As 'Damas de Ferro' do Brasil
Um pouco da história do futebol feminino no país e tudo sobre o Brasileirão Feminino 2023.
Mais uma segunda, e penso que já sabem o que significa… Os guarda-redes que estejam atentos, pois lá vem mais uma cavadinha! Hoje, com um tema que já devia ter sido mais do que falado: o futebol feminino. Não estamos no Damas de Ferro, mas é mais do que justo deixar de lado os “Neymares” e “Gabigols” e dar a conhecer o cenário do futebol feminino no Brasil, até porque seguimos todos juntos na luta pela sua valorização e pela igualdade de género no futebol.
Com o Mundial cada vez mais próximo, é grande a tentação e a ansiedade de falar sobre a equipa que tentará dar ao Brasil a sua primeira conquista, mas, como ainda falta um pouco, esse tema fica para quando já estivermos em ritmo de Campeonato do Mundo. Na ementa de hoje, então, temos a história do futebol feminino no Brasil, o Campeonato Brasileiro e também a sua edição de 2023, que está a chegar na sua fase decisiva.
Brasil, o país do futebol
O futebol, apesar de ser um fenómeno global, é uma modalidade que possui, com o Brasil, uma relação única, que nenhum outro país consegue ter. Assim sendo, seria parvo pensar que só homens é que se interessam por essa que é uma paixão nacional.
O futebol é de todos, para todos e por todos que assim o quiserem e em qualquer lugar do mundo. As mulheres não só podem, como devem ter o direito de praticar, comentar, analisar, estudar, opinar e viver essa paixão pelo futebol da forma que bem entenderem, e enquanto no Brasil, em Portugal e em todo o mundo essa situação, lamentavelmente, ainda não for devidamente respeitada, a luta não acabará.
No Brasil, relatos de mulheres a jogar futebol existem desde a afirmação da modalidade no país, na primeira década do século XX. Segundo contam alguns jornais da época, a primeira partida de futebol feminino no Brasil terá ocorrido em 1921, entre senhoritas dos bairros Tremembé e Cantareira, na zona norte de São Paulo.
Contudo, o preconceito era ainda muito grande e o futebol era visto, machistamente, como um desporto bruto e impróprio para mulheres. Isto levou a criação de um decreto-lei do Estado Novo1 proibindo a “prática de desportos incompatíveis com a natureza feminina”. Essa lei durou até 1979 e, além do futebol (e futsal), impedia também que as mulheres praticassem outras modalidades como luta ou polo.
Após a lei ser revogada, várias equipes e ligas foram sendo criadas pelo Brasil, dentre elas o Radar, que a partir de 1982 conquistou diversos títulos (inter)nacionais. A primeira seleção brasileira de futebol feminino foi convocada pela CBF em 1988, ao participar e vencer o “Women’s Cup of Spain” contra seleção de Espanha e também a de Portugal.
O Campeonato Brasileiro
A primeira competição disputada entre equipas femininas foi Taça Brasil, prova amadora que também levou os nomes de Troféu Brasil de Clubes, Torneio Nacional, Torneio de Futebol Feminino e Campeonato Nacional de Futebol Feminino. Das 21 edições disputadas, o Radar foi o maior campeão, com 6 conquistas. A prova durou entre 1983 a 2007, quando foi substituída pela Copa do Brasil de Futebol Feminino.
Realizada anualmente de 2007 a 2016, a Copa do Brasil foi o primeiro torneio de futebol oficial organizado pela CBF para a modalidade feminina. Disputada em Mata-mata, a prova tem as equipas do Santos e do São José-SP como maiores campeãs, com duas conquistas cada, além de seis outras formações campeãs. A competição acabou por ser removida do calendário competitivo após a ampliação do Campeonato Brasileiro.
O Campeonato Brasileiro surgiu em 2013, reunindo as 20 melhores equipas do ranking da CBF. Contudo, em 2017, com a já referida ampliação, a prova passou de 20 a 16 participantes e passou a contar com uma segunda divisão — a Série A2 — e, em 2022, uma terceira — Série A3.
O Brasileirão Série A1 conta com as 16 equipas a disputarem o título em duas fases: na primeira fase os clubes jogam no modelo de pontos corridos, em volta única. Os oito primeiros classificam-se para os quartos de final, onde disputam eliminatórias até a final, e os quatro últimos são despromovidos a Série A2 do ano seguinte.
A Série A2 também conta com 16 equipas, mas que estão divididas em dois grupos de oito, com as quatro primeiras equipas de cada grupo a apurarem-se aos quartos e as duas últimas despromovidas a Série A3. Esta que, por sua vez, conta com 32 equipas a disputar o título num sistema eliminatório, dos 16 avos de final até a final, com as quatro semifinalistas a garantirem a promoção.
Maiores campeões do Brasileirão A1
Corinthians - 🏆🏆🏆🏆(4)
Ferroviária - 🏆🏆(2)
Santos, Flamengo, Centro Olímpico e Rio Preto - 🏆(1)
Um total de 50 clubes já participaram do Campeonato Brasileiro desde a sua primeira edição, em 2013, com o Avaí/Kindermann como única equipa a participar de todas as edições da prova. Seis equipas já conquistaram o Brasileirão, sendo elas o Santos, Flamengo, Centro Olímpico-SP, Rio Preto-SP, Ferroviária e o Corinthians, maior campeão da prova.
Brasileirão A1 2023
O Campeonato Brasileiro deste ano começou a 24 de fevereiro e a primeira fase encerra a 11 de junho. Haverá uma paragem entre 10 de julho e 20 de agosto, em função do Mundial 2023, de forma que a sua final está marcada para 17 de setembro.
As formações participantes são, por estado:
Com 13 jornadas já disputadas, o Corinthians lidera a competição com 31 dos 39 pontos possíveis (79% de aproveitamento). Ferroviária, Palmeiras, Flamengo e Santos seguem as líderes do campeonato e estão também apurados para os quartos, enquanto Internacional, Cruzeiro, Grêmio, São Paulo, Real Brasília e Avaí/Kindermann continuam as seis na disputa pelas três últimas vagas a duas jornadas do fim.
O Ceará, que perdeu todos os 13 jogos e leva apenas cinco golos marcados contra 71 sofridos (média de 5 por jogo), encontra-se já despromovido. Compõem também a momentânea zona de despromoção as equipas do Real Ariquemes, Athletico-PR e Atlético-MG, apesar de terem ainda hipóteses de manutenção.
Destaque para as equipas do Real Brasília e do Avaí/Kindermann, 10.º e 11.º da tabela, que chegam às duas jornadas finais com possibilidades quer de apuramento aos quartos de final (estão a três pontos do oitavo colocado), quer de despromoção (estando a quatro pontos do 13.º, Atlético-MG). Esta situação reflete bem o alto nível de competitividade da prova, visto que apenas seis das 16 equipas têm o seu futuro definido, havendo ainda muito futebol para ser jogado e decidido.
O Brasileirão A1 2023 é resultado de muita luta ao longo destes mais de 100 anos, desde que o futebol surgiu no Brasil, e conta com as melhores equipas do país e, consequentemente, grandes atletas do futebol nacional — na última convocatória da seleção, 13 das 26 convocadas atuavam no Brasil —, sendo uma prova importantíssima.
O futebol feminino, contudo, segue sem ser devidamente valorizado. Seguimos na luta por uma sociedade e um futebol igualitário, sem distinção de género, racial ou de qualquer tipo.
Lucas Lemos
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