Voem, Canarinhas, voem!
Tudo o que precisa saber sobre a Seleção Brasileira Feminina de Futebol, que se estreia no Mundial 2023 nesta segunda-feira.
Mais uma semana, mais uma Cavadinha! Hoje, com um tema mais do que necessário: a Seleção Brasileira Feminina. O Mundial 2023, realizado na Austrália e na Nova Zelândia, começou neste dia 20 de julho e durará 30 dias, tendo a sua grande final agendada para 20 de agosto. O 78 fará a cobertura deste grande evento através das nossas redes sociais (Instagram e Twitter) e a Cavadinha, já no clima deste que é o primeiro mundial feminino com 32 equipas e o primeiro a contar com a participação de Portugal, não poderia falar noutra coisa.
Assim sendo, hoje falamos de tudo o que precisa saber para entender quem exatamente é esta seleção do Brasil que chega à Oceânia, o histórico da Canarinho em Mundiais, as 23 selecionadas para o torneio e, também, as expetativas do Brasil neste Campeonato do Mundo.
Em primeiro lugar, temos de lembrar que o futebol feminino foi, injustamente, retardado, e no Brasil a situação não foi diferente. Devido ao machismo, as mulheres, que também sempre amaram o futebol, viram-se proibidas de jogar futebol até meados da década de 80. Para efeito de comparação, nesta altura o Brasil era já três vezes campeão do mundo na modalidade masculina, enquanto as mulheres eram lamentavelmente restringidas.
O futebol é de todos, para todos e por todos que assim o quiserem e em qualquer lugar do mundo. As mulheres não só podem, como devem ter o direito de praticar, comentar, analisar, estudar, opinar e viver essa paixão pelo futebol da forma que bem entenderem, e enquanto no Brasil, em Portugal e em todo o mundo essa situação, lamentavelmente, ainda não for devidamente respeitada, a luta não acabará.
Assim, a Seleção Brasileira disputou o seu primeiro jogo em 1986, frente aos Estados Unidos. Desde então, consolidou-se como uma das maiores seleções do cenário feminino, participando de todas as edições realizadas do Mundial e do Torneio de Futebol Feminino dos Jogos Olímpicos. Tendo conquistado oito das nove edições de Copa América já realizadas (só não ganhou em 2006, quando foi vice-campeã), seis vezes de forma invicta, além de três medalhas de ouro e uma de prata nos jogos Pan-Americanos, totalizando quatro medalhas em seis edições, o Brasil apresenta-se como a melhor seleção sul-Americana.
Este domínio continental, contudo, não se reflete mundialmente. Apesar de conceituada, a verdade é que a Seleção e o Futebol Feminino no Brasil é pouquíssimo valorizado, recebendo muito pouco ou até mesmo nenhum apoio, quer seja de dirigentes, da CBF e das entidades responsáveis, dos Média e, consequentemente, dos próprios adeptos. Mesmo estando em 2023, o machismo estruturado na nossa sociedade segue impedindo o desporto feminino de crescer. O ocorrido na transmissão de Nova Zelândia - Noruega, abertura do Mundial, por parte da CazéTV, do Brasil, demonstra que o futebol feminino enfrenta, constantemente, algo que vai muito além da falta de apoio, tornando-se numa verdadeira sabotagem da modalidade, das suas equipas e suas profissionais. Inaceitável.

A lidar com este tipo de ambiente, é de se imaginar que a Seleção não consiga retirar o máximo das suas equipas. Assim, mesmo contando com algumas das melhores atletas de todos os tempos, como a Marta — eleita a melhor futebolista do Mundo por seis vezes, cinco de forma consecutiva, e quem mais golos marcou em Mundiais, 17, mesmo ao contar as duas modalidades (masculina e feminina) —, o Brasil nunca conseguiu um título expressivo.
Em Jogos Olímpicos, o Brasil conseguiu duas medalhas de prata em sete edições. As duas primeiras participações, em 1996 e 2000, foram frustradas, com a equipa brasileira ficando em quarto lugar e sem medalhas em ambas. As duas edições seguintes trariam as duas medalhas referidas, com o Brasil a ser derrotado pelos Estados Unidos nas finais de 2004 e 2008. Após isso, o Brasil ainda voltaria a disputar a medalha de bronze mais uma vez, em 2016, mas voltou a perder. 2012 e 2020, eventualmente, foram as piores participações brasileiras, com eliminações logo nos quartos de final.
