Sem um templo, não se cultuam os deuses
O futebol é uma paixão como nenhuma outra. Dentre os Deuses, Heróis e Milagres que marcaram (e marcam) a sua história, não se pode deixar de dar atenção a alguns dos maiores estádios de sempre.
Religião (re.li.gi.ão) (ʀəliˈʒjɐ̃w̃)
nome feminino
1.crença na existência superior de um poder sobre-humano, do qual o crente se considera dependente
2.conjunto de preceitos, práticas e rituais pelos quais se manifesta essa crença
3.culto prestado à divindade
4.cada uma das diferentes doutrinas humanas que propõem uma explicação para a origem, ordenação e destino do universo
5.reverência ou respeito às coisas sagradas
6.figurado devoção, grande dedicação
7.figurado crença
(infopedia.pt)
Quando pensamos em religião, é normal pensarmos logo em algumas das mais difundidas mundialmente, como o Budismo, o Cristianismo, o Hinduísmo ou o Islamismo, por exemplo. Contudo, quando olhamos para certos aspetos do que é a definição de religião, vemos que o Futebol não apresenta aspetos muito diferentes.
Quem nunca implorou aos “Deuses do Futebol” que a sua equipa desse a volta ao resultado daquele jogo importante? Logo, pontos 1. Quem é que não possui uma série de superstições e crenças que precisamos de praticar para dar sorte ao nosso emblema? Logo, ponto 2. Quem é que nunca decidiu assistir a um jogo ou acompanhar uma equipa apenas por causa daquele jogador ou treinador que adoramos e idolatramos? E lá se vai o ponto 3. Por fim, ao acompanhar futebol, quem é que nunca admirou uma personalidade ou um clube histórico com tamanho respeito como se estes fossem sagrados? Como merecedores da nossa fé e dedicação? Logo, fechamos também os pontos 5, 6 e 7.
O futebol, mais do que as outras modalidades todas, tornou-se um verdadeiro desporto de massas. Nenhuma modalidade do Mundo move tantos milhões de pessoas sobre uma mesma paixão como o balompié. E são justamente essas massas, esses adeptos, que seguem o futebol incessantemente, que vão mistificar o futebol.
São esses que, por puro e espontâneo amor, dedicam-se voluntariamente para impulsionar as suas equipas ao máximo. Expõem as suas opiniões acerca da administração do clube, acerca do treinador, expõem opiniões táticas consoante o plantel que têm, e, como se não bastasse, ainda gastam do seu dinheiro para ir aos estádios entregar toda a sua energia e a sua voz para os seus atletas, exercendo um papel fulcral para o espetáculo acontecer.
Os adeptos geram a mística do futebol. São os fãs que, com a sua paixão quase sem fim, fazem desta modalidade uma Religião. Transformam simples atletas e treinadores em divindades e os estádios passam a ser autênticos templos da sua fé, locais sagrados onde os seus heróis proferem os mais incríveis dos milagres.
Assim, o texto de hoje será sobre alguns dos maiores Estádios Templos da história do Futebol:
Anfield — Liverpool, Inglaterra
Inauguração: 28 de setembro de 1884
Capacidade: 53.394


O Anfield é o estádio do Liverpool FC, uma das maiores equipas de Inglaterra e do Mundo. Apesar de ser relativamente pequeno para os padrões atuais, sobretudo para uma equipa deste tamanho, o estádio leva o nome da região que o rodeia e tornou-se um ícone do futebol mundial graças à inigualável atmosfera que possui. Sob os lendários cânticos de “You’ll Never Walk Alone”, Anfield respira e transpira a paixão dos seus adeptos e, de forma geral, faz parte da essência do que é o Liverpool Football Club.
Jogo a recordar: Liverpool 4-0 FC Barcelona (ag. 4-3); Meia-Final da UEFA Champions League 2018/19.
Curiosidade: Anfield tenha um fator que talvez poucos ou até mesmo nenhum outro estádio do mundo tenha — relação com a fundação do clube, e não o contrário. O estádio foi fundado em 1884, oito anos antes da fundação do Liverpool. Anfield era, originariamente, utilizado pelo Everton — maior rival dos ‘Reds’. Contudo, após divergências entre os proprietários do clube e do estádio, o ‘Toffees’ migraram para Goodison Park. Sem clube, os proprietários de Anfield decidiram, então, fundar uma nova equipa, o Liverpool, e o resto é história.
Camp Nou — Barcelona, Espanha
Inauguração: 24 de setembro de 1957
Capacidade: 99.354


