Cavadinha Mundial: “Dez”pedida
Com o empate frente à Jamaica, o Brasil está eliminado do Mundial 2023. Foi a despedida de Marta, lendária “10” da Canarinho, em Campeonatos do Mundo.
Como diria o Guardiola: TWICE! Sim, senhoras e senhores, mais um Cavadinha a sair esta semana, e se há Cavadinha é porque há assunto! Hoje, infelizmente para os brasileiros ou adeptos da Seleção, com o texto que ninguém queria ver — pelo menos não tão cedo: o Brasil foi eliminado do Mundial 2023 ainda na fase de grupos.
Após uma grande estreia frente ao Panamá, mas também uma derrota frente às francesas na segunda jornada, o Brasil chegou nesta quarta-feira (2/8) a precisar vencer o confronto direto com a Jamaica por uma vaga nos oitavos. O empate dava o apuramento às jamaicanas, com a vitória a ser a única opção possível.
O Jogo
Assim, a Seleção foi a jogo com o seu clássico 4-4-2: Letícia Izidoro (GR); Antónia (DD) e Tamires (DE); Rafaelle e Kathellen (DC); Luana e Kerolin (MC); Adriana e Ary Borges (MO); Debinha e Marta (AV). As novidades foram a entrada de Kathellen para o lugar de Lauren e também a titularidade de Marta, que levou os adeptos ao êxtase.

Jamaica: Spencer (GR); Wiltshire (DD), Blackwood (DE), A. Swaby e C. Swaby (DC); Sampson (MD), Spence e Primus (MC); Brown e Williams (MO); Shaw (AC).
Formação: (4-1-4-1); Treinador: Lorne Donaldson
O ambiente antes e durante o jogo estava incrível. Os quase 28 mil adeptos que estiveram presentes no Melbourne Rectangular Stadium não foram intimidados pelo frio do inverno australiano. Bancadas cheias, ovação à Marta, hino continuado em coro após o fim da música, bandeirões e uma claque que apoiou bastante as equipas marcaram um verdadeiro jogo de futebol.
Quem constata o jogo através das estatísticas pensa que o Brasil dominou totalmente a Jamaica e que o resultado foi injusto. Estamos a falar de 18 remates do Brasil, oito enquadrados, contra três jamaicanos, nenhum na direção da baliza, além de 73% da posse de bola para a Seleção Canarinho. Contudo, na prática, a situação não foi propriamente assim.
O Brasil dominou o encontro, de facto, mas faltou na hora de concluir as jogadas. Com o empate a favorecer as adversárias, o Brasil precisava controlar o jogo (além de que era, desde o princípio, o favorito do duelo), sendo natural que tenha controlado a posse. Tal comando, porém, traduzia-se em alta liberdade até a entrada da área jamaicana, mas imensas dificuldades em superar a defesa adversária no último terço, setor no qual houve maior número de erros por parte das brasileiras. A Jamaica executava perfeitamente a sua proposta defensiva de jogo, de forma que, mesmo quando o Brasil conseguia superar a defesa, os remates eram altamente dificultados, desviados ou até mesmo bloqueados, sendo rara as vezes em que a guarda-redes da Jamaica, Spencer, teve grandes dificuldades.
Com o passar dos minutos e conseguinte aumento da pressão, a Seleção começou a falhar demasiado a troca de passes, permitindo à Jamaica criar gosto do jogo e incomodar a defesa verde-amarela, apesar da seleção caribenha ter chegado ao intervalo sem qualquer remate efetuado. Mérito para a defesa do Brasil (sobretudo a central Rafaelle) que, apesar da ineficácia da equipa no ataque, teve uma atuação seguríssima e permitiu às brasileiras sonhar até ao último minuto.
Na segunda parte, o Brasil continuou a viver um drama. Bia Zaneratto até entrou no lugar de Ary Borges, mas o que aconteceu foi que, em vez de aumentar a capacidade ofensiva da seleção, sem a Ary o Brasil passou a ter mais dificuldades para construir o jogo até chegar ao ataque. Os erros de passe e finalização no último terço, ainda mais diante de uma sólida defesa jamaicana, levaram a seleção brasileira a mal ameaçar Spencer.
O cenário estava desenhado e tornou-se real: o Brasil não conseguiu sair do 0-0 com a seleção da Jamaica, sendo eliminado do Mundial ainda na fase de grupos. É a terceira vez na história da seleção brasileira que tal acontece, com 2023 a juntar-se a 1991 e 1995. A eliminação precoce é também o pior desempenho da treinadora Pia Sundhage em Campeonatos do Mundo. Em 2011, com os Estados Unidos, a sueca foi vice-campeã para o Japão, e em 2019, à frente da Suécia, Pia levou a equipa do seu país às oitavas de final, perdendo para a Alemanha.
Resultado: Jamaica 0-0 Brasil.
Destaque positivo: Defesas. Quer da Jamaica, quer do Brasil, o que se viu em Melbourne foram exibições de gala por parte das defensoras, não sendo à-toa que o jogo terminou num empate sem golos.
Destaque negativo: Construção ofensiva do Brasil. Num jogo em que era favorita e precisava da vitória, a equipa brasileira ficou muito aquém. Entre os erros no último passe e as finalizações imprecisas, parece ter faltado personalidade ao Brasil, que não conseguiu traduzir o domínio do jogo numa vantagem. Mérito, também, para a Jamaica.
Obrigado, Marta
Aos 37 anos, Marta chegou à Oceânia para fazer a sua sexta participação em Mundiais. Com 17 golos, ela é a maior marcadora da história do torneio entre as mulheres e também os homens.
Assim, com o empate sem golos em Melbourne e com a eliminação ainda na fase de grupos, a craque, seis vezes eleita a Melhor Futebolista do Mundo, fez, contra a Jamaica, o seu último jogo na história do torneio.
Em entrevista pós-jogo, Marta não escondeu a desilusão que estava a sentir:
— É difícil falar. Não era, nos meus piores pesadelos, a Copa que sonhava.
Contudo, reforça a sua crença no desenvolvimento da Seleção Brasileira e também do futebol feminino, fazendo agora a “passagem de bastão”.
— É só o começo. Povo brasileiro pedia renovação, está tendo a renovação. […] A maioria do time é de meninas talentosas com caminho enorme pela frente. Termino aqui, mas elas continuam.
— Quero que o Brasil siga com o mesmo entusiasmo, apoiando. Resultado não acontece de um dia para o outro. Isso mostra que o futebol feminino dá lucro, é produto.
Por fim, disse o que ninguém queria ouvir:
— A Marta acaba por aqui, estou muito grata pela oportunidade que tive e estou muito contente com o que está acontecendo. Para elas é só o começo, para mim é o fim da linha.
Marta Vieira da Silva. Melhor futebolista do mundo por seis vezes, cinco consecutivas. A maior marcadora da história da Seleção Brasileira (contando a masculina e a feminina), com 116 golos. A pessoa com o maior número de golos em Mundiais e a primeira pessoa a marcar em cinco edições seguidas. Mais de 27 títulos conquistados na carreira. A maior da história do desporto.
Marta Vieira da Silva, a referência das futuras gerações.
Marta Vieira da Silva, a Rainha do Futebol.
Obrigado, Marta.
Lucas Lemos
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