Em Mundiais, por sua vez, a Canarinho participou das oito edições. Em 1991, na China, sendo a única sul-americana das 12 representantes do torneio inaugural, o Brasil foi eliminado em terceiro na fase de grupos com apenas um golo marcado em três jogos. A eliminação precoce repetir-se-ia em 1995, quando ficou em último no grupo. Em 1999, contudo, a Seleção iria dar os primeiros sinais do seu potencial, liderando o seu grupo e seguindo até as meias-finais, onde foi derrotada pelas eventuais campeãs dos Estados Unidos, conseguindo o terceiro lugar. Em 2003 veio mais uma liderança de grupo, desta vez seguida de uma eliminação nos oitavos para a eventual vice-campeã Suécia.
Foi em 2007 que as brasileiras tiveram o seu melhor desempenho, conseguindo vencer todos os jogos até a final, incluindo um 4-0 sobre os EUA na meia-final, mas acabou derrotada pela Alemanha. Contudo, desde então, o cenário nas últimas três edições (2011, 2015 e 2019) foi o mesmo de antes: apuramento para a fase a eliminar, mas eliminação nos oitavos. Apesar de nunca ter conquistado a prova, o Brasil está entre o seleto grupo de oito nações que já chegaram à final da mesma, sendo uma seleção respeitada no cenário internacional.
2023, tentar outra vez
Mesmo sem ter conquistado ainda um grande título internacional, a Seleção do Brasil segue com os sonhos em alto. Comandada, desde 2019, por Pia Sundhage, ex-treinadora dos EUA e da Suécia, a equipa brasileira é uma autêntica combinação entre jovens atletas e grandes veteranas:
Entre as selecionadas, 11 farão a estreia em Campeonatos do Mundo: a guarda-redes Camila (Santos), as defensoras Antonia (Levante UD-ESP), Bruninha (Gotham-EUA) e Lauren (Madrid CFF-ESP), as meio-campistas Duda Sampaio (Corinthians), Kerolin (North Caroline Courage-EUA), Adriana (Orlando Pride-EUA), Ana Vitória e Ary Borges (Louiseville City-EUA), e as avançadas Nycole* (SL Benfica) e Gabi Nunes (Levante-ESP).
*A Nycole, que seria a representante da Liga BPI na equipa brasileira, sofreu uma entorse no tornozelo, sendo cortada da equipa final e substituída por Angelina (OL Reign-EUA), também estreante.
Mantendo a experiência em equilíbrio, o plantel também conta com a Marta, que participará pela sexta vez do Mundial. Soma-se a esse número, a “redes” Bárbara, que estará na sua quinta edição, acompanhada de Bia Zaneratto com quatro e Andressa Alves, Mônica e Tamires, as três em sua terceira edição.
Ao juntar as 23 atletas, a seleção apresenta-se com uma média de idade de 27,5 anos, o seu valor mais alto de sempre em Mundiais. A nível dos clubes representados, nove das 23 atuam nos Estados Unidos, com sete a representarem equipas do Brasil e outras sete a jogar na Europa. O clube mais representado é o Corinthians, com quatro atletas.
Com bons desempenhos nos últimos jogos — levando a decisão da Finalíssima, com Inglaterra, para as grandes penalidades e ganhando a Alemanha por 2-1 —, a Seleção apresenta qualidade para ir longe nesta edição do Mundial. Num grupo com França, Jamaica e Panamá, a expetativa é de garantir um lugar na fase a eliminar e ultrapassar os Oitavos que tanto têm assombrado a Canarinho nas últimas edições.
Um provável onze para a estreia brasileira pode ser composto por: Letícia (GR); Antônia, Kathellen, Rafaelle e Tamires; Luana, Ary Borges, Kerolin e Adriana; Debinha e Geyse.
A estreia do Brasil no Mundial está marcada para 24/7 (segunda-feira) frente ao Panamá.
Lucas Lemos
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