que era e é o futebol. Não ironicamente, a minha festa de anos daquele ano foi temática do Mundial. Aniversário de seis anos, Brasil em busca do famoso “Hexa”… tudo batia (até que afinal não bateu, mas não adianta falar sobre isso). Lembro-me, honestamente, de ver o Kaká, o Luis Fabiano, o Elano, o Júlio César e outros craques, e ficar encantado.
Na altura, nem percebia direito como funcionava a relação clubes-seleções. Sabia da existência de clubes, até conhecia alguns, mas não o suficiente para saber que os mesmos atletas podiam representar as duas equipas, por exemplo, ou para acompanhar qualquer campeonato que seja. Contudo, a incessante curiosidade pela bola estava já plantada, e foi justamente através dos grandes craques que eu também me inseri no cenário do futebol de clubes.
Curiosamente, por volta de quando nasci até quando comecei a ter maturidade suficiente para perceber as coisas, deu-se também um período de craques a retornar ao futebol brasileiro: Carlos Gamarra, um dos grandes centrais da história do futebol do Paraguai e da América do Sul, chegava em 2005 ao Palmeiras após passagem pelo Inter de Milão; Contando também com Vampeta, Romário, Juan Pablo Sorín e Roque Júnior, que voltaram entre 2007 e 2008, a verdade é que havia sempre algum jogo ou clube na boca das pessoas. Sendo um país viciado em futebol, normalmente tal já acontece. Com grandes craques em várias equipas diferentes, ainda mais. E se há dois grandes craques que contribuíram para o meu amor pelo desporto-rei foram Adriano “Imperador” e Ronaldo “Fenómeno”. Ambos voltaram da Europa por volta de 2009, com Adriano a ser fundamental na conquista do Campeonato Brasileiro por parte do Flamengo e Ronaldo, apesar de estar numa situação um pouco diferente, a espalhar magia com a camisola do Corinthians.
A partir daí, engana-se quem pensa que as coisas mudaram: logo em 2011, primeiro ano em que acompanhei de facto o Futebol Brasileiro, tive o prazer de testemunhar Ronaldinho Gaúcho a fazer o impossível nos relvados do Brasil ao serviço do Flamengo, Deco (azarado, mas) genial no Fluminense e um goleador Luís Fabiano de regresso ao São Paulo, já para não falar num miúdo chamado Neymar.


Nos anos seguintes, as adições só aumentaram: Diego Forlán no Internacional, Paolo Guerrero no Corinthians (onde foi campeão Mundial), Clarence Seedorf no Botafogo, Kaká e Diego Lugano no São Paulo, Maicon no Avaí, Júlio César no Flamengo, Hernanes no São Paulo e, mais recentemente, Ramires no Palmeiras, Diego Alves no Flamengo (onde se tornou num ídolo), Keisuke Honda no Botafogo, Willian no Corinthians e Diego Godín no Atlético Mineiro.
Como podem ver, a lista não é curta, ainda mais porque falamos apenas de jogadores reconhecidos que vieram ao Brasil, sem contar ainda os diversos craques feitos “em casa” ao longo desses anos. São jogadores assim que movimentam ainda mais os estádios, as ruas, as redes sociais, tudo!
Foi a ver estrelas que aprendi a amar o futebol, especialmente o brasileiro. Em 2011, por exemplo, desta vez a contar também com os jogadores que estavam ainda a surgir do próprio Brasileirão, cresci a ver o Flamengo de Ronaldinho Gaúcho; o Santos de Neymar e “PH” Ganso; o Fluminense de Fred e Deco; o Internacional de D’Alessandro e Leandro Damião; o Corinthians de Paulinho e Emerson “Sheik”; o Vasco da Gama de Juninho Pernambucano e Fernando Prass; o São Paulo de Rogério Ceni e Luís Fabiano… Em quase todos os lados havia um grande talento para apreciar.
Ao longo dos outros anos, houve também o Cruzeiro bicampeão nacional (2013 e 2014) com Fábio, Júlio Baptista, Éverton Ribeiro e muitos outros craques; o Atlético-MG de 2013, campeão da Libertadores com Ronaldinho, Diego Tardelli, Bernard e Victor; o Grêmio de 2017, campeão da Libertadores com Luan, Marcelo Grohe, Geromel e Everton “Cebolinha”; e muitas outras equipas que enchiam os olhos a qualquer um e que me fariam escrever por horas apenas para referir cada uma.
Como se não bastasse, nos últimos cinco/seis anos, parece que o Campeonato Brasileiro tem conseguido atrair ainda mais jogadores estrelados e formar equipas competitivas. Palmeiras e Flamengo foram os primeiros a “dar o salto”, dominando amplamente o cenário nacional entre 2018 a 2022, período em que o Flamengo, de Gabriel Barbosa, Éverton Ribeiro, Bruno Henrique e Arrascaeta, e o Palmeiras, formado por Weverton, Gustavo Gómez, Raphael Veiga, Dudu, e comandado por Abel Ferreira, conquistaram 16 dos 33 títulos disputados no período. Foram equipas que marcaram todos os adeptos (dos dois clubes ou dos rivais), quer pelos títulos e si, quer pelos grandes atletas que tinham (e têm) a representar as suas cores. São nomes que ficam marcados para sempre na história e na memória de cada um de nós, amantes do futebol. É esse o poder das estrelas — encher olhos e corações com o seu brilho.
E, em 2023, o Campeonato Brasileiro tem-se apresentado como uma verdadeira constelação: todas as equipas tem pelo menos um grande jogador, quer seja um veterano mundialmente conhecido ou uma jovem promessa. É incrível ver como o Brasil, que apesar de ter sempre contado com craques (porém de forma desbalanceada), conseguiu agora reunir diversos nomes interessantes em várias equipas diferentes. Já não há só Palmeiras e Flamengo — como se pode perceber pelos resultados que 2023 tem apresentado até ao momento.
Dava para citar pelo menos dois nomes por equipa, mas, como ficaria demasiado extenso, vou referir alguns dos nomes mais conhecidos internacionalmente desse Brasileirão 2023: Fernandinho, Vítor Roque e Vidal (Athletico-PR); Hulk (Atlético-MG); Gilberto (Bahia); Rafael, Marçal, Tiquinho e Diego Costa (Botafogo); Lucas Veríssimo, Paulinho e Renato Augusto (Corinthians); Slimani (Coritiba); Rafael Cabral (Cruzeiro) Deyverson (Cuiabá); David Luiz, Filipe Luís e Gabi (Flamengo); Felipe Melo, Marcelo e PH Ganso (Fluminense); “Luisito” Suárez e João Pedro (Grêmio); Hugo Mallo, Aránguiz e Enner Valencia (Internacional); Gustavo Gómez e Endrick (Palmeiras); Tomás Rincón, Jean Lucas e Marcos Leonardo (Santos); James Rodríguez, Lucas Moura e Rafinha (São Paulo) e também Gary Medel e Dimitri Payet (Vasco da Gama).
Para terem uma noção, eu referi “apenas” 35 nomes de 14 equipas de uma lista que inicialmente contava com mais de 60 jogadores espalhados pelas 20 equipas do campeonato. É este o novo Brasileirão, um campeonato impulsionado pelas suas estrelas que, espero eu, possam encher os olhos e apaixonar as novas gerações da mesma forma que, há 13 anos, fizeram comigo.
Lucas Lemos
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