Divulgação das comunicações dos árbitros, sim, mas só passado 1 mês...
A tentativa de um aumento da transparência da arbitragem para tornar o Futebol mais “interativo”
Quando entrei para este projeto, decidi escrever, como primeiro texto, sobre um assunto menos falado e talvez um pouco mais polémico, dentro do tema da arbitragem, intitulado “O Bode-Expiatório do Futebol”. Um tópico que é pouco falado, especialmente se visto do ponto de vista dos árbitros.
Desta vez, o tema é outro.
“José Fontelas Gomes, presidente do Conselho de Arbitragem (CA) da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), recebeu”, esta quinta-feira, “a comunicação social na Cidade do Futebol, em Oeiras, tendo os jornalistas assistido ao treino dos árbitros e, também, como se desenrola a comunicação entre os homens do apito e a cabine do VAR.”
O objetivo era explicar quais eram as principais propostas que o CA tinha para esta nova época e de que forma é que pensava implementá-las.
Como sabemos, variadíssimas vezes, quando vemos um árbitro a tomar uma decisão que não favorece o clube que apoiamos, a nossa tendência é insultá-lo e sem sequer perceber o porquê, aquela palavra mais feia sai em modo automático.
Por isso, a finalidade da nova proposta do CA é “tentar fazer com que as pessoas compreendam as decisões dos árbitros e de que forma eles as tomam.” “Espero que as pessoas utilizem isto de forma mais pedagógica, esse é o nosso principal objetivo. Mas o que queremos é que entendam a arbitragem. Entendam que os árbitros cometem erros, toda a vida vão cometer enquanto forem seres humanos, em Portugal ou qualquer país do Mundo. É isso que queremos que se perceba.”
O objetivo é tentar trazer mais transparência ao futebol e de certo modo, torná-lo mais “interativo”, por assim dizer, onde o adepto pode passar a perceber o porquê da tal decisão do árbitro naquele jogo há um mês… Isto porque só passado um mês é que o CA vai divulgar quaisquer comunicações entre árbitros. “A verdade é que ainda não conseguimos fazer como faz a FIFA, apesar do pedido que fizemos assim que houve essa oportunidade por parte do IFAB (International Football Association Board). Mas neste momento o IFAB só deu autorização à FIFA para poder fazer em tempo real. Nós na altura fizemos logo esse pedido e não nos foi concedido. Penso que fomos a primeira federação a fazer esse pedido. Enquanto não chegarmos a esse patamar, que é muito interessante para o entendimento do público sobre a decisão tomada em tempo real, vamos fazer este patamar intermédio.”
Apesar do pedido formalizado, por enquanto, a situação ficou no conhecido “nada feito”. Mas o que se quer fazer passar por mais abertura, transparência e solidariedade para com os árbitros, pode acabar por trazer mais ruído ao futebol, especialmente no que toca a comunicação social. Por exemplo, se num Dérbi tiver ficado por marcar uma grande penalidade, ou se a decisão de a ter assinalado tiver sido mal definida, todo o “burburinho” e o “bruá bruá” que estamos habituados a ouvir, no dia seguinte, por parte da comunicação social, vai voltar e com força, assim que as comunicações entre os árbitros forem divulgadas. Não há de ser exatamente isso que o CA quer com estas propostas, provavelmente não, mas o que é certo é que o “feitiço pode virar-se facilmente contra o feiticeiro”.
Uma vez correndo bem esta experiência, pode-se passar para a próxima fase. Ainda não em direto, como tanto se gostaria de ouvir, mas assim que saírem os castigos, há a possibilidade de o público poder ter acesso às comunicações, gravadas, dos árbitros em cada jogo. “Os erros vão acontecer e vamos mostrá-los. As comunicações que vamos tornar públicas podem ser erros, mas, obviamente, serão muito mais decisões acertadas do que erros. Se correr bem, pode ser que as pessoas entendam qual é o nosso objetivo, porque a verdade é que a arbitragem não tem rigorosamente nada a esconder”.
A promessa que foi feita passou pelo reforço destas iniciativas ao longo dos próximos anos, “Vamos ter mais ações deste género, o facto de vos (comunicação social) trazer aqui também é para isso”. Sempre com a salvaguarda de que uma vez estas ideias corram como previsto (neste caso, bem), podemos esperar cada vez mais transparência por parte dos árbitros no Futebol, tal como acontece noutras modalidades.
Para fechar, José Fontelas Gomes falou exatamente do que estas gerações mais novas que vêm chegando ao Futebol, precisam de ouvir, e pediu auxílio aos órgãos de comunicação social para conduzissem a população a atuar em conformidade. “Que nos ajudem e colaborem connosco a divulgar este treino que fazemos, para as pessoas não pensarem que é só o árbitro chegar ao fim de semana com um saco e apitar um jogo de futebol. Já não é assim. Eles trabalham quatro dias por semana, observam jogos de Portugal e não só, exatamente para tomar decisões, tentamos que as decisões sejam tomadas de uma forma mais rápida, em apenas um minuto têm de tomar uma decisão, isso faz tudo parte do treino. É apenas um pequeno exemplo. Os árbitros trabalham, tal como trabalham as equipas, para não errar ao fim de semana.”
E tal como já tinha referido no meu primeiro texto, volto a assinalá-lo. Tem de existir, pelo menos, uma tentativa de humanizar o papel do árbitro e mostrar aos “consumidores de futebol”, que boas e más decisões nada têm que ver com atuações deliberadas ou estratégicas. A maioria das pessoas não quer aprender as leis, ou sequer compreender a visão de quem decide, apenas saber se a opinião do “especialista” valida a sua. Tem que estar mais presente no Futebol a ideia de que o árbitro “também é gente”, de que trabalha como qualquer outro atleta e de que merece o respeito e a compreensão que lhes são devidos.
“Há que humanizar mais a figura do árbitro para que as pessoas entendam mais o que é esta profissão.” José Fontelas Gomes
Afonso de Oliveira e Silva
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Os Panenka: Liga BPI, Mundial e Agenciamento c/ Raquel Sampaio.
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