Casa do FC Barcelona, Camp Nou (Campo Novo, em tradução livre) foi palco de diversas etapas da história do clube. Sendo o maior estádio da Europa e um dos maiores estádios do Mundo, com quase 100 mil espetadores, o estádio tornou-se a casa de grandes ícones do futebol Mundial, como Johan Cruyff e Lionel Messi, tornando-se numa verdadeira fortaleza da representação da grandeza do clube — e não só.
Jogo a recordar: “La Remontada”; FC Barcelona 6-1 Paris SG (ag. 6-5); Oitavos de Final da UEFA Champions League 2016/17.
Curiosidade: A complementar o que foi dito no final da introdução — e não só. O Camp Nou tornou-se também, com o passar dos anos, um símbolo também da Catalunha e do Povo Catalão. Durante a ditadura do Franquista, por exemplo, período em que o dialeto da região era proibido, Camp Nou foi palco de manifestações catalãs de cunho separatista.
Estadio Azteca — Cidade do México, México
Inauguração: 29 de maio de 1966
Capacidade: 87.000


Utilizado pelo Club América, o Azteca é um símbolo do futebol Mundial. Com o seu aspeto “clássico” e com quase 90 mil espetadores de capacidade, remete aos “anos de ouro do futebol”, sensação impulsionada pelo facto de ter sediado duas edições de Campeonatos do Mundo (1970 e 1986).
Jogo Histórico: “La Mano de Díos”; Argentina 2-1 Inglaterra. Quartos de final do Mundial de 1986.
Curiosidade: Apesar de ter perdido um pouco da sua relevância no cenário atual do futebol, o Azteca foi o primeiro estádio a receber duas finais de Campeonatos do Mundo, Brasil 4-1 Itália (1970) e Argentina 3-2 Alemanha Ocidental (1986), tendo também o marco de ter celebrado Pelé e Maradona — dois dos maiores futebolistas de sempre — como campeões do Mundo.
La Bombonera — Buenos Aires, Argentina
Inauguração: 25 de maio de 1940
Capacidade: 54.000


Com bancadas extremamente próximas ao relvado, uma capacidade de mais de 50 mil adeptos e uma atmosfera única proporcionada pelos enérgicos adeptos do Boca Juniors, o Estádio Alberto J. Armando tornou-se num templo do futebol sul-Americano e Mundial. Com uma estrutura até, em certa parte, polémica, La Bombonera pulsa (literalmente) com os seus adeptos e consegue intimidar qualquer adversário, proporcionando uma experiência futebolística sem igual.
Jogo a recordar: Boca Juniors 2-1 San Lorenzo. Amigável, 1940. Partida Inaugural do Estádio e, até então, maior público de sempre — 57.395 pessoas.
Curiosidade: O estádio é conhecido por La Bombonera devido ao seu formato retangular e à proximidade ao relvado (que ainda leva as medidas mínimas exigidas pela FIFA, 105×68 metros), remetendo a uma bomboneira, isto é, uma caixa de bombons.
Maracanã — Rio de Janeiro, Brasil
Inauguração: 16 de junho de 1950
Capacidade: 78. 838


Inaugurado em 1950, inicialmente com o nome de Estádio Municipal, o Estádio Jornalista Mário Filho tinha a capacidade oficial de 155 mil lugares, tornando-se o maior estádio do mundo na época. Com a sua imponência, o estádio sediou o Campeonato do Mundo de 1950 (incluindo a grande final) logo no seu ano de inauguração, começando a assumir o papel de gigante templo do futebol e de símbolo nacional. Com o passar dos anos, o Maracanã — nome que veio em homenagem ao rio que leva o mesmo nome — confirmou-se como um dos maiores (se não o maior) estádios da história do desporto, tendo recebido múltiplos jogos históricos das mais diversas competições e eventos (até mesmo fora do desporto, como o Rock in Rio).
Jogo a recordar: “Maracanazo”; Uruguai 2-1 Brasil, Final do Mundial de 1950.
Curiosidade: Para além de ter sediado duas finais de Mundiais (como o Estadio Azteca), o Maracanã é o único estádio a ter recebido finais de Campeonatos do Mundo (1950 e 2014) e também de Jogos Olímpicos (2016). Foi também palco do milésimo golo da carreira de Pelé.
Vila Belmiro — Santos, Brasil
Inauguração: 12 de outubro de 1916
Capacidade: 20.360


Sendo um dos estádios mais antigos do Brasil, o Estádio Urbano Caldeira pertence ao Santos Futebol Clube e é o mais fiel retrato do que é um templo onde se cultuam os Deuses do Futebol. Mesmo tendo uma singela capacidade de 20 mil pessoas, a Vila Belmiro — nome pelo qual é chamado, em virtude do bairro em que se localiza — fez e segue a fazer parte da história gigantesca do Santos. Como se não bastassem os diversos títulos que ajudou o Santos conquistar, a Vila viu também nascer vários craques do Futebol mundial, como Zito, Clodoaldo, Neymar e, sobretudo, o “rei” Pelé. Sendo a casa do “Rei”, o estádio passou a ser o “Reino do Futebol”, e ir à Vila Belmiro tornou-se, então — geração após geração —, sinónimo de encontrar craques. E a produção de jovens entusiasmantes segue até hoje, com Rodrygo e Marcos Leonardo como revelações mais recentes.
Jogo a recordar: Despedida de Pelé; Santos 2-0 Ponte Preta. Campeonato Paulista de 1974.
Curiosidade: A Vila Belmiro também foi o local onde aconteceu o primeiro jogo de futebol transmitido televisivamente do Brasil. O jogo em causa foi Santos 3-1 Palmeiras — válido pelo Campeonato Paulista —, em setembro de 1955.
San Siro — Milão, Itália
Inauguração: 19 de setembro de 1926
Capacidade: 81.277


Utilizado pelos dois grandes rivais de Milão — AC Milan e Internazionale — o estádio era o maior da Europa aquando da sua fundação, com capacidade para 140 mil pessoas, mas o número foi gradativamente reduzido por questões de segurança. Sendo palco de duas das maiores equipas de Itália e do Mundo, San Siro fez parte das principais glórias de ambos os clubes, que partilham o templo italiano desde a década de 1940. Tendo sediado quatro finais de UEFA Champions League e jogos de duas edições de Campeonatos do Mundo, San Siro tornou-se um património não só do futebol italiano e mundial, mas também da própria cidade de Milão.
Jogo a recordar: Internazionale 1-0 Benfica. Final da Taça dos Campeões 1964/65.
Curiosidade: Apesar de ser conhecido por San Siro — nome do bairro em que está localizado —, o nome oficial do estádio deixou de ser Comunale de San Siro na década de 80, passando a chamar-se Giuseppe Meazza, homenageando o craque que representou as camisolas quer do Internazionale, quer do Milan. Há rumores de que San Siro é o nome utilizado pelo AC Milan e Giuseppe Meazza pelo Inter, mas a verdade é que ambos os nomes podem ser utilizados.
Santiago Bernabéu — Madrid, Espanha
Inauguração: 14 de dezembro de 1947
Capacidade: 81.084 torcedores


Sendo a casa do Real Madrid, clube mais vitorioso do futebol mundial, era de se imaginar que o Estádio Santiago Bernabéu fosse um dos maiores estádios de sempre. Palco de inúmeras conquistas madridistas, o Bernabéu recebeu também importantes jogos de Campeonatos da Europa (1964) e do Mundo (1982), incluindo as grandes finais de ambos os eventos, além de quatro finais de UEFA Champions League. Como se as conquistas e os eventos não bastassem, o Bernabéu também foi casa de inúmeras equipas e craques sem igual, entre eles Alfredo Di Stéfano, Ferenc Puskás, Raúl González, Zinédine Zidane e, mais recentemente, Cristiano Ronaldo.
Jogo a recordar: Real Madrid 3-1 Os Belenenses; Amigável, 1947. Inauguração do Estádio Santiago Bernabéu.
Curiosidade: O Santiago Bernabéu é o único estádio do mundo a ter sediado uma final de Liga dos Campeões e de Copa Libertadores. A grande final da Libertadores de 2018, entre Boca Juniors e River Plate, foi disputada no Bernabéu após polêmicas e confusões que impossibilitaram o jogo de ocorrer em Buenos Aires.
Wembley Stadium — Londres, Inglaterra
Inauguração: 28 de abril de 1923
Capacidade: 90.000


Sendo um dosmaiores estádios do Mundo, o Wembley é o principal estádio da Inglaterra. Tendo uma final de Campeonato do Mundo (1966, com a Inglaterra a ser campeã mundial em casa) e também de Liga dos Campeões (2011) no currículo, o Wembley é um património do futebol inglês. Apesar de não ser utilizado por nenhuma equipa exclusivamente, a maioria dos jogos decisivos do futebol jogado em Inglaterra são disputados anualmente em Wembley, tais como a final da Taça da Liga Inglesa, as meias finais e final da Taça de Inglaterra e também os duelos decisivos da segunda divisão inglesa.
Jogo a recordar: Inglaterra 4-2 Alemanha Ocidental. Final do Mundial de 1966.
Curiosidade: Inaugurado em 1923, o estádio passou por remodelações, nas quais foi demolido por completo e reinaugurado em 2007. Apesar do estádio contnuar a ser o mais importante do futebol inglês, alguns adeptos não gostaram de ver o seu mítico templo a ser destruído totalmente, no que poderia ser interpretado como uma falta de respeito à história que o estádio tem.
Como podemos ver, os Estádios são muito mais do que apenas estruturas onde se joga futebol. Quer seja no Brasil, em Inglaterra, Itália, Espanha ou no México, os estádios são casas, são fortalezas, são símbolos — são templos desta religião que se tornou o Futebol.
Lucas Lemos
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