Sporting, Liverpool e o novo formato: A 4ª Jornada da UEFA Champions League
Real Madrid em baixa enquanto o Sporting goleia o Man City e o Liverpool assume a liderança: os destaques da Liga dos Campeões e as notas que tiramos da competição até agora.
Tal como o novo formato da UEFA Champions League, aqui também vamos à aventura. Na Casa dos Milhões, queremos trazer-vos o melhor e o pior da edição 24/25 desta liga milionária.
JOGOS EM DESTAQUE:
Sporting x Manchester City: A cereja no topo do bolo
É difícil fugir aquele que foi, de forma quase unânime, o momento mais badalado não só destes dois dias de Champions League, mas também de toda a época do Sporting, e talvez o resultado mais chocante de toda a competição até agora. O Sporting recebeu no “vulcão de Alvalade” o todo poderoso Manchester City, que, apesar de se ter adiantado cedo no marcador através de Phil Foden (golo logo aos 3 minutos), não esperava certamente um tal de Viktor Gyökeres, que toda a Europa já tinha debaixo de olho, deixando de lado as dúvidas, e confirmando-se como uma certeza no maior palco do futebol europeu. 4-1 foi o resultado final, com hat-trick da jóia da coroa leonina, naquela que foi a despedida de Rúben Amorim como técnico do Sporting, em Alvalade.
A primeira parte contrasta com o resultado. Jogo de sentido único, leões completamente dominados, e um exagerado medo do adversário, que levou a uma panóplia de erros defensivos. O golo de Gyökeres a fechar a primeira parte deu o embalo necessário ao Sporting para o início da segunda parte. E que início! Em menos de um minuto, e com uma jogada que tem corrido esse mundo fora, Maxi Araújo gelou os adeptos ingleses presentes em Portugal e confirmou a cambalhota no marcador, que viria a ser ainda mais pesada minutos depois, com Francisco Trincão a sofrer um penalty, deixando para o inevitável Gyökeres a responsabilidade do 3-1, que não desperdiçou.
Tudo corria de feição, e a perdida de Haaland no penalty para o Manchester City confirmava o pior cenário para os pupilos de Pep Guardiola: a estrelinha estava de volta a Alvalade. A simbiose entre adeptos, equipa e sorte deu-se, e já com Geny Catamo em campo, os leões beneficiaram de nova grande penalidade, e sentenciaram o jogo, transportando o resultado para contornos humilhantes, como já não se via desde 2020 no lado azul de Manchester. A ocasião foi perfeita. Amorim despede-se de Alvalade naquela que pode vir a ser a noite mais icónica da sua carreira até ao momento. O Sporting respira confiança, e o segundo lugar na prova milionária comprova exatamente isso.
Liverpool x Leverkusen: Segue o “Liver”
O Leverkusen foi a Anfield visitar o Liverpool num jogo que gritava “reencontro”. Xabi Alonso voltava ao estádio onde tanto fora feliz, desta vez como treinador. A recessão, apesar de incrivelmente calorosa por parte dos Reds, não deixaram que a equipa do espanhol se sentisse em casa, com a estratégia de Arne Slot e a forma de Luis Díaz em campo como fatores determinantes para a goleada por 4-0.
A primeiro parte foi de bastante equilíbrio, com o Liverpool a ceder 58% da posse de bola, enquanto o Leverkusen tentava assumir o domínio territorial sem criar grandes oportunidades. Apesar da ausência de golos, o jogo evidenciou um forte trabalho defensivo dos Reds e ajustes táticos de Slot, que surgiram com mais clareza na segunda parte.
Até porque foi mesmo na segunda parte que os britânicos brilharam: o Liverpool mostrou intensidade e mudanças na pressão ofensiva que impulsionaram uma série de golos rápidos. O primeiro veio aos 61 minutos, quando Curtis Jones lançou Luis Díaz, que aproveitou a oportunidade para encobrir Hradecky; Aos 63’, Salah cruzou para Gakpo e o VAR confirmou o 2-0 após revisão. Diaz destacou-se ainda mais, concluindo dois outros momentos: o terceiro golo (o bis) sai aos 83 minutos e, já nos acréscimos, completa o hat-trick, aproveitando um rebote gerado por um remate de Darwin Núñez.
Com este triunfo, o Liverpool permanece invicto na fase de grupos e ocupa a liderança isolada, com 12 pontos em quatro jogos, demonstrando consistência e profundidade no elenco, características que têm sido evidentes sob o comando de Arne Slot
Real Madrid x Milan: Alerta vermelho em Madrid
Estava encontro marcado em Madrid para por, lado a lado, duas equipas que têm estado abaixo das expectativas na Champions League.
De um lado, o Real em convulsão: más prestações na La Liga, o 0-4 frente ao rival Barcelona, a presença pouco notada de Mbappé no ataque e até mesmo questões extracampo (episódio da bola de ouro) têm aumentado o desfoco que parece estar latente na equipa madrilena.
Do outro lado, o Milan de Paulo Fonseca ocupa o modesto 7º lugar na liga, chegando a este jogo com apenas uma vitória em 3 jogos na competição. Para a Serie A, o arranque foi a meio gás, com apenas 2 pontos nos primeiros três jogos (mesmo não enfrentando adversários diretos).
Apesar do inicio mais blanco, é através de um canto que o Milan se adianta no marcador: Thiaw não acusa a marcação apertada e dá rumo à bola colocada na área por Pulisic.
Nos minutos seguintes o Real reagiu: Bellingham, Mbappe e Vinicius apontaram para a baliza mas foi mesmo o brasileiro a conseguir ganhar o penalti que igualaria a partida.
Os italianos não acusaram a pressão e, perante uma bola ganha no meio campo do Real e a passividade dos espanhóis, foi fácil tricotar a jogada do 1-2: bola na ala, cruzamento para Leão que, com todo o espaço do mundo remata para a defesa de Lunin e, perante a sobra e, novamente, a passividade madridista, Morata ataca o ressalto para fazer o segundo.
Na segunda parte o Milan jogou na expectativa e a tentar aproveitar o erro dos espanhóis. Por várias vezes acabou por causar perigo na baliza de Lunin mas, a verdade, é que foi preciso um grande momento individual de Reijnders e a combinação com Leão para o Milan matar o jogo.
São três pontos importantíssimos para um Milan a lamber as feridas de um inicio de época turbulento, numa fase em que Real e Milan ocupam o 18º e o 20º lugares.
PSG x Atlético de Madrid: O que se passa em Paris?
A vida não está fácil para Luis Enrique, treinador do Paris SG. Depois do empate em casa frente ao PSV, que não estava certamente nos planos, o PSG voltou a marcar passo, e num jogo onde teria obrigação de ganhar (dadas as oportunidades que teve), perdeu no último lance do jogo, frente ao sempre pragmático Atlético Madrid, com um golo do inevitável “super-sub” Angel Correa.
E em Paris, a situação está negra (na Champions League). São apenas 4 pontos em 4 jogos (Vitória frente ao Girona, empate frente ao PSV e duas derrotas com Arsenal e Atlético Madrid), com adversários como o Bayern Munique e o Manchester City ainda pela frente. Segundo as previsões da UEFA, aquando do inicio da competição, serão precisos 8 a 10 pontos para que uma equipa se apure através do play-off de acesso, o que significa que o PSG tem obrigação de vencer o RB Salzburg na Áustria e o VFB Stuttgart na Alemanha, assumindo que os resultados frente aos “tubarões” poderão pender para cada lado.
Da pouca paciência parisiense já todos nós temos conhecimento, mas será que existiriam condições para o técnico espanhol continuar no leme dos campeões franceses caso fosse eliminado neste mais extensa edição da Champions League? Para já, os parisienses ocupam o 25º lugar, fora dos lugares de playoff. A vida não está fácil para Vitinha, João Neves, Nuno Mendes e companhia…
Arsenal x Inter: Pragmatismo venceu.
Com apenas um remate à baliza, resultado de um pênalti controverso, o Inter de Milão de Simone Inzaghi conseguiram conquistar três pontos cruciais para cimentar um lugar no topo da tabela. Hakan Çalhanoglu apontou o único golo da partida, como esperado, pois manteve-se uma sequência impressionate de 19 conversões de pênalti consecutivas desde que chegou ao clube.
Apesar do domínio dos ‘gunners’, desfazer o bloco ‘nerazzurri’tornou-se uma tarefa impossível na ausência da criatividade de Martin Ødegaard, da influência de Bukayo Saka (sufocado pelos Italianos, uma tarefa facilitado sem um norueguês para partilhar as responsabilidades criativas) e sem um goleador nato no plantel. Houve ameaças de Mikel Merino, Gabriel Martinelli e Kai Havertz, mas um Yann Sommer inspirado anulou todas as tentativas, que não foram suficientes.
E podia ter sido uma exibição muito diferente, mas atingir o rosto do adversário não resulta em grande penalidade (conquistada por Mehdi Taremi, surpreendendo ninguém). Entretanto, uma interpretação das leis do jogo identificaram uma mão de Merino dentro da pequena área.
As tentativas desinspiradas de agitação de Mikel Arteta sublinharam uma dependência, sem coragem para apostar no futuro (nomeadamente, Ethan Nwaneri). O estilo cínico do Inter, caracterizado por um futebol defensivo e transições rápidas, foi evidente ao longo do jogo, e a profundidade do plantel de Inzaghi demonstrou-se quando jogadores importantes como Bastoni, Dimarco, Barella e Thuram começaram no banco. O técnico italiano, que herdou uma equipa com potencial porém fora da elite europeia, transformou o Inter numa força temida, com uma defesa impenetrável que agora mantém uma sequência impressionante de quatro jogos sem sofrer golos na Liga dos Campeões.
Um passo que falta ao Arsenal de Mikel Arteta. As comparações com José Mourinho começam a chegar pelas semelhanças em aumento, mas será que é respeitoso colocar o espanhol no saco especial do vencedor nato?
O projeto do Arsenal arrisca-se estagnar.
NOVO FORMATO: O que pensar até ao momento
Já tivemos quatro das oito jornadas previstas para a Fase de Liga da UEFA Champions League, sendo as primeiras provas práticas deste novo formato implementado a partir de 2024/25. Assim, estas são algumas das notas acerca do que vimos até agora:
O conceito de “Liga” (pontos corridos) torna necessária uma maior regularidade por parte das equipas, dando o devido mérito a quem tiver um desempenho mais constante; além disto, haver confronto obrigatório contra duas equipas de cada pote também garante uma “dificuldade” uniforme para todas as equipas, sendo improvável que alguém tenha a vida muito facilitada como acontecia no formato anterior.
Para encerrar o ponto anterior: na atual edição o Liverpool é a única equipa com 100% de vitórias após apenas quatro jornadas. Se não vencerem todos os jogos restantes, seria a primeira vez em quatro anos que nenhuma equipa termina com 100% de vitórias na Fase de Grupos/Liga — uma mudança de padrão face a “mesmice” que vimos nos últimos anos.
Este ganho de competitividade resultante da mudança de formato perde-se um pouco com o aumento do número de equipas. Com quatro equipas a mais na prova, curiosamente aparenta haver cerca de 4 ou 5 equipas sem nível para a mais prestigiosa prova de clubes da Europa. É ver se na segunda metade provam o contrário.
Por fim, a sequência definida no calendário é bastante relevante. Basta ver o Brest (que está em 4º com 10 pontos) e o RB Leipzig (32º com 0 pontos): enquanto os franceses defrontaram Sturm Graz (pote 4), RB Salzburg (3) e Sparta Praga (4), sendo o Leverkusen o único encontro “de peso” até agora, os alemães começaram com Atlético de Madrid (2), Juventus (2) e Liverpool (1), ou seja, não apanharam nenhuma equipa do pote 4 (e teoricamente mais acessível).
Não é tirar o mérito das “surpresas” do momento (Brest, Monaco, etc), mas ainda há muito a resolver, pois o formato não permite a ninguém ter a vida “tratada” tão cedo. Perde-se um bocado a emoção das primeiras jornadas, mas garante uma “passagem de ano” repleta de jogos decisivos.
Com estes resultados, o Liverpool assume o posto de líder da UEFA Champions League com 100% de aproveitamento. O Sporting está em segundo, com 10 pontos.
OUTROS RESULTADOS:
Bayern 1-0 Benfica
Club Brugge 1-0 Aston Villa
Celtic 3-1 RB Leipzig
Lille 1-1 Juventus
Bologna 0-1 Monaco
A UEFA definiu também a equipa da semana:


Os melhores momentos da edição 2024/2025 da UEFA Champions League são para acompanhar no Substack do 78. Fica atento!
João Pinto, Kevin Fernandes, Lucas Lemos e Pedro Brites